Thassio Borges

Há um mês o Brasil estava completamente envolvido com a Copa do Mundo, que após 64 anos voltava a ser realizada no “país do futebol”. O torneio terminou, mas a febre pelo esporte não e, mais do que falar sobre futebol, muitos brasileiros gostam de arriscar seus próprios passes e jogadas em clubes, condomínios, parques públicos ou quadras alugadas. Como a correria do dia a dia costuma limitar essa atividade a um dia da semana, os especialistas alertam para o risco de a diversão terminar em lesões.

“Há dois tipos de riscos. Um é cardiovascular, que envolve a possibilidade de a pessoa, especialmente acima dos 30 anos, ter um infarto ou uma parada cardiorrespiratória porque está sem condicionamento físico, muitas vezes obesa e com uma série de alterações que favorecem um advento cardíaco. No que diz respeito à parte ortopédica, há sempre um risco de lesão, não só no futebol, mas em qualquer atividade física”, explica o ortopedista Arnaldo J. Hernandez, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em entrevista ao Coração & Vida.

Segundo o ortopedista, até mesmo os atletas profissionais de futebol, que treinam diariamente, com acompanhamento adequado, têm riscos maiores de lesões, especialmente após a metade do segundo tempo das partidas, quando já estão fatigados. “Imagine então o risco para alguém que passa a semana inteira sem fazer nenhum atividade física e num dia qualquer resolve jogar futebol durante duas horas”, questiona Hernandez.

Foi o que aconteceu com Rafael Régis, jornalista que costumava jogar futebol na universidade ao menos uma vez por semana, até sofrer uma grave lesão. “Me contundi depois de uma dividida com um jogador do time adversário, mas na verdade o que ocasionou a lesão foi o momento da queda, quando acabei batendo a parte lateral do joelho direito no chão. Continuei a partida normalmente mas, após o jogo, com o corpo frio, comecei a sentir dores na região”, revela. Após os exames constatou-se a ruptura do ligamento cruzado anterior, o que acabou afastando o jogador amador das quadras por mais de um ano.

Segundo o ortopedista, quem pratica atividade física somente uma vez por semana fica mais exposto às lesões porque a “fadiga vem muito rápido, sem mecanismos de compensação”. “É muito comum que essas pessoas dediquem no final de semana duas, três horas para jogar futebol em várias partidas de 20 ou 30 minutos. Apesar de a atividade ser intercalada, cada vez que ele volta para a quadra sua musculatura vai fatigando, perdendo o controle e aumentando a chance de uma lesão. Ela pode ocorrer tanto por trauma direto (quando o atleta não previa o choque com o adversário, porque seu reflexo já está debilitado) como sozinha (quando, cansado, não faz corretamente o movimento e acaba, por exemplo, torcendo o joelho ou pé)”, completa.

O ideal, segundo o médico, seria praticar exercícios aeróbios e de força ao menos duas vezes por semana, de modo a adquirir condicionamento físico. “Se você não tem um condicionamento físico para esse padrão de movimento, a chance de ter uma lesão muscular no futebol é muito grande. O músculo precisa estar treinado para esses movimentos”, frisa o ortopedista.

Apesar disso, Hernandez sabe que muitos atletas amadores infelizmente não encontram tempo em suas rotinas para aumentar a frequência de atividades físicas durante a semana. Como ele mesmo indica, praticar algum esporte uma vez por semana é melhor do que não praticar nada.

Para diminuir o risco de lesões, o especialista aponta duas recomendações básicas: uma avaliação médica para verificar fatores de risco para problemas cardíacos, e uma menor intensidade da atividade física no futebol. “Nessa uma hora de jogo não é necessário mostrar que você é o craque do time, que sabe fazer tudo. O risco aumenta pra quem tem uma personalidade muito competitiva”, avalia.

Além disso, o médico aconselha algo que Rafael passou a fazer somente após retornar lentamente às quadras. “Atualmente, sempre que jogo procuro fazer um aquecimento mais longo, voltado principalmente à região que lesionei”, afirma o jornalista. Para Hernandez, o conselho final é simples, mas muitas vezes negligenciado. “Você está lá pra encontrar os amigos, para se mexer, se divertir, ganhando ou perdendo.”