Cirurgia bariátrica requer preparo psicológico
Milla Oliveira
A cirurgia bariátrica, como é conhecida a redução do estômago, é atualmente utilizada como o método mais eficaz de tratar a obesidade mórbida. Engana-se, porém, quem imagina que o processo acontece da noite para o dia: o acompanhamento do paciente começa meses antes do procedimento e inclui avaliações psicológicas.
Confira quem pode fazer a cirurgia
As equipes formadas para este tipo de cirurgia costumam ser multidisciplinares e envolvem a participação de psicólogos, psiquiatras, além do próprio cirurgião e de outros profissionais. O cuidado faz parte do procedimento e existe, inclusive, um alerta da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) a respeito de mudanças que podem ser provocadas pelo processo. Para a SBCBM, o paciente pode enfrentar conflitos psicológicos após a redução, sendo necessário enfrentar um processo de adaptação à nova condição.
A entidade frisa ainda que, além da ansiedade pela privação da comida, pode haver incremento do comportamento explosivo e humor irritativo ou ainda o isolamento depressivo do paciente, dependendo do perfil psíquico de cada um.
Ansiedade era o problema que afetava o publicitário Marcelo Moraes, de 46 anos. Para ele, o acompanhamento psicológico realizado antes da cirurgia que o fez perder 65 quilos foi fundamental para que sentisse realmente feliz com o procedimento.
Moraes descobriu que a ansiedade era o que de fato o levava a comer mais e passou a atacar o sentimento com o tratamento complementar. “O acompanhamento me mostrou que eu não posso descontar a minha ansiedade no garfo”, disse.
Para o médico responsável pela unidade de cirurgia bariátrica do Hospital das Clínicas, Marco Aurélio Santo, o componente afetivo de cada paciente é único e o apoio multiprofissional torna-se importante para identificar problemas ainda no pré-operatório.
O médico aponta, no entanto, que, com exceção dos casos extremos , não é interessante tirar do paciente o direito de realizar a cirurgia. “Às vezes, a própria obesidade influencia nos problemas psicológicos do paciente e a cirurgia pode trazer muitos benefícios nesse sentido”, aconselha.
O administrador Anderson Porto, de 27 anos, conta que fez acompanhamento psicológico durante oito meses: três antes da cirurgia, realizada em 2011, e cinco após o procedimento, que o fez perder 59 quilos.
Para ele, o apoio que recebeu foi benéfico, pois trouxe melhora na sua relação com a comida e o ajudou a tratar a compulsão por álcool que adquiriu após a cirurgia. “Tento me controlar ocupando meu tempo com outras coisas como viajar e trabalhar”, diz.