O poder financeiro e o avanço do câncer
Um estudo veiculado recentemente nos Estados Unidos deu uma boa notícia: novas técnicas de rastreio e detecção de câncer, combinadas com a diminuição dos fatores de risco como tabagismo, têm reduzido as taxas de incidência e mortalidade em vários tipos comuns da doença em diversos países de alta renda. Só que o estudo deu também uma péssima notícia: muitos países de baixa e média renda têm visto as taxas de câncer aumentar – em parte, devido ao crescimento nos fatores de risco típicos de países ocidentais, como má alimentação.
O estudo foi publicado no “Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention”, um jornal da Associação Americana para Pesquisa do Câncer. Em todo o mundo, um número estimado de 14,1 milhões de novos casos de câncer e 8,2 milhões de mortes por câncer ocorre todos os anos.
O câncer é uma das principais causas de morte no mundo em países de todos os níveis de renda – e o número de casos e mortes deve crescer rapidamente à medida que as populações aumentam, envelhecem e adotam comportamentos e estilo de vida que contribuem para o risco de câncer, avalia o estudo.
A equipe de pesquisa analisou o banco de dados dos anos de 2003 a 2007, da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer, que inclui dados nos cinco continentes, e teve ainda colaboração entre a agência e a Associação Internacional dos Registos de Câncer – com avaliação de mortalidade até 2012 pela base de dados da Organização Mundial da Saúde.
Os dados do estudo refletem a situação em 50 países selecionados para representar diferentes regiões do mundo.
Os autores observaram evolução e queda de ocorrências em oito principais tipos de câncer (mama, próstata, colo-retal, pulmão, esôfago, estômago, fígado e colo do útero), que respondem por 60% do total de casos e mortes globais.
A conclusão é que o estudo dá pistas importantes sobre a epidemiologia da doença – sua propagação, frequência, modo de propagação – e traz algumas ideias sobre o que os centros de pesquisa mundo afora podem investigar e onde devem investir mais para melhorar a saúde pública global.
A equipe médica disse, porém, que a limitação mais significativa do estudo foi a variação nos padrões de relatórios de um país para o outro (especialmente no caso dos países de menor renda). Por exemplo: algumas nações não obrigam que mortes sejam registradas (como de pessoas que falecem em casa), de modo que os dados de mortalidade podem não ser totalmente representativos.
Além disso, os dados em muitos desses países foram coletados apenas em centros urbanos, o que significa que a incidência de câncer e mortalidade na população de um país inteiro pode não ser precisa – e ainda mais grave para a avaliação do avanço da doença especialmente em nações onde dinheiro não chega e, portanto, não ajuda a resolver questões essenciais de saúde.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo