Retorno dos inibidores de apetite divide opiniões; afinal, eles são seguros?
Desde que a venda de inibidores de apetite foi novamente liberada, há discussões sobre a confiabilidade dessa decisão. Em junho deste ano o Congresso brasileiro autorizou a produção e comercialização desses remédios contra a vontade da Anvisa, que havia proibido a venda deles em 2011, por julgar serem nocivos à saúde.
Para a endocrinologista Cláudia Cozer, os inibidores de apetite, quando bem indicados, são úteis para ajudar a pessoa a diminuir a quantidade de alimentos e estimular a perda de peso. “O uso ético desta classe de medicamentos pode trazer grandes benefícios no tratamento da obesidade”, afirma a especialista.
“Alguns pacientes têm uma ansiedade – ou compulsão – na hora da alimentação, que precisa ser controlada para ajudá-los a pensar na fome por necessidade em vez de fome por comer. É o que chamamos hoje de ‘mindfulness’, que é comer com consciência e atenção.”
A endocrinologista explica que muitas vezes essas medicações são importantes para ajudar no início da perda de peso, estimulando a pessoa a comer menos e até a manter o peso perdido.
Para a Anvisa, a situação é mais complicada. A Agência argumenta que a lei que liberou os medicamentos, além de inconstitucional, pode representar grave risco para a saúde da população.
“Legalmente, cabe à Agência a regulação sobre o registro sanitário dessas substâncias, após rigorosa análise técnica sobre sua qualidade, segurança e eficácia. Assim ocorre em países desenvolvidos e significa uma garantia à saúde da população. O Congresso não fez, até porque não é seu papel nem dispõe de capacidade para tal, nenhuma análise técnica sobre esses requisitos que universalmente são requeridos para autorizar a comercialização de um medicamento”, informa, em nota.
Um dos pontos que a Anvisa rebate é justamente a liberação de medicamentos que já foram proibidos no exterior há quase duas décadas, pelos riscos serem maiores do que os benefícios.
Cláudia Cozer explica que os inibidores de apetite estão no mercado desde os anos 50, quando não se exigiam estudos de eficácia para aprovação de determinada droga.
“Foi a partir de 1962 que o FDA [agência regulatória norte americana] passou a exigir comprovação de eficácia. O baixo investimento científico nessas drogas se deve principalmente ao fato de terem baixo custo e menor interesse por parte da indústria farmacêutica”, explica a médica.
A questão maior, segundo ela, é a dúvida no uso dessas medicações a longo prazo, visto que a maioria dos estudos é por apenas 12 semanas. “Principalmente sobre o uso indiscriminado pela venda ilegal ou prescritos em fórmulas magistrais associados a diuréticos, laxantes, hormônios tireoidianos e benzodiazepínicos”, preocupa-se.
Efeito colateral todo medicamento tem, diz a especialista, e por isso devem ser prescritos com orientação e acompanhamento médico. “Quando os efeitos adversos se sobrepuserem aos resultados satisfatórios e piorarem a qualidade de vida do paciente, a medicação deve ser suspensa”, alerta.
Cláudia conta que os medicamentos com ação no sistema nervoso central podem trazer efeitos indesejáveis de ansiedade, insônia, palpitação, irritação, aumento da pressão arterial e cefaleia.
“Entretanto, esses sintomas são muito individuais, assim como a resposta do indivíduo ao medicamento. O risco de dependência nas dosagens habituais é baixo, mas elas devem ser evitadas em pacientes com antecedentes de adição a drogas ou álcool”, recomenda.
Apesar de toda a polêmica com inibidores e apetite, Cláudia afirma que a perda de peso usando o medicamento isoladamente é de apenas 5%. “Não adianta apenas usar os moderadores de apetite. Por isso existe sempre a recomendação da farmacoterapia associada com um programa de mudança de estilo de vida.”
A vigilância com o peso, então, envolve dieta. “Isoladamente, a medicação tem uma eficácia reduzida, pois o paciente precisa mudar os hábitos, reduzir a ingesta calórica e equilibrar sua rotina”, explica.
“A obesidade é uma doença crônica, que precisa de controle constante. Nenhuma mudança pode ser por um curto período de tempo, senão o reganho de peso é frequente.”
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo