Pronto-socorro nem sempre é a melhor opção às crianças
Diarreia? Cólica? E agora, será que a solução é levar ao pronto-socorro? Na dúvida, muitos pais levam os filhos ao hospital sem antes avaliar se a conduta é realmente necessária. E essa atitude faz com que as salas de espera das emergências permaneçam sempre lotadas, algumas com filas de até seis horas.
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O pediatra e neonatologista Norberto Freddi, responsável pela UTI pediátrica do Hospital Santa Catarina, afirma que as esperas costumam ser longas, principalmente entre os meses de março e junho, quando um maior número de crianças adoece por doenças virais e respiratórias.
“A espera prolongada junto de outras crianças traz risco de contrair doenças.”
Segundo o neonatologista, para decidir se os filhos devem ou não ir ao pronto-socorro – exceto em casos urgentes como convulsões, por exemplo -, os pais devem primeiro entrar em contato com o pediatra que os acompanha para fazer uma avaliação inicial do quadro.
“Se o pediatra identificar algo, a criança poderá até ser encaminhada ao hospital para a realização de exames.”
Contudo, muitos pais se queixam da dificuldade de agendar consultas ou até mesmo de entrar em contato com o especialista por telefone. Acontece também de algumas situações ocorrerem fora do horário de funcionamento dos consultórios médicos.
“Eu diria que se todos os pediatras atendessem a ligações e respondessem mensagens iria diminuir em até 90% as idas ao pronto-socorro”, afirma Mariana Nudelman, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein.
Caso o contato com o pediatra da criança não seja possível, é preciso saber quais são os casos que demandam uma visita imediata ao hospital.
Freddi diz que, quanto menor a criança, maior é o risco frente a algumas situações. “Febre, hipotermia e interrupção da alimentação são sinais de que o bebê deve passar por avaliação pediátrica.”
Acidentes, convulsões, quedas, alergias, intoxicações, queimaduras, engasgos, corpos estranhos no nariz, ouvido, boca, ânus ou vagina, sangramento nas fezes ou no vômito, febre que não cede com remédios, desidratação, dificuldades respiratórias graves e choro constante são alguns dos casos que merecem atendimento mais urgente, de acordo com a pediatra do Einstein.
Precaução
Alguns dos casos citados, como os engasgos, podem ser evitados com um pouco mais de precaução no dia a dia.
Os pais e cuidadores devem evitar dar balas duras, alimentos em pedaços grandes para crianças pequenas, ossos e também prestar atenção ao tamanho dos brinquedos que são oferecidos a elas, a fim de evitar sufocamentos com peças menores.
Segundo relatório publicado pelo Center for Injury Research and Policy do Hospital Infantil Nationwide, nos Estados Unidos, cerca de 34 crianças passam pelas salas de emergência dos hospitais do país todos os dias sofrendo de engasgos provocados por alimentos.
A pesquisa aponta que balas duras foram a principal causa de engasgo entre crianças, com 15,5% dos casos. O segundo lugar ficou com outros doces (12,8%). Carnes vieram em seguida, com 12,2%, e ossos (12%) logo depois.
O diretor do centro de pesquisas, Gary Smith, propôs como estratégia para reduzir esses números alarmantes a melhoria na rotulagem dos alimentos e também dos brinquedos, que deveriam alertar os pais sobre os riscos de asfixia, além de campanhas de educação e redesenho de alguns alimentos.
O envenenamento também costuma levar muitas crianças para o pronto-socorro, mas boa parte dos “venenos” ingeridos acidentalmente está dentro do ambiente doméstico, onde a maior parte dos incidentes acontece. São produtos de limpeza, cosméticos e medicamentos os principais responsáveis pelas intoxicações.
Aproximadamente 26 mil crianças são vítimas de envenenamento no Brasil todos os anos, segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Dessas, cerca de 1.200 vão parar no hospital e 75 morrem.
De acordo com Norberto Freddi, é preciso adaptar a casa e vigiar as crianças para evitar que esses acidentes aconteçam.
“Embora a gente alerte que os remédios e os produtos de higiene e limpeza devam ficar inacessíveis às crianças maiores, que já têm uma mobilidade mais avançada do que as crianças pequenas, esses casos ainda são recorrentes nos hospitais.”
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo