Dieta cetogênica vale a pena?
Vez ou outra surgem dietas que prometem resultados praticamente milagrosos em pouco tempo. Diante de uma rotina cada vez mais atribulada, com alimentos industrializados e de valor nutricional pobre, bem como pouco tempo disponível para atividades físicas, as pessoas têm optado por seguir esse tipo de dieta, sem atentar-se, no entanto, para os riscos envolvidos.
A dieta cetogênica tem ganhado cada vez mais espaço neste cenário de alternativas utilizadas pelas pessoas que buscam perder peso em um período relativamente curto.
Baseada no princípio de redução drástica de determinado grupo de alimentos, a dieta cetogênica costuma apresentar resultados em pouco tempo, mas, justamente por ser muito restritiva, acaba não tendo uma continuidade entre seus adeptos.
O principal grupo modificado na dieta cetogênica é o de carboidratos. Em algumas modalidades da dieta defende-se, inclusive, o corte total de carboidratos da rotina alimentar. Geralmente, no entanto, o indivíduo que a adota costuma consumir o mínimo possível de carboidratos, aumentando consequentemente a ingestão de proteínas e gorduras. É justamente pelo corte drástico de carboidratos que a dieta cetogênica acaba não se sustentando por muito tempo.
“A dieta cetogênica normalmente não consegue ser seguida por muito tempo, devido à extrema restrição. E quando o indivíduo volta a consumir carboidratos, normalmente há um ganho de peso associado”, explica a nutricionista Paula Mintz Hertel.
De acordo com ela, a dieta cetogênica reduz os níveis de glicemia em jejum e de triglicérides, resultando em perda de peso rapidamente nas primeiras semanas.
“Na dieta cetogênica há uma drástica redução nos estoques de glicogênio muscular [estoque de glicose no músculo], o que leva uma perda de água associada [o glicogênio é um polímero de molécula de glicose, e a glicose tem a capacidade de puxar água para dentro da célula, então quando a glicose sai da célula a água sai junto], ou seja, há uma perda de peso devido à redução dos estoques de glicogênio e de água e não apenas gordura”, explica a nutricionista.
A opinião é compartilhada pela nutricionista Marcela Taleb Haddad, do Hospital Sírio-Libanês, que aponta não haver estudos e comprovações a respeito dos efeitos desta dieta a longo prazo.
“Por ser uma dieta restritiva, pode causar deficiências nutricionais e alteração de parâmetros bioquímicos, portanto não deve ser realizada de forma indiscriminada sem o acompanhamento de um profissional qualificado”, completa.
Ambas as nutricionistas alertam ainda que a dieta cetogênica pode trazer efeitos colaterais indesejados no início da jornada, tais quais tontura, irritabilidade e falta de energia.
“A dieta cetogênica pode apresentar efeitos negativos como náuseas, vômitos, diarreia, aumento de ácido úrico, deficiência de micronutrientes, alteração dos níveis de colesterol sanguíneo, alterações metabólicas e redução dos níveis de cálcio no sangue, além de problemas hepáticos e renais”, complementa Marcela.
Não se trata, no entanto, de descartar por completa a dieta cetogênica. Qualquer opção nesse sentido, todavia, deve ser adotada mediante acompanhamento médico. Somente o profissional especializado poderá indicar a melhor dieta a ser seguida pelo paciente, de acordo com seus objetivos e seu quadro clínico.
Marcela explica, por exemplo, que a dieta cetogênica costuma ser indicada para o tratamento de epilepsia de difícil controle, uma doença neurológica caracterizada pela presença de crises epilépticas recorrentes.
“A dieta cetogênica clássica indicada para o tratamento desta doença é composta por 90% de lipídios e 10% de carboidratos e proteínas, e deve ser minuciosamente calculada por um nutricionista. Na ausência de carboidratos, o organismo produz corpos cetônicos através da oxidação de lipídios, e estes corpos cetônicos passam a ser a principal fonte de alimentação”, afirma a nutricionista.
Os adeptos da dieta cetogênica, mediante recomendação médica, costumam adotar uma alimentação baseada principalmente em gorduras e proteínas. Nesse sentido, costumam ingerir peixes, carne suína, carne vermelha, peito de frango, ovos, queijos, embutidos, oleaginosas e verduras verdes escuras.
Em consequência, evitam os carboidratos, tais como pães, arroz branco e massas. Também evitam a ingestão de açúcar. Assim, a dieta pode incluir em refeições, como café da manhã e café da tarde, alimentos como ovos, frios, mas evitando ao máximo a associação de pães.
Almoço e jantar costumam ser servidos basicamente com uma proteína (carne vermelha, frango, peixe) associada a uma salada com azeite de oliva, sem molhos. Sem carboidratos, o corpo passa o queimar outros tipos de gordura, provocando uma redução rápida de peso. O problema, conforme orientam as nutricionistas, está ligado aos efeitos colaterais e ao aspecto drástico da dieta, além de uma possível queima de músculos.
Portanto, antes de iniciar qualquer dieta por conta própria, especialmente as restritivas, busque aconselhamento médico. Não se recomenda, inclusive, o corte drástico de um grupo de alimentos em uma dieta.
“A exclusão de macronutrientes da alimentação não é indicada, uma vez que o organismo necessita de todos os grupos alimentares para a manutenção da saúde”, afirma.
Os carboidratos são fundamentais para o fornecimento de energia; as gorduras, além de fornecerem energia, são precursores de hormônios e auxiliam na absorção e no transporte de vitaminas lipossolúveis; e as proteínas possuem função estrutural e são essenciais para a formação de tecido magro, além de atuarem como enzimas, hormônios, anticorpos e transportadores de nutrientes.
“Dietas restritivas muitas vezes podem ser também deficientes em fibras, vitaminas e minerais. O baixo fornecimento de fibras pode resultar em alterações do funcionamento intestinal e o baixo consumo de vitaminas e minerais pode acarretar em deficiências nutricionais, comprometendo o bom funcionamento do organismo e as defesas antioxidantes”, avalia Marcela.
“Não é necessário cortar nenhum grupo de alimentos para emagrecer. O segredo está no equilíbrio, no autoconhecimento, e na mudança de estilo de vida”, completa Paula, reforçando novamente a importância de acompanhamento profissional para a adoção de dietas.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo