Quais são os traumas gerados em um acidente de avião?
Thassio Borges
Poucas pessoas no mundo podem dizer que sobreviveram a um acidente de avião. Luciano Huck e Angélica são duas delas. No último domingo (24), a aeronave em que os apresentadores da TV Globo viajavam teve de fazer um pouso forçado em Mato Grosso do Sul, próximo à cidade de Campo Grande. Apesar do grande susto, o casal não sofreu danos graves, assim como os três filhos e as duas babás, que também estavam a bordo.
Para entender o que ocorre com o corpo humano em incidentes deste tipo, o site Coração & Vida consultou o ortopedista Arnaldo J. Hernandez, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Hernandez explicou que, apesar de a preocupação imediata das pessoas voltar-se a traumas externos, são os ferimentos internos que podem trazer grandes prejuízos às vítimas que eventualmente conseguem sobreviver a uma queda de avião ou a um pouso forçado, como foi o caso do casal de apresentadores.
“O grande problema é a desaceleração brusca. Além do seu corpo se movimentar e bater em tudo o que está à frente, o mesmo ocorre com seus órgãos. Há uma desaceleração muito intensa e esses órgãos acabam colidindo com a parede abdominal ou, no caso do cérebro, com o crânio, que é o tipo [de lesão] mais comum”, explica o especialista.
Se a desaceleração é praticamente inevitável, o jeito é assegurar que não ocorram outros impactos. No incidente do último final de semana, o piloto Osmar Frattini, de 52 anos, orientou os tripulantes que tirassem os óculos e permanecessem com os cintos de segurança atados durante todo o pouso de emergência.
O ortopedista destacou o uso do cinto de segurança e salientou o papel da chamada medicina aeronáutica, que estuda questões ligadas diretamente à prevenção e minimização de traumas decorrentes de acidentes aéreos. De acordo com ele, é a partir desses estudos que se organizam as informações disponíveis nos manuais de segurança encontrados por tripulantes em aeronaves, que indicam, por exemplo, a melhor postura corporal diante de um impacto iminente.
“Utilizando as posições indicadas no manual [de segurança], é possível minimizar o impacto do corpo, apesar de não minimizar o impacto dos órgãos”, avalia Hernandez, que indica também o que deve ser priorizado nos primeiros socorros a quem sofre esse tipo de acidente.
“A principal recomendação diz respeito à imobilização da vítima. Claro, se existe o risco de explosão, por exemplo, é necessário tirar a pessoa do lugar ‘da forma que der’. Mas o cuidado deve ser para que ocorra a maior mobilização possível. É preciso evitar qualquer movimentação brusca, especialmente da coluna vertebral, mas quem socorre deve atentar-se também à cabeça e aos membros inferiores e superiores dos sobreviventes”, completa.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo