Apenas 40% dos bebês brasileiros são alimentados exclusivamente com leite materno
Na Semana Mundial de Aleitamento Materno, que vai de 1º a 7 de agosto, o site Coração & Vida faz alerta sobre a importância da amamentação e seus benefícios. Hoje, segundo o Ministério da Saúde, somente cerca de 40% dos bebês brasileiros menores de seis meses são alimentados exclusivamente com leite materno.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), todas as crianças deveriam ser alimentadas exclusivamente com leite materno nos seis primeiros meses de vida e, como complemento, até pelo menos dois anos completos.
Isso porque este é o alimento mais indicado e que garante, além da nutrição, importantes anticorpos – que diminuem as chances de doenças no presente e futuro -, correto desenvolvimento dos músculos da face e fortalecimento do vínculo mãe e filho.
Estudos indicam ainda que aqueles que são amamentados tendem a ser mais inteligentes.
“As taxas de aleitamento materno hoje são muito melhores do que há 30 anos, ainda assim estamos muito aquém das recomendações oficiais. Apesar dos inúmeros benefícios, atualmente poucas mulheres amamentam de forma exclusiva até os seis meses e só 25% realizam a amamentação prolongada, até os dois anos”, destaca a presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, Elsa Giugliani.
Um estudo publicado em março de 2016 na revista inglesa especializada em temas médicos The Lancet aponta um aumento significativo nos últimos 40 anos no aleitamento materno brasileiro no que se refere ao tempo e à exclusividade.
Na década de 1980, por exemplo, a amamentação exclusiva era disponibilizada para apenas 2% das crianças brasileiras até seis meses de idade. Em 2008, o índice já alcançava 41%.
Sobre o tempo dedicado, em 2006, a média era de crianças sendo amamentadas até 14 meses de vida. Na década de 70, isso acontecia apenas por dois meses e meio.
“Os benefícios são acumulativos, ou seja, quanto mais se mama, maiores os ganhos, por isso a amamentação prolongada é importante”, explica Elsa.
Apesar dos avanços, há ainda muito a ser feito para que a amamentação seja feita por mais tempo e realizada por mais mulheres. Desde a mudança nas rotinas médicas nas maternidades, quebra de preconceitos, apoio para que as mães possam se dedicar de forma exclusiva aos cuidados com o recém-nascido nos primeiros meses e até mesmo liberdade para que possam oferecer o peito aos filhos em lugares públicos.
Outro impedimento é a crença de que amamentar é algo fisiológico e que não requer uma preparação prévia.
A preocupação com o tema tem levado muitas mulheres a buscarem ajuda de uma especialista em aleitamento materno, profissão recente que tem por objetivo apoiar e ajudar na amamentação.
“Normalmente, sou chamada às pressas por mães de primeira viagem que imaginavam que seria uma tarefa fácil amamentar. Quando voltam para casa, deparam-se com os primeiros problemas, como pegada incorreta do bico, palpites que a desestimulam, como dizer que o leite é fraco e o recém-nascido está passando fome”, reforça a consultora em aleitamento materno Thaís Gonzaga de Oliveira.
Muitas vezes, quando Thaís chega para auxiliar, as mães já introduziram a mamadeira e estão com os seios machucados.
Para isso, a profissional recomenda que seja feito pelo menos um encontro com a mulher ainda grávida, nas últimas semanas da gestação.
“Na conversa, exponho as principais dificuldades, como contorná-las, quebrar mitos e reforçar os benefícios. Claro que a mãe não lembrará muito dessa conversa quando o bebê nascer, mas estará mais preparada e confiante, o que ajuda muito no sucesso da amamentação”, destaca.
Ao sentir qualquer dificuldade ou enfrentar problemas decorrentes da amamentação, como seios machucados, as mães devem procurar orientação profissional, seja recorrendo a consultoras de aleitamento ou mesmo profissionais dos bancos de leite, que além do recebimento e fornecimento de leite materno, têm o papel de apoio e orientação para as lactantes.
Caminhada
No dia 6 de agosto, a partir das 9h, o Hospital e Maternidade Santa Joana promoverá a 6ª edição da Caminhada em Apoio à Amamentação, no parque do Ibirapuera.
O evento é gratuito e aberto ao público geral. Na ocasião, haverá informações sobre o tema e sessão de fotos com os personagens da Turma da Mônica.
Mitos e verdades
Leite fraco – Não existe leite fraco, o leite materno é o mais indicado para o bebê e vai se modificando para acompanhar o crescimento e as necessidades da criança.
Produção de leite – O leite é produzido conforme a necessidade, ou seja, quanto mais o bebê mama, mais o organismo materno entende a necessidade de produção. Por isso, o complemento com mamadeira pode prejudicar e diminuir a produção de leite.
Dor – Amamentar não dói. Se isso ocorre, pode estar acontecendo uma pegada incorreta do bico do seio pelo bebê, que precisa ser corrigida o quanto antes. O que pode ocorrer é um desconforto/estranhamento, principalmente nos primeiros dias.
Fortalecimento de vínculo – Após o nascimento, uma relação está sendo construída entre mãe e bebê e a amamentação fortalece esse laço, ajudando a mãe na adaptação dessa nova fase da vida e transmitindo ao bebê maior segurança.
Prevenção de doenças – O aleitamento é benéfico tanto para saúde da mãe como para a do bebê. Para a criança são passados anticorpos importantes, que previnem doenças e infecções, além do correto desenvolvimento dos músculos da face. Para as mães, além de ajudar a perder o peso ganho durante a gravidez, previne em longo prazo o câncer de mama.
Disponibilidade – Muitas pessoas reclamam que os bebês amamentados solicitam mais o peito e ficam “grudados” na mãe. Isso acontece porque o estômago do bebê é muito pequeno e requer ser alimentado mais vezes. Além do mais, o peito é mais do que alimento, podendo ser solicitado para acalmar o bebê ou quando ele necessita de mais contato e afeto da mãe.
Quantidade ingerida – Uma dificuldade para as mães de primeira viagem é saber se o bebe está mamando de forma satisfatória, já que, ao contrário da mamadeira, no peito não dá para saber a quantidade que está sendo ingerida. Além dos sinais emitidos pelo recém-nascido, como sono tranquilo e vitalidade, é possível checar pela quantidade de xixi que o recém-nascido faz o quanto está mamando. Nesta fase, são trocadas de 8 a 10 fraldas/dia.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo