Papo de homem: quando a sexualidade encontra barreiras
Se os homens falassem de sexo tanto quanto pensam no assunto, os problemas que envolvem a sexualidade masculina logo deixariam de ser tabus. Por vergonha, medo ou insegurança, ainda há resistência em buscar ajuda médica para lidar com as questões que abalam a virilidade, como a ejaculação precoce e a impotência sexual, também conhecida como disfunção erétil.
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Mas não é raro que os homens tomem iniciativa quando encorajados pela parceira e em busca de maior satisfação na vida sexual. Convidamos o Dr. Celso Gromatzky, urologista do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, para tirar as principais dúvidas sobre esses temas, que causam frustração e sofrimento em homens de qualquer idade. A notícia é animadora: os tratamentos estão cada vez mais seguros e eficazes.
O fantasma da impotência
Não há motivo para constrangimento: todo homem saudável está sujeito a perder a ereção em algum momento – o que não leva, necessariamente, ao diagnóstico de impotência. A insatisfação com o desempenho sexual e com a qualidade da ereção são queixas frequentes nos consultórios.
“Problemas conjugais ou de ordem financeira, as exigências profissionais, preocupação com os filhos, fadiga, questões de doença na família, entre outros fatores, podem prejudicar a performance masculina, dificultando a ereção”, explica o urologista. “Se forem episódios ocasionais, não há porque se preocupar. A disfunção erétil caracteriza-se pela incapacidade recorrente de estabelecer e de manter a ereção durante a relação”, reforça.
Portanto, se o problema persistir, é melhor investigar. Uma pesquisa nacional publicada pela Sociedade Brasileira de Urologia*, em 2014, com 1.506 indivíduos entre 40 e 69 anos, revelou que 59% dos homens já tiveram problema de ereção, e, desses, 12% têm episódios recorrentes.
Segundo o especialista, a impotência dificilmente tem uma causa única. Além dos fatores de fundo emocional, a disfunção erétil pode estar relacionada a outras doenças, como diabetes, problemas cardiovasculares, lesões neurológicas e alterações hormonais. Em muitos casos, é o médico urologista quem descobre essas doenças, o que reforça a importância de buscar ajuda tão logo as falhas de ereção tornem-se constantes.
“Hoje sabemos que a impotência sexual é um indicador de problemas coronarianos. Quanto antes se fizer o diagnóstico, maiores serão as chances de evitar complicações futuras, como, por exemplo, o infarto do miocárdio”, ressalta Gromatzky.
Portadores de diabetes estão mais propensos à impotência, uma vez que as complicações vasculares, decorrentes da doença, comprometem o funcionamento das artérias, restringindo o fluxo de sangue no pênis e prejudicando o mecanismo da ereção. Da mesma forma, colesterol alto, hipertensão, abuso de álcool, tabagismo, obesidade são fatores de risco para a disfunção erétil.
Reveladas as causas da impotência, o tratamento será sempre individualizado. Se o problema for de origem psicológica, como ansiedade, alto nível de estresse ou nervosismo pelo medo de falhar, a ajuda terapêutica é essencial para entender o que está provocando o distúrbio.
Dependendo do diagnóstico, o urologista pode sugerir acompanhamento em conjunto com outros especialistas (cardiologista, médico vascular, endocrinologista) e ainda receitar medicamentos orais que intensificam o fluxo sanguíneo na região peniana – Sildenafila, conhecido como Viagra.
Embora muitos homens utilizem esse tipo de medicamento sem orientação médica, o urologista informa: “As drogas facilitadoras de ereção podem ser parte do tratamento, mas somente o profissional é capaz de investigar a causa do problema”, enfatiza. Ao fazer uso indiscriminado da “pílula azul”, o paciente perde a chance de descobrir e de tratar uma doença mais grave, relacionada à disfunção erétil.
Ejaculação precoce tem cura
Distúrbio de causas desconhecidas, a ejaculação precoce atinge entre 20% e 30% dos homens. Trata-se da incapacidade persistente de controlar o momento de ejacular, o que geralmente acontece ao menor estímulo, nos primeiros minutos do ato sexual – ou até mesmo antes da penetração. A doença pode causar sofrimento extremo, e, em quadros mais graves, o indivíduo passa a evitar a intimidade sexual. Embora não comprovada, uma das teorias mais aceitas é a neurobiológica.
O urologista explica de forma simples. “O cérebro humano tem um centro de prazer, uma área que deflagra o orgasmo. Na maior parte das pessoas, essa área funciona normalmente; para outras, esse centro é hipoativo, o que leva a uma dificuldade para se atingir o orgasmo. Os ejaculadores precoces possuem esse centro de prazer hiperativo, ou seja, chegam ao clímax com extrema rapidez.”
Não existe um período de tempo considerado ideal para ejacular, pois o que conta é a satisfação do casal durante o sexo. Mas quando o homem se sente incapaz de satisfazer a parceira, o constante sentimento de fracasso pode levar ao rompimento da relação.
Antes de procurar ajuda médica, é comum ele tentar práticas paliativas, como se masturbar antes do ato sexual, propor posições menos estimulantes, ou fazer uso de dois preservativos ao mesmo tempo, com o intuito de diminuir a sensibilidade no pênis. Além do acompanhamento terapêutico, o tratamento pode incluir antidepressivos da classe ISRS (inibidores seletivos de recaptação da serotonina).
“São medicamentos que aumentam a disponibilidade da serotonina como neurotransmissor cerebral”, diz Gromatzky. “A serotonina ajuda a modular a atividade no centro orgásmico, reduzindo a excitabilidade e retardando a ejaculação.”
Os antidepressivos podem acarretar efeitos colaterais indesejáveis, como a diminuição da libido. Quando isso acontece, o médico pode trocar a medicação ou ajustar a dosagem para aquela pessoa. Em geral, o paciente consegue diminuir a ansiedade e, aos poucos, encontra o próprio caminho para uma vida sexual prazerosa.
* Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo