Hipertensão: saiba mais sobre este mal silencioso
A hipertensão é chamada pelos profissionais médicos de mal silencioso. A maioria das pessoas que tem pressão alta costuma não se dar conta, a princípio, por não ter grandes queixas quanto ao estado geral de saúde – o que acontece, às vezes, são dores de cabeça ou tonturas, sintomas confundidos com um simples mal-estar.
Mas é comum que, quando a pessoa sente algo diferente e mais intenso, a pressão alta já esteja prejudicando seu organismo. Antes disso acontecer e no Dia de Prevenção e Combate à doença, celebrado em 26 de abril, conheça mais sobre o tema e fique atento aos efeitos da hipertensão.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, mais de 35,5 milhões de brasileiros apresentam quadro de hipertensão arterial.
“Muitas vezes se faz um diagnóstico por acaso, num exame médico para tirar carta de motorista, por exemplo. A hipertensão não dá sintomas, é um mal silencioso. Vai acometendo as artérias e levando a um maior risco de infarto e derrame cerebral”, afirma o cardiologista Roberto Kalil Filho, diretor do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
De acordo com o especialista, dados do Ministério da Saúde mostram que, no Brasil, a hipertensão arterial é responsável por 50% dos infartos do miocárdio, 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e 25% dos casos de insuficiência renal.
Na última quinta-feira (20), o cantor e compositor Gilberto Gil participou de um talk show sobre o tema, no Hospital Sírio-Libanês.
Hipertenso, Gil aceitou ser o embaixador da ação de esclarecimento, reforçando a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
“Eu não queria voltar a trabalhar nos níveis de atividade que eu tinha tido até então. Não preciso disso hoje em dia. Eu não quero, na verdade. Se eu trabalhar um terço do que trabalhava antes, ainda vou conseguir me sustentar perfeitamente. Quero descansar. É preciso dormir, ter tempo para que a alma faça o trabalho do corpo”, disse o cantor sobre as mudanças de seus hábitos após a descoberta da doença, há cerca de 1 ano.
O que é?
A hipertensão ocorre quando há uma elevação anormal da pressão arterial – ou seja, quando as paredes das artérias oferecem resistência para a passagem do sangue. Com isso, o sangue bombeado pelo coração para irrigar os órgãos tem de exercer uma força (pressão) maior contra a parede das artérias. Esse descompasso sobrecarrega o coração, torna as artérias enrijecidas e traz diversos problemas de saúde relacionados.
– Segundo estudo de 2015 da Heart Disease and Stroke Statistics (estatísticas sobre doenças cardíacas e infartos) da American Heart Association, durante a última década, a taxa de morte por hipertensão em 190 países aumentou em 13,2%.
Países com taxas mais altas de morte por hipertensão (entre 100 mil homens e mulheres pesquisados de 35 a 74 anos):
1º Rússia 1.639
2º Ucrânia 1.521
3º Romênia 969
6º Brasil 552
10º EUA 352
A hipertensão…
– é responsável por 9,4 milhões de mortes no mundo ao ano, segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde
– atinge 30% da população adulta brasileira, chegando a mais de 50% na terceira idade, e está presente em 5% das crianças e adolescentes
– é foco de 10% de todo o custo global de saúde, com o gasto estimado em US$ 370 bilhões por ano
– aumenta de 4 a 6 vezes o risco de AVC (acidente vascular cerebral)
Doenças causadas por pressão arterial elevada não tratada
– Doença renal crônica: as artérias e arteríolas afetadas dificultam a função excretora dos rins.
– Disfunção erétil: ocorre por fatores do organismo e também como efeito colateral de alguns medicamentos.
– Demência: a hipertensão pode causar danos nas artérias que irrigam o sistema nervoso central, diminuindo fluxo de sangue (isquemia) para as células do cérebro.
– Perda da visão: as artérias ligadas à retina sofrem pressão assim como as artérias cerebrais.
A ameaça silenciosa não é, estatisticamente, levada a sério nos dias de hoje. A Sociedade Brasileira de Hipertensão estima que:
23% dos hipertensos controlam corretamente a doença
36% não fazem controle algum
41% abandonam o tratamento após melhora inicial da pressão arterial
Prevenção
A única maneira de saber se a pressão está normal é medi-la. O ideal é medir a pressão pelo menos uma vez a cada seis meses ou com intervalo máximo de um ano. Assim, quando a doença aparece, logo se faz o diagnóstico.
Formas de controlar a pressão arterial:
– Fazer exercícios regularmente
– Controlar os “gatilhos” geradores de estresse
– Preferir alimentos saudáveis e diminuir a quantidade do consumo de sal
– Limitar o consumo de álcool
– Não fumar
– Usar os remédios conforme as orientações médicas, observando doses e horários, e não parar o tratamento mesmo quando a pressão reduz
Alguns alimentos que ajudam no combate à hipertensão:
– Alho: fonte de magnésio, dilata os vasos sanguíneos
– Aveia: carboidrato que controla a glicose sanguínea
– Leite e derivados (nas versões desnatadas): hipotensores, estimulam a eliminação do sódio
– Alimentos ricos em potássio, como feijão, espinafre, cenoura, também estimulam a eliminação do sódio
– Alimentos ricos em ômega 3, como peixes (sardinha, salmão, atum), linhaça e azeite, diminuem a vasoconstrição
O sal é o maior vilão?
O sal faz o corpo reter mais líquido – e o aumento do volume de líquido faz a pressão subir. No entanto, não há necessidade de comer tudo sem sal. Deve-se, sim, evitar o exagero, como colocar sal na comida pronta ou comer alimentos que contêm muito sal.
Cerca da metade das pessoas é mais afetada pelo cloreto de sódio, o sal de cozinha. Essas pessoas são denominadas “sensíveis ao sal”. Para esses indivíduos, é importante comer com pouco sal, para evitar que a pressão se eleve. Nas pessoas não-sensíveis a esse condimento, o aumento da pressão com seu uso é pequeno, mas a restrição também é indicada.
Fontes: Dr. Luiz Bortolotto, diretor da Unidade de Hipertensão Arterial do Instituto do Coração (InCor), Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde e American Heart Association.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo