OMS publica lista de bactérias que pedem a criação de novos antibióticos

14 de junho - 2017
Por: Equipe Coração & Vida

Ouvimos muito, especialmente nos últimos anos, sobre o uso de antibióticos e a resistência a eles. Ou seja: sobre doenças que não são curadas adequadamente porque, mesmo com a aplicação de medicamentos, as bactérias não cedem. Bem, a Organização Mundial da Saúde (OMS), finalmente, deu sua palavra sobre o assunto.

Foto: Shutterstock
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Pela primeira vez em sua história, a OMS publicou uma lista de bactérias que são resistentes a antibióticos e que, segundo a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), devem ser prioridade nas pesquisas por novos remédios contra micróbios.

Doze gêneros de agentes patogênicos estão incluídos no documento que foca, sobretudo, as bactérias que não são afetadas por diferentes medicamentos.

Segundo o órgão, microrganismos resistentes a múltiplos antibióticos são particularmente perigosos em hospitais, casas de repouso e entre os pacientes cujos cuidados exigem dispositivos como ventiladores e cateteres intravenosos.

Onde nasce o problema

Incluídas na primeira das três categorias de urgência definidas pela lista da OMS estão bactérias dos gêneros AcinetobacterPseudomonas e várias espécies do gênero Enterobacteriaceae, como as KlebsiellaE. coliSerratia e Proteus.

A agência aponta que esses agentes patogênicos se tornaram resistentes aos melhores medicamentos disponíveis para tratar micróbios multirresistentes. São bactérias que podem causar problemas de saúde graves e fatais, como infecções da corrente sanguínea e pneumonia.

“A resistência aos antibióticos acontece por diversos motivos”, explica a mestranda em biotecnologia pela Universidade de São Paulo, Stefania Braga.

“O problema é que, em bactérias, os genes podem ser herdados ou podem ser adquiridos a partir de elementos genéticos móveis, uma transferência horizontal que pode permitir que os genes de resistência aos antibióticos sejam transferidos entre espécies diferentes.”

Stefania lembra que o uso abusivo desses medicamentos, a prescrição incorreta e concentrações erradas da fórmula podem promover o desenvolvimento da resistência. O uso de antibióticos na pecuária também é um fator importante para o aparecimento da resistência, assim como o descarte errado de remédios.

E onde está a nova solução

“A lista é uma nova ferramenta para garantir que as pesquisas respondam às necessidades urgentes de saúde pública”, explica a subdiretora-geral da OMS para Sistemas de Saúde e Inovação, Marie-Paule Kieny.

Em resumo, o recado da OMS é contundente: as forças do mercado farmacêutico, se deixadas por conta própria, não trarão à população os novos antibióticos urgentemente necessários.

Segundo a entidade, a publicação da listagem é também um apelo a governos para que implementem políticas de incentivo à ciência básica e pesquisa avançada – tanto por meio de agências financiadas pelo setor público quanto pelo setor privado.

De acordo com diversos artigos publicados por cientistas, o desenvolvimento de novos antibióticos pela indústria farmacêutica, uma estratégia que tinha sido eficaz no combate as bactérias resistentes no passado, “estacionou” devido a obstáculos econômicos e regulatórios. Das 18 maiores empresas farmacêuticas, 15 abandonaram o mercado dos antibióticos.

“O desenvolvimento de antibióticos nem sempre é visto como economicamente viável pelas companhias farmacêuticas porque são remédios usados por períodos relativamente curtos e, muitas vezes, são curativos – o que os faz menos rentáveis que drogas para o tratamento de condições crônicas, por exemplo”, diz Stefania Braga.

Além disso, microbiologistas e especialistas em doenças infecciosas aconselham moderação em relação aos antibióticos. Portanto, uma vez que um novo antibiótico é comercializado, os profissionais da saúde, em vez de prescrevê-los imediatamente, mantêm esse novo agente na “reserva” para uso nos casos mais graves (inclusive pelo medo de promover a resistência).

As barreiras regulatórias são outro obstáculo para o desenvolvimento desses medicamentos, pois os testes para confirmar a eficácia são longos e caros. Uma luta intensa – mas que, agora, ao menos tem a OMS na linha de frente.

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Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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