Diabetes e cardiopatias têm relação
Uma das maiores preocupações dos médicos que tratam pacientes com diabetes é como protegê-los dos reflexos e complicações cardiovasculares. Em um primeiro momento, poucos pacientes entendem essa relação.
Mas ela existe – e, segundo pesquisas de órgãos como a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a doença é considerada um dos maiores fatores de risco para problemas cardíacos.
Estatísticas da SBD sugerem que cerca de 68% das mortes entre pacientes diabéticos com idade acima de 65 anos acontecem devido a problemas cardiovasculares. Adultos com diabetes possuem de duas a quatro vezes mais chances de terem doenças cardíacas do que adultos sem diabetes.
“Os pacientes portadores de diabetes mellitus têm alterações metabólicas como glicose elevada, resistência insulínica, hipertensão arterial e outros fatores que favorecem o aparecimento e aumento da doença aterosclerótica e maior risco de infarto do miocárdio”, diz a endocrinologista Claudia Cozer Kalil.
“E ainda precisamos lembrar que 80% dos pacientes com diabetes tipo 2 estão acima do peso, e a gordura em excesso se aloja também no fígado, abdômen e músculos, aumentando a produção de substâncias inflamatórias que agridem o sistema vascular e propiciam a formação de placas de ateroma”, completa a médica.
A endocrinologista lembra ainda que os níveis elevados de insulina que normalmente os diabéticos apresentam causam maior retenção de água e sal pelos rins – e favorecem um maior volume sanguíneo circulante, piorando a pressão arterial (outro fator de risco para doenças do coração).
Prevenção constante
Esse tipo de diabetes, do tipo 2, é mais comum em pessoas acima dos 40 anos de idade e obesas. Daí buscar um estilo de vida mais saudável ser importantíssimo para controlar o quadro.
A má alimentação, falta de atividade física regular e um falho acompanhamento médico são hábitos que devem ser mudados. Cuidados com a dieta podem, por exemplo, proteger melhor o pâncreas e, assim, evitar seu esgotamento precoce quanto à capacidade de produção de insulina.
A prevenção das doenças cardiovasculares nos pacientes com diabetes é, geralmente, feita por meio do controle desses fatores de risco, observando questões como hipertensão, glicemia, tabagismo, obesidade, colesterol e sedentarismo.
Praticar ao menos 30 minutos de atividade física moderada, como uma caminhada, pelo menos cinco vezes por semana, já ajuda na prevenção. Mas há casos em que é necessário o uso de medicamentos.
Segundo estudos apresentados recentemente nos Estados Unidos, durante o congresso da Associação Americana de Diabetes, o uso de remédios específicos para controlar a glicose no sangue vem mostrando que também pode reduzir em até 15% o risco de ataque cardíaco em pacientes com diabetes do tipo 2.
Os pacientes diabéticos podem, ainda, sofrer um infarto sem perceber imediatamente. Pacientes que convivem com o diabetes há muitos anos e de maneira mal controlada chegam a apresentar uma “isquemia silenciosa” – sem dor. O controle clínico quando se é diabético é, portanto, decisivo.
Tratamento abrangente
Segundo Claudia, quando o acompanhamento do paciente diabético acontece com uma equipe multidisciplinar, reunindo especialistas como médicos endocrinologistas, nefrologistas, nutricionistas, educadores físicos e outros, os ganhos são muito maiores para a saúde geral.
Exames mais abrangentes, como cintilografia miocárdica e ecocardiograma, também tornam o atendimento mais completo e eficiente tanto no quadro da diabetes quanto no surgimento das doenças cardíacas associadas.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo