Cansaço e palidez levou a diagnóstico de leucemia em menina de oito anos

23 de novembro - 2017
Por: Equipe Coração & Vida

Por Eli Pereira

Simone da Silva notou que sua filha Jessyca, de oito anos, começou a ficar amuada e não mostrava mais toda aquela energia habitual – e saudável – de brincar e fazer estripulias pela casa. De uma hora para outra, a pequena Jessyca perdeu o interesse pela sua boneca e só ficava quieta no sofá. A mãe estranhou, afinal, a agitação fazia parte da personalidade da menina.

No decorrer de uma semana, Jessyca continuou apática e Simone e o marido resolveram levá-la a um hospital. Os exames de sangue constataram que a criança estava com anemia ferropriva – deficiência de ferro para formar os glóbulos vermelhos. Depois de prescrito o medicamento específico para o problema, Simone notou que Jessyca, em vez de melhorar, estava ficando cada dia mais pálida.

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

“Levei a minha filha três vezes no hospital, porque ela não melhorava. Dei o medicamento que receitaram, mas ela não melhorava. Quando dava uma semana e via que ela não estava bem, voltava ao hospital. E ela não reagia”, lembra a mãe.

Quando foi pela terceira vez ao hospital, diz ter tomado bronca da médica pela insistência. “Eu expliquei que estava fazendo o meu papel de mãe, pois não via melhora alguma na minha filha.”

Nesse dia, colheram mais um exame e descobriram que a menina estava também com infecção urinária. Antibióticos prescritos, Simone também continuou seguindo a recomendação médica para uma alimentação específica para anemia e administração de sulfato ferroso. “Minha filha ficou até com náuseas, de tanto que comia.”

A palidez se intensificou e a preocupação de Simone também. “Minha filha nunca faltava na escola, nunca reclamava de ir para a aula. Porém, ela começou a reclamar que as pernas estavam doendo, que tudo estava doendo. Como mãe, comecei a me desesperar. Minha filha não queria brincar mais. Isso estava me matando”, relembra.

Como Jessyca estava em casa para tratar a infecção urinária, Simone notou, quando a filha acordou, que ela estava com febre alta. “Estava queimando de febre e vomitou uma água verde. Avisei meu esposo que ela não estava legal e resolvemos levá-la ao médico novamente, dessa vez em um Pronto Atendimento perto de casa, pois geralmente eles colhem exames rápidos.”

Com os exames recentes em mãos, um dos pediatras de plantão pediu um novo hemograma e, antes do resultado, já denunciou pelo olhar que o caso não era simples. “Ele disse: ‘mãezinha, ela está com uma palidez…’, e suspirava, mas não me dizia nada”, lembra.

Simone foi aguardar o resultado dos exames em casa e, logo depois, o hospital ligou e pediu que voltasse lá com urgência para colher uma segunda dose de exames. No dia seguinte, quando os resultados finalmente saíram, Simone conta que dois pediatras chamaram para uma conversa particular, e a notícia a fez perder o chão.

“Eles falaram que a Jessyca tinha suspeita de Leucemia Linfoide Aguda [LLA], mas como ali era um Pronto Atendimento, não tinham recurso para estudar a doença, mas que ela precisava ser internada pois precisava de sangue com emergência, e aí passaria por exames específicos”, lembra.

Já no hospital, Jessyca ficou três dias internada e foi transferida para o Hospital Santa Marcelina, referência em tratamento de câncer infantil. Os exames constataram que a menina realmente estava com LLA, porém de baixo risco, mas que precisaria passar pelo tratamento tradicional, de quimioterapia.

Jessyca, conta Simone, foi quem transmitiu força a ela e ao marido. “Ela tinha mais força do que eu e o pai dela juntos. Até na hora de o cabelo cair, ela não chorou muito. E olha que ela tinha o cabelo bem comprido”, lembra.

“Graças a Deus, Ele deu força para ela. Ela não ficou tão debilitada com a quimioterapia. Vinha embora bem. Teve uma única quimioterapia que a fez vomitar – mas não com frequência. Até a quimioterapia vermelha só fez cair o cabelo”, agradece.

Na terceira série, Jessyca faltou pouco às aulas durante o tratamento e até tirou 10 em matemática. “Ela só ficou afastada quando fez um bloco de quimioterapia que derrubava as defesas do organismo, então os médicos pediram que a criança fique mais reservada. Fora isso, teve liberdade de ir para a escola”.

Oito meses depois, Jessyca pode comemorar que já não tem mais o câncer em atividade e agora está na fase de manutenção, tratamento que dura pouco mais de um ano, necessário para evitar a recidiva da doença, e entrou na estatística dos 80% de cura para a leucemia infantil.

LLA

Não se sabe ao certo ainda o que é que causa câncer na infância. De acordo com Cecília Lima da Costa, oncopediatra do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, apenas uma minoria desses cânceres tem causa hereditária. Os outros ainda são um mistério para a ciência.

De todos os tipos de câncer, apenas de 1% a 2% são os infantis. Dentre eles, 30% são as leucemias e 25%, tumores cerebrais, explica o diretor médico da unidade infanto-juvenil do Hospital de Câncer de Barretos, Luiz Fernando Lopes.

Sidnei Epelman, presidente da TUCCA (Associação para crianças e adolescentes com câncer) explica que a leucemia linfoide aguda (LLA) é a principal neoplasia na infância. “Surge do nada. Uma febre que não se acha a origem, em que a criança começa a ficar mais fraquinha, ter mais infecções, ficar mais caidinha”, afirma.

“Vai desde sinais mais fracos até apresentações muito mais graves, como aumento dos gânglios, fígado e baço. Para a criança que não está bem e não tem um diagnóstico ainda, colhe-se um hemograma no pronto-socorro e já aparece sinais de que a medula não está funcionando direito”, reitera.

A medula é a “fábrica de sangue”. Quando há leucemia, os glóbulos brancos (de defesa), os vermelhos (que impedem a anemia) e as plaquetas (que controlam os sangramentos) cedem lugar aos blastos leucêmicos, células de câncer que tomam conta do corpo, se não feito o tratamento.

Para diagnosticar com certeza e iniciar um tratamento preciso, é necessário exames específicos, o mielograma, que colhe material da medula da criança. Além disso, Epelman explica que hoje já se faz a imunofenotipagem, um exame que consegue determinar se o câncer é de alto ou baixo risco, direcionando para um tratamento mais forte ou menos intenso.

“A gente conhece muito a doença, então sabemos se temos de tratar muito ou pouco, de forma agressiva ou não”, conta. Isso evita que a criança com uma leucemia de baixo risco seja exposta a quimioterapias desnecessárias para curar a doença, ao passo que, aquelas que estão com uma versão mais agressiva da doença, são tratadas adequadamente e a tempo de exterminar o câncer.

Atenção aos sinais

Diagnosticar precocemente é fundamental para um bom tratamento, por isso os pais ou cuidadores devem ficar atentos aos comportamentos das crianças. Se a criança de repente começou a ficar mais quieta do que o normal, é necessária uma avaliação do pediatra.

Como os sinais do câncer são muito parecidos com os de outras doenças mais simples, o olhar treinado do pediatra que acompanha a criança é fundamental para identificar se algo está errado.

“O diagnóstico precoce é quando a doença anda está restrita. Se a criança tem leucemia e demorar muito tempo para perceber, quando ela chegar ao hospital será mais difícil de tratar”, alerta.

Alta taxa alta de cura

O meio ambiente é responsável por 80% dos casos de câncer em adultos. Fumo, má alimentação, excesso de álcool e radiação solar estão entre os principais causadores da doença.

O câncer infantil, no entanto, apesar de não ter uma causa definida, tem altas taxas de cura, mais que em adultos.

A oncopediatra do Hospital A.C. Camargo Cancer Center explica que elas podem chegar a 80% ou 90%, em alguns tipos de câncer. O diagnóstico precoce, no entanto, é que vai mostrar se as taxas podem ser mantidas.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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