Tecnologia a favor da vida
Os aplicativos já conquistaram os brasileiros para administrar finanças, diversão, prática de exercício e podem ser úteis também à Saúde.
A familiaridade com a tecnologia proporciona uma maior interação dos usuários com essa interface, buscando soluções online para dificuldades do dia a dia, como se lembrar de tomar um remédio, beber água, orientações sobre nutrição, medir a pressão arterial ou ainda ajudar no diagnóstico de doenças em estágios iniciais.
Os dispositivos móveis, como tablets e smartphones, já são uma realidade na vida de grande parte da população. Em média, os usuários utilizam os aparelhos três horas diárias e mais de 1.500 vezes na semana.
“Não há ainda estudos científicos que comprovem a eficácia da utilização dos aplicativos, mas há relatos clínicos em que os pacientes apontam ganhos com o uso dessa tecnologia, auxiliando no diagnóstico e tratamento”, explica o psiquiatra, psicoterapeuta e doutorando da Faculdade de Medicina da USP Geilson Santana.
Pesquisa da mHealth e Wearables 2015, realizada pela Mobile Ecosystem Forum, aponta que a adoção de aplicativos voltados à Saúde e prática de exercícios físicos teve um crescimento em todo o mundo, passando de 11% em 2013 para 15% em 2014.
Seguindo essa ascensão, o uso de aplicativos ligados à medicina teve um crescimento de 8% para 10%. As mulheres são as que mais usam esse tipo de aplicativos, correspondendo a 12%.
No Brasil, 14% das pessoas usam aplicativos para cuidar de doenças e a utilização cresceu 5% no período pesquisado.
“No caso de depressão e transtorno bipolar, por exemplo, há aplicativos que monitoram o humor. Com base nesse acompanhamento, é possível analisar junto com o paciente as variações de humor ao longo do mês e quando acontecem, auxiliando no tratamento”, exemplifica Santana.
Para o médico do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês Euclides Furtado de Albuquerque Cavalcanti, o potencial para o uso dos aplicativos é enorme, mas são necessários estudos científicos que comprovem sua eficácia e para qual paciente ele é mais indicado.
“Há ainda poucos estudos, mas sem dúvida pode ser um aliado. Recentemente foi apresentado no Congresso da Associação Americana de Oncologia Clínica um caso que um aplicativo foi utilizado por um grupo com câncer de pulmão avançado, que estava em controle. Aqueles que foram monitorados, respondendo a um questionário, foram detectados mais rapidamente os sintomas que indicavam piora no quadro, possibilitando uma intervenção mais rápida dos médicos”, reforça Cavalcanti.
No caso em questão, dos pacientes que usaram a ferramenta, 75% continuavam vivos depois de um ano, contra apenas 49% do grupo que não usou. Esse é um exemplo de como a utilização da tecnologia pode não só melhorar a qualidade de vida, mas também salvar vidas.
Os aplicativos podem ainda ser grandes aliados em tratamentos médicos e na prevenção de saúde, ajudando os pacientes a modificarem hábitos, tomarem os medicamentos nos horários corretos e, no caso relatado pelo especialista, possibilitar uma intervenção médica mais rapidamente.
“O aplicativo não substitui a relação médico/paciente, a função é específica, ajudando no diagnóstico e muitas vezes no tratamento. Mas a tecnologia pode ser um aliado com ganhos para o paciente e para o profissional”, explica Santana.
A regulação para essa tecnologia ainda não existe no Brasil e o Conselho Federal de Medicina (CFM) ainda não tem um parecer sobre o tema, o que pode dificultar uma prescrição médica específica para a utilização.
“O Conselho não tem orientações específicas sobre aplicativos, mas tem sobre internet, que pode se aplicar a esse caso. Ou seja, o uso da tecnologia não pode substituir o contato face a face, e o profissional não pode fazer diagnóstico ou prescrição por contato mediado”, explica Santana.
Confira aqui os aplicativos de saúde do site Coração & Vida.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo