Risco comprovado
Milla Oliveira e Thassio Borges
Uma pesquisa divulgada no último mês por profissionais da Universidade Bezmialem Vakif, na Turquia, indica que fumantes ativos e passivos necessitam de uma dose maior de anestésico e de analgésico para atingir o mesmo nível de anestesia dos não fumantes.
Apesar de ressaltar que o estudo foi observacional, o médico anestesista Flávio Takaoka, do Hospital Israelita Albert Einstein, destacou que o mais importante da pesquisa foi apontar que o grupo de fumantes passivos foi tão afetado quanto os ativos neste ponto.
Em entrevista ao Coração & Vida, o especialista explicou ainda que, em determinados grupos, como pacientes idosos ou cardiopatas, a maior quantidade de anestésicos pode resultar em aumento na taxa de complicações cardiovasculares.
“Os anestésicos possuem propriedades depressoras na função cardíaca, […] podendo levar à isquemia e ao infarto do miocárdio”, completou.
O estudo, apresentado durante o Euroanaesthesia 2015, congresso da Sociedade Europeia de Anestesia, abordou os efeitos dos anestésicos em três grupos: fumantes, fumantes passivos e não fumantes. A quantidade de anestésico utilizado durante os procedimentos cirúrgicos foi 33% superior no grupo que fuma, na comparação com o não fumante. Entre os fumantes passivos, a quantidade foi 20% superior.
Para Takaoka, independentemente dos resultados observados no Congresso Europeu, é necessário destacar a importância de cessar o hábito de fumar antes de cirurgias.
“Os benefícios já são conhecidos, isto é, há menor incidência de complicações no pós-operatório, como infecção na ferida cirúrgica. Pacientes tabagistas que cessaram o fumo antes da cirurgia têm uma morbidade e mortalidade menores após a operação, quando comparados com os que não pararam”, afirma.
Os problemas associados ao hábito de fumar antes das cirurgias também já foram relatados em pesquisas. Um estudo realizado em três hospitais da Dinamarca comprovou que o grupo de fumantes que não cessou o fumo antes dos procedimentos cirúrgicos apresentou maior risco de complicações pós-operatórias e cardiopulmonares do que aqueles que aderiram ao programa de não fumantes. Além disso, um levantamento do Colégio Americano de Cirurgia demonstra uma taxa de mortalidade 38% maior no grupo de fumantes.
Flávio Takaoka é também coordenador da campanha “Ajudando o paciente cirúrgico a parar de fumar – Stop Smoking”, da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo (SAESP).
De acordo com ele, a estratégia tem o objetivo de atuar efetivamente contra o tabagismo, a principal causa de morte evitável no Brasil e no mundo.
“[A campanha] estende o papel do anestesista para além do período operatório, com impacto significativo na sobrevida de longo prazo dos pacientes cirúrgicos”, aponta.
O médico explica ainda que é recomendável cessar o fumo assim que a cirurgia for recomendada, já que não existem estudos consistentes sobre o melhor intervalo para interromper o hábito.
“Fumar sempre irá resultar em algum grau de morbidade. Portanto, a recomendação médica sempre será pela cessação do fumo”, completa.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo