O regime argentino que faz cortes no Brasil
Flávia Pegorin
Faz seis meses que a presidente Dilma Rousseff está mudada. Mas isso não tem a ver com o cenário político-econômico do país: a transformação mencionada é outra – e não precisa ser analista financeiro para notar. A presidente é, agora, alguém que anda de bicicleta quase diariamente, controla a alimentação e já conta 15 quilos a menos na balança.
Cuidar da saúde foi uma das mudanças que Dilma iniciou desde o final de 2014. E o grande responsável por operar essa nova ordem é o chamado “método Ravenna”.
A dieta encampada pela presidente foi criada pelo argentino Maximo Ravenna (que afirma já ter “secado” cerca de 50 mil pessoas mundo afora propagando suas ideias em livros e em clínicas particulares).
Seu diferencial é levar em consideração a subjetividade de cada indivíduo e tratar, além do aspecto físico, também o psicológico. Um curioso paradoxo com a personalidade objetiva da presidente. O que combina muito bem com ela, por outro lado, é o método rigoroso da dieta.
Criada pelo psiquiatra e clínico geral argentino na década de 1990, a Ravenna é um tratamento interdisciplinar que une esforços de nutricionistas, terapeutas e educadores físicos para estabelecer um programa de regime alimentar com baixas calorias, exercícios e, talvez mais importante, um tratamento comportamental para trabalhar a compulsão.
Na prática, três objetivos alinham o projeto: corte (de calorias e de atitudes que possam levar à fome extrema), medida (diminuir as porções até uma quantidade adequada de alimentos) e distância (ações para não voltar a comer em excesso).
Cada paciente tem orientação personalizada – pois essa não é uma dieta que se faz por conta própria, mas sim contratando uma clínica especializada na Ravenna.
De acordo com suas peculiaridades, os indivíduos têm um cardápio a seguir que costuma ficar por volta das 800 calorias por dia.
“É uma dieta bem restritiva que oferece calorias reduzidas independente da idade e do perfil dos pacientes. Cortando alimentos, então, torna certa a perda de peso”, explica Claudia Cozer Kalil, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “O ponto crítico da Ravenna é que, por cortar tanto, em algum momento a dieta se torna monótona e mais difícil de seguir à risca”, completa.
Entre os alimentos que são proibidos na fase de emagrecimento estão os açúcares (doces em geral), gorduras e todos os tipos de farinha. Já nos liberados (mas com moderação) entram carnes, legumes, frutas, ovos, chá e café.
Segundo Claudia, o processo pode ser indicado para pessoas com sobrepeso ou obesidade – a única contraindicação é que se entre nessa sem orientação médica.
“A Ravenna requer, além de seguir o cardápio, que se passe com o nutricionista e pelo apoio psicológico quase que semanalmente – pois é da frequência das visitas que vem o estímulo e o reforço positivo. Normalmente, dietas como essa são feitas inclusive em spas, que podem oferecer suporte multidisciplinar no mesmo local. Para o dia a dia, tudo se complica um pouco, pois depende do tempo disponível de cada paciente, assim como da questão financeira”, lembra a endocrinologista.
A preocupação faz sentido: nas clínicas especializadas na Ravenna, cada mensalidade do plano mais básico, que não inclui a comida, começa em R$ 1.300.
Claudia diz que o exemplo da presidente é positivo, de qualquer modo, porque os brasileiros vêm aumentando de peso ano a ano. O último balanço do Ministério da Saúde mostrou que cerca de 50% da população está acima do peso ideal e 17,5% é obesa.
“Nos Estados Unidos, um país reconhecido pelos altos índices de obesidade, o programa da primeira-dama Michelle Obama, chamado ‘Let´s Move’ (Vamos nos movimentar), se mostrou um grande incentivo para a adoção de bons hábitos físicos e alimentares. Precisamos desse tipo de iniciativa pública também no Brasil”, finaliza Claudia.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo