A dieta antes da grande transformação
Quando as pessoas vão até os médicos especialistas para conhecer, entender e talvez passar por um procedimento como a cirurgia bariátrica, um dos primeiros pontos é discutir sobre todas as vantagens e desvantagens do tratamento. E isso tem tanto a ver com o pós-operação quanto com os acontecimentos que precedem a bariátrica.
Cirurgia bariátrica requer preparo psicológico
A gastroplastia, também chamada de cirurgia bariátrica ou de redução do estomago, é realizada em pessoas com o peso muito acima do ideal, os chamados obesos mórbidos. Em geral, ela passou a ser recomendada quando a obesidade atinge um nível crítico, em que a atividade física e o controle alimentar não conseguem causam o efeito de reduzir o peso, e pode ser feita por meio de alguns tipos diferentes de procedimento.
Algumas informações costumam ser lembradas e reforçadas pelos profissionais da saúde ao avaliar um novo caso. São circunstâncias que não podem ser consideradas “menores” ou abordadas de modo casual. A dieta alimentar que vem antes da cirurgia é um desses pontos.
A dieta pré-bariátrica não é sempre indicada de um mesmo modo – cada caso se apresenta com um quadro particular e os diagnósticos ideais ainda são discutidos pelos médicos. A perda de peso antes das cirurgias, por exemplo, é assunto controverso.
“Às vezes, uma dieta para perder alguns quilos antes da cirurgia pode ser necessária em alguns pacientes a fim de melhorar a condição física”, diz a endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Claudia Cozer.
“Mas o primordial é a reeducação do indivíduo sobre comer com consciência, comer sem pressa, mastigar bem, observar as quantidades ingeridas. Tudo para que ele tenha uma boa qualidade de vida pós-operatória”, completa.
A maioria das equipes multidisciplinares, que podem reunir gastroenterologistas e mesmo psicólogos, pede aos pacientes que mantenham dieta líquida hipocalórica para perdas de peso e melhora das condições clínicas e operatórias nas 24 horas antes da intervenção. Antes disso, nos meses que a precedem, a indicação é apenas que a alimentação seja balanceada e sem exageros.
A orientação de especialistas, nesse período, é que o indivíduo preste muito mais atenção na saciedade – para interromper a ingestão de alimentos quando não sentir mais fome (colocando porções menores no prato, não repetindo, evitando comer enquanto realiza outra atividade, como ver televisão, usar computador, etc.). E que ele coma em horários regulares, para disciplinar a rotina.
“Obviamente, se nessa fase o paciente conseguir diminuir a ingestão de calorias e perder peso, isso vai ajudar no ato da cirurgia e pós-operatório. Mas esse tempo é individual, depende das necessidades pré-operatórias de cada paciente – e pode envolver desde uma consulta até vários meses de preparo”, lembra Claudia.
Não há estudos que comprovem a necessidade de perder peso antes de passar pelo procedimento. Mas o ganho de peso, como algumas pessoas costumam acreditar – o famoso “precisa engordar mais, para estar em um nível de obesidade que permita a cirurgia”, isso é discutível.
A indicação de cirurgia bariátrica, em si, como procedimento clínico, não obedece a critérios individuais – não leva em consideração a história de vida da pessoa ou sobre como ela ganhou tanto peso e as tentativas para perdê-lo. Ela respeita critérios instituídos pela Organização Mundial de Saúde, como o IMC (Índice de Massa Corpórea).
“Só podemos indicar a cirurgia se o paciente tiver IMC acima de 35kg/m2 com morbidades ou IMC maior do que 40kg/m2. Isso exclui uma faixa de pacientes que talvez teriam indicação e benefícios com a cirurgia, mas não podem ser incluídos por causa do ‘baixo peso’”, explica a endocrinologista.
Praticar um ganho de propósito para se tornar elegível, no entanto, é arriscar a própria saúde e a vida. E vai contra a premissa básica sobre a dieta pré-bariátrica: ter um especialista sempre no comando.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo