Especial: Desafios da Depressão

20 de agosto - 2014
Por: Equipe Coração & Vida
Doença ainda é alvo de preconceito, mesmo entre aqueles que são diagnosticados / Foto: Shutterstock
Doença ainda é alvo de preconceito, mesmo entre aqueles que são diagnosticados / Foto: Shutterstock

Thassio Borges

A morte do ator Robin Williams no último dia 11 reacendeu um debate que, na verdade, nunca deveria ser deixado de lado. Acometido pela depressão, o comediante convivia também com o alcoolismo e recebeu recentemente o diagnóstico de Mal de Parkinson. Afinal, a depressão pode ser considerada, de fato, a doença do século? O preconceito ainda atrapalha o diagnóstico e o tratamento? As mulheres são realmente mais propensas à enfermidade?

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Coração e Vida consultou especialistas, pesquisou e buscou dados que pudessem ajudar a responder essas perguntas. O resultado você confere em duas reportagens especiais, além de uma entrevista com o Dr. Renério Fráguas Junior, do Serviço de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (Ipq USP).

Vale lembrar que é possível tratar a depressão. Tanto a rede pública de saúde quanto a privada oferecem psiquiatras que poderão prescrever antidepressivos eficientes no tratamento a longo prazo. Os remédios deste tipo têm evoluído cada vez mais, evitando a dependência e os efeitos colaterais.

Muitos planos de saúde também contam com uma quantidade mínima de sessões de terapia com psicólogos a partir da recomendação médica para seus filiados. Diversas universidades, incluindo as particulares, oferecem serviços gratuitos com psicólogos em formação em seus próprios campus, em horários flexíveis para os pacientes.

Além disso, é importante mencionar que o tratamento contra a depressão inclui outras atividades, as quais tratamos de forma mais detalhada nesta reportagem. Abaixo você confere a primeira parte do Especial Desafios da Depressão.

Queda livre

Em seu livro O Demônio do Meio-Dia – Uma Anatomia da Depressão, o escritor norte-americano Andrew Solomon descreve – com a exatidão de quem enfrenta a doença – quais são as principais características da depressão. “Sabe aquela sensação de queda livre que se tem em sonho? A depressão é ter essa sensação prolongada por dias e dias”, escreve o romancista, que enfrentou um quadro profundo da enfermidade aos 31 anos.

O livro de Solomon foi escolhido pelo jornal britânico The Times um dos cem melhores da década e o autor foi convidado a participar de um debate sobre essa e outras de suas obras na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano. Segundo o romancista, cerca de 3% dos norte-americanos (19 milhões) sofrem de depressão crônica. A depressão, indica o autor, é a principal causa de incapacitação nos Estados Unidos e no exterior para pessoas acima de cinco anos de idade.

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Infográfico: Zoio

“Mundialmente, inclusive nos países em desenvolvimento, a depressão responde pela maior parte do conjunto de doenças, calculado segundo mortes prematuras somadas a anos-vida saudáveis perdidos para a incapacidade, do que qualquer doença, exceto as cardíacas”, escreve no livro O Demônio do Meio-Dia.

No Brasil, de acordo com números do Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), o número de mortes relacionadas à depressão cresceu 705% no país entre 1996 e 2012, passando de 58 para 467 óbitos. Os dados mais confiáveis (já que muitos pacientes ainda ocultam a doença, por vergonha ou medo) provêm da Organização Mundial da Saúde (OMS) e indicam que 15% da população mundial tem depressão. O assunto ganha ainda mais relevância quanto artistas expõem sua luta contra a enfermidade e, muitas vezes, escancaram suas derrotas.

Ator foi encontrado morto no último dia 11 / Foto: Wikicommons
Ator foi encontrado morto no último dia 11 / Foto: Wikicommons

Aos 63 anos, após uma carreira agraciada com um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1997, Robin Williams foi encontrado morto em sua casa. De acordo com sua família, o ator tratava o alcoolismo e havia sido diagnosticado recentemente com o Mal de Parkinson, agravando seu estado depressivo. O que a depressão de Williams voltou a mostrar é que a doença não respeita idade, gênero e muito menos condição social.

Natália Silva (nome fictício) foi diagnosticada com depressão em 2012, aos 25 anos, após o término de um longo relacionamento. “Durante o tratamento com o psiquiatra descobri que a depressão já vinha por anos, desde a separação dos meus pais”, afirma. “Na época eu sentia uma forte angústia, tristeza, não tinha vontade de levantar da cama nem para comer. A angústia é a pior das sensações, pois você não sabe por que está sentindo aquilo e só quer se isolar de todos e chorar”, completa.

Natália seguiu o tratamento, mas no ano seguinte veio a pior crise. “Não conseguia dormir e no meio da madrugada comecei a chorar desesperadamente, pedindo que minha mãe me deixasse morrer. A vida não tinha mais sentido. Chorei até perder o ar”, relata a estudante de Educação Física, que afirma ter sentido impacto no trabalho e na vida social.

“Eu não conseguia levantar para trabalhar e muitas vezes chegava atrasada ou faltava no trabalho. Isso com certeza foi visto pelos meus diretores e atrapalhou meu crescimento na empresa. Aconteceu o mesmo com a vida social. Não tinha vontade nenhuma de sair, nem para ir a aniversários de amigos. Só queria ficar na minha cama chorando”, explica.

A melhora veio gradualmente nos meses seguintes, com a associação de diversos tratamentos. Se, por um lado, Natália seguiu o acompanhamento psicológico e os medicamentos receitados por um psiquiatra, foi nos estudos que ela buscou forças para recuperar-se. “Sempre me interessei por esportes e resolvi fazer outra graduação, de Educação Física. Isso me ajudou muito. Os estudos, a ida a faculdade, a descoberta de um novo mundo e de uma nova profissão me fizeram abrir os olhos de que era absurdo ‘pedir para morrer’ com tantas coisas boas que podemos produzir”, avalia.

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