Dieta não é suficiente para tratar a obesidade

20 de maio - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Milla Oliveira

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo. A entidade estima que, até 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam acima do peso e mais de 700 milhões, obesos.  Coração & Vida publicará hoje e amanhã duas entrevistas especiais sobre o tema com renomados endocrinologistas. Em entrevista exclusiva , um dos maiores nomes no tratamento da obesidade do país, Maurício Hirata, comentou sobre os novos caminhos que vêm sendo percorridos pela endocrinologia para tratar o problema, que pode ter influência genética e de outros fatores além da comida.

Maurício Hirata, endocrinologista
Maurício Hirata, endocrinologista

O que existe de novidade no tratamento da obesidade?

Um recente congresso na área de Endocrinologia revelou que a flora intestinal do paciente obeso é bem diferente de uma pessoa que não tem problemas com o peso. Quando a pessoa está obesa, essa população de bactérias no intestino começa a subir muito. Hoje existe um modelo de tratamento que indica a modificação dessa flora intestinal e uma das recomendações é administrar lactobacilos e fibras para o paciente para melhorar a região. Além dos obesos, os diabéticos também têm alterações no intestino. Uma das pedras fundamentais do meu trabalho é orientar que os pacientes tomem iogurte para tratar esses problemas. Uma dose diária diminui as chances de uma pessoa ser diabética, além de proteger o pâncreas e diminuir as substâncias tóxicas no organismo. Como a lactose já foi degradada, o iogurte é bem tolerável e ainda é uma boa fonte de cálcio para o adulto.

Nesse caso, então, podemos dizer que o alimento tem sido usado como uma espécie de medicação?

O alimento é um remédio para venenos como o colesterol, por exemplo. Utilizando os alimentos adequados você consegue melhorar o estado funcional do paciente e seu estilo de vida.  Vários alimentos são usados como medicação, mas tudo com amparo científico. No entanto, a gente tem que prestar atenção também nessa moda de superalimentos, como o goji berri e outros. Uma pesquisa indicou que a maior parte desses superalimentos tem um custo que não compensa o beneficio, tem muito marketing em volta, sem muita resposta.

É verdade que a perda de peso tem relação com outros fatores que não só a comida? Quais?

Sim, principalmente com os problemas na flora intestinal do paciente, o uso de plásticos que contenham uma substância chamada BPA e também o consumo de adoçantes. Vários estudos revelados em um congresso que aconteceu recentemente sobre diabetes identificaram que quem ingere adoçante ou bebida com adoçante tem maior índice de obesidade e maior circunferência abdominal. Ele aumenta a insulina e causa maior propensão a diabetes.  O adoçante também muda a flora intestinal e provoca a diabetes. Eu falo para os meus pacientes que tirando o adoçante você tem menos vontade de comer doces.

O que O BPA pode provocar no organismo?

O Bisfenol A (BPA), que é encontrado em alguns tipos de plástico que são utilizados em embalagens de alimentos, pode, mesmo em pequenas doses, provocar alterações hormonais. Isso porque ele se comporta como se fosse o hormônio feminino estrógeno no corpo, o que pode provocar obesidade, diminuição de espermatozoides, puberdade precoce, entre outros problemas. A Anvisa já proibiu o comércio de mamadeiras contendo Bisfenol A, mas discute-se muito  se o BPA não deveria ser proibido totalmente, como em alguns países como o Canadá. De prático, devemos observar se a embalagem plástica contém os símbolos de reciclagem de PVC com números 3 ou 7.

O tratamento da obesidade precisa, então, ser individualizado para isolar esses fatores?

Tem que ver as preferências das  pessoas, podemos ensinar a comer até certo ponto. Tem os vegetarianos, os religiosos, mas o básico a gente consegue ensinar. A obesidade é uma doença, ela não tem cura, mas tem controle. O médico endócrino não dá alta nunca para o paciente. Hoje a gente consegue escrever exatamente porque um paciente prefere um doce , qual a causa da compulsão pelo carboidrato. A endócrino está estudando muito porque o cérebro do obeso funciona diferente. Na Unicamp, ressonâncias magnéticas identificaram que os obesos têm uma inflamação no hipotálamo, região da fome. Depois que opera, a inflamação diminui, mas ainda há muitos fatores que a gente ainda desconhece na geração da obesidade. O tratamento está cada vez mais centrado na parte médica.

E qual o papel do açúcar no aumento da obesidade?

Um estudo interessante mostra que o açúcar atua no cérebro nos mesmos centros de dependência da cocaína, do álcool. É uma droga e é uma dependência forte.  Já foi declarado em um simpósio que o açúcar será o novo tabaco dos anos 2000. Outro estudo muito interessante diz que o açúcar tem um papel tão importante no momento da pressão arterial quanto o sal. As visões vão mudando com o tempo.

Mas e as dietas? Realmente funcionam?

Esses programas de acompanhamento com dieta fazem com que, depois de dois anos, 90% dos obesos recuperem o peso. Lógico que a educação alimentar é importante, mas não é só comportamento que influencia, é também a genética. Tem famílias inteiras de obesos! Hoje já se consegue mapear os genes da obesidade e foi identificado que são pacientes com metabolismo mais lento, que comem o mesmo ou menos que outras pessoas e engordam. Outros pacientes já têm o DNA das doenças coronarianas, por exemplo.  É muito fácil falar que obesidade é falta de vergonha ou de educação alimentar. É fácil impor a dieta e dizer segue isso e pronto. A maior parte dos pacientes está bem orientada, o problema é como chegar nessa equação. Lógico que tem fórmulas e regras, como comer de três em três horas, e as coisas estão mudando no aspecto nutricional.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

Compartilhe:

Dúvidas?
Envie sua pergunta para o

RESPONDE

acesse

Notícias Relacionadas: