As DSTs estão mais difíceis de tratar – e a culpa é nossa
Imagine contrair uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) e, quando for ao médico para fazer o tratamento, ouvir do especialista que não será nada fácil derrotar aquela bactéria que, não muito tempo atrás, era simples de eliminar. E ainda ter de ouvir que a culpa de as bactérias não responderem bem aos antibióticos é unicamente nossa.
O diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Cirilo, explica que os patógenos estão se tornando resistentes principalmente pelo aumento do uso de antibióticos na agropecuária. Com isso, mata-se as bactérias mais fracas e as mais fortes acabam criando mecanismos para fugir da ação dos remédios. E aí os especialistas sofrem para encontrar uma solução para salvar a vida daquele que está sendo dominado por elas.
Outra razão, mas não menos importante, é o uso indiscriminado de antibióticos. Mesmo com restrição de compra – atualmente é preciso apresentar receita em duas vias para ter acesso ao antibiótico na farmácia – ainda receita-se muito antibiótico sem necessidade, critica Cirilo.
“Usa-se no tratamento de doenças que não precisam de antibióticos, e isso faz com que as bactérias que não são sensíveis acabam transmitindo o gene de resistência para as gerações futuras”, diz.
Além disso, a infectologista do Hospital Sírio-Libanês Jessica Fernandes Ramos explica que doses erradas ou por períodos mais curtos que o necessário também podem levar a uma condição incerta. O resultado? Infecções dificílimas de tratar.
No caso específico de DSTs, sendo a gonorreia a mais trabalhosa, Cirilo explica que há muitos casos dela que não respondem aos tratamentos convencionais. Na tentativa de eliminá-la, usa-se a associação de antibióticos.
“Associamos dois, em doses maiores e por tempos mais prolongados. Há mais efeitos para os rins, para o fígado e intestino, além de poder provocar alergia e interações medicamentosas”, preocupa-se.
Os casos de sífilis e clamídia também estão tirando o sono de especialistas, pela dificuldade do tratamento, pois não respondem bem como antigamente.
Jéssica conta que o caminho que o Brasil está tomando é preocupante, pois há aumento de todas as DSTs, desde novos diagnósticos de HIV em jovens até a multiplicação dos casos de clamídia e gonorreia, que podem provocar infertilidade e outros problemas, e também aumento da sífilis, o que preocupa principalmente quando contraída durante a gestação, pois pode causar a sífilis congênita, provocando danos ao bebê.
A melhor solução é não contrair as bactérias
Apesar de as bactérias estarem se tornando poderosas e da culpa ser nossa, é fácil escapar dessa sina: basta fazer sexo seguro.
“Individualmente, todos podem se proteger por meio de preservativos e redução do número de diferentes parceiros”, explica Jéssica.
No caso da resistência aos antibióticos, a infectologista explica que o que dá para fazer é minimizar a ocorrência, usando antibióticos somente quando necessário, na dose e duração proposta pelo médico, mesmo que os sintomas já tenham se resolvido.
Além da vacina para o HPV, que provoca câncer de colo de útero, não há previsão para imunizações para as outras DSTs, lamenta Jéssica. “Assim, a prevenção segue como a melhor opção.”
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo