Vida longa e feliz é possível após um câncer de mama?
Por Eli Pereira
Linda Satiko Obayashi Taketomi sempre fez mamografias anuais a partir de 40 anos, idade recomendada pela Sociedade Brasileira de Mastologia. Em um desses exames, porém, um líquido suspeito extravasou e chamou a atenção do técnico que realizava o exame que, por precaução, recomendou que ela fosse se consultar com um mastologista. Lá, soube que o resultado não era anormal, apenas uma sombra.
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Na época com 45 anos, Linda voltou ao médico no ano seguinte para os exames de rotina e descobriu que havia alterações em volta do mamilo direito. Teve indicação de cirurgia e, quando o resultado da biópsia saiu, soube que aquela sombra do ano anterior se havia transformado em um câncer.
Era 1998, e, uma semana depois da primeira cirurgia, Linda teve de passar por outro procedimento, uma mastectomia total com esvaziamento axilar.
“Não tenho proteção [imunológica] nos braços, não posso mexer com fezes, água sanitária ou tirar a cutícula, por exemplo. Sou meio teimosa, então quando tenho algum corte, demora um pouco para cicatrizar”, conta.
Depois dos procedimentos, Linda não precisou passar por quimioterapias, apenas seguiu tomando um medicamento por três anos. “Era mais uma vitamina do que um remédio para câncer”, diz.
Três anos e meio depois, no entanto, em um rastreamento de rotina, veio outra notícia desagradável: outro câncer no seio esquerdo.
Mais uma mastectomia total, desta vez seguida de quimioterapia e radioterapia. “Fiquei carequinha quinze dias depois da primeira sessão. Acordei em uma manhã e estava cheio de cabelo no travesseiro, mas meu marido já tinha marcado para eu colocar peruca. Fui na cabelereira e saí de lá já com uma”, lembra Linda. “Foram seis meses careca e fazendo cirurgias.”
Durante a quimioterapia, Linda enfrentou enjoos típicos do tratamento. “Sentia fraqueza e ânsia de vômito, então vivia carregando bolacha de água e sal, além de comer de duas em duas horas. Em casa eu comia muita fruta, muita salada e coisas cozidas”, relembra.
Mesmo depois da quimioterapia, as cirurgias não acabaram. Foi preciso reconstruir as mamas, que haviam passado por mastectomia total. O problema é que na primeira cirurgia a prótese se deslocou por falta de repouso, forçando a passar por outro procedimento. Na segunda mama foi diferente: a prótese infeccionou.
Essa intercorrência a obrigou passar 10 dias no hospital, fazendo sessões especiais para propiciar uma cicatrização. “Depois, quando voltei a passar por vários médicos, de especialidades diferentes [cardiologista, clínico geral, endocrinologista, etc], todos disseram que eu poderia ter morrido por conta da infecção, já que ela foi muito feia”, conta.
Vida mais leve
Dezoito cirurgias depois, Linda se viu livre do câncer e com a autoestima novamente restaurada. “Hoje estou aqui, vivinha e cuidando da minha neta”, comemora, mais de uma década depois de dar adeus aos tumores.
Linda conta que o câncer a fez mudar a maneira de levar a vida. “Antes eu pensava muito na limpeza, vivia nervosa, queria tudo em ordem. Hoje não mais. Deixo na mão da empregada e está tudo certo.”
A vida, para ela, se tornou mais leve. “Hoje falo para meu marido. Nossa vida agora é assim: juntar dinheiro e viajar, comer fora. Minhas filhas estão criadas, com a vida certa. A única coisa que tive de dar é a instrução. Já dei, então cada uma caminha com seus pés e agora eu curto a neta”, conta.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo