A Saúde do Homem

10 de novembro - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Por Miguel Srougi

Miguel Srougi é professor titular de Urologia na Faculdade de Medicina da USP - Foto: Folhapress
Miguel Srougi é professor titular de Urologia na Faculdade de Medicina da USP – Foto: Folhapress

O passar dos anos, com suas transformações incontornáveis, acompanha-se de tamanha deterioração dos nossos genes que, se fosse dada ao homem idoso a facilidade de se reproduzir, seriam gerados seres altamente imperfeitos. Talvez, por isso, a pressão evolucionista ou Deus (na ordem ou exclusividade que você preferir) tenha criado três mecanismos impiedosos para conter as diabruras do homem maduro: o câncer da próstata, a impotência sexual e a andropausa.

Alguns argumentam que o aparecimento desses problemas com a idade seria apenas coincidência. Pode ser, mas acho tudo meio estranho. Mesmo sem ter tido a honra de conviver pessoalmente com Darwin ou com Deus, mas certo da sabedoria de ambos, dou-lhes meu crédito. Afinal, atingido por qualquer um desses três problemas, nenhum homem conseguirá se reproduzir e gerar seres infelizes.

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A grande relevância desses três problemas tem produzido um fluxo elevado de informações, muitas bem postas, outras desencontradas e aflitivas. Por isso, atrevo-me a escrever um pouco sobre eles, com a esperança íntima de aliviar apreensões indevidas.

Cerca de 18% dos homens serão atingidos pelo câncer de próstata, mas apenas 9% desses casos morrerão pela doença. A conclusão óbvia é que a maioria dos pacientes sobrevive ao câncer, alguns por portarem tumores pouco agressivos, que não progridem, outros graças à ação médica curativa.

Os especialistas dispõem, atualmente, de instrumentos para identificar os casos indolentes e conseguem, com isso, evitar tratamentos desnecessários e carregados de problemas.

De acordo com estudos recentes cerca de 20% dos tumores de próstata identificados em exames preventivos são do tipo indolente. Como características, essas lesões são constituídas por células menos agressivas, acompanham-se de valores sanguíneos mais baixos do antígeno prostático específico (PSA) e são encontradas em poucos fragmentos da biópsia.

A causa precisa do câncer da próstata é ainda ignorada, mas são reconhecidos, atualmente, três fatores de risco. O primeiro é a presença de outros casos na família, que aumenta de duas a cinco vezes as chances de se contrair a doença. O segundo fator de risco é a raça. A incidência do câncer de próstata é 70% maior em negros e é sete vezes menor em indivíduos da raça amarela e em índios nativos. Quando esses dois grupos assumem os hábitos “ocidentais”, a frequência da doença eleva-se significativamente, indicando que fatores ambientais e estilo de vida devem ser importantes para o aparecimento desse câncer.

Infelizmente, pacientes com câncer de próstata podem ser punidos por se tratarem e, também, por não se tratarem. Entre 85% a 90% dos casos com lesões limitadas à glândula são curados com cirurgia radical, radioterapia externa, braquiterapia ou medicações hormonais. Para isso, pagam um preço, pois podem ter qualidade de vida comprometida pelos efeitos adversos do tratamento, que incluem disfunção sexual, descontrole e perdas urinárias, problemas intestinais persistentes, descalcificação óssea e outros.

Sobre a disfunção erétil, saliento que esse risco é 20% menor nos homens casados. A influência da idade sobre o aparecimento de disfunção erétil grave não é desprezível, já que, antes dos 50 anos, ela é encontrada em menos de 10% dos homens, aos 60 anos atinge 30% deles e, depois disso, essa taxa multiplica-se de forma implacável.

A ideia de que a interrupção da vida sexual apenas priva seus protagonistas de prazeres que podem ser compensados é ingênua. Estudiosos da área há muito demonstraram que depressão, queda da autoestima e modificações de comportamento passam a dançar com os pacientes, numa coreografia perversa.

Outros fatores não causam diretamente, mas podem facilitar o aparecimento do problema. Os riscos de disfunção dobram ou triplicam em homens com depressão, hipertensão, obesidade, níveis elevados de colesterol e consumo exagerado de drogas “recreacionais” ou de álcool. Da mesma forma, fumantes que consomem mais de 30 cigarros por dia têm 2,3 vezes mais chances de desenvolver disfunção erétil.

Questões como a decadência física que atinge o homem maduro sempre assombram a mente humana e, para explicá-las, uma vilã foi identificada: a andropausa. Apesar do grande número de estudos a respeito, a existência da andropausa tem gerado enorme controvérsia entre os médicos. Alguns consideram-na uma entidade real, apenas não tão óbvia como a menopausa, já que não atinge todos os indivíduos e, quando o faz, instala-se de forma lenta.

Para os adeptos dessa concepção, a andropausa resultaria da queda dos níveis de hormônio masculino no sangue, a testosterona, e seria responsável por manifestações inconvenientes, como diminuição da força e massa muscular, problemas de memória, redução da potência sexual, depressão e descalcificação óssea.

Ainda de acordo com esses especialistas, a administração de testosterona seria capaz de reverter todos esses efeitos indesejáveis.

Continuo sem saber se a impotência sexual, a andropausa e o câncer da próstata estão sendo utilizados como instrumentos para impedir o homem maduro de se reproduzir. Pior ainda, sem saber como evitar a desolação causada por esses problemas, apesar de algumas notícias alentadoras que tenho recebido.

Enquanto os doutores não chegam a um consenso, recomendo a todos os homens que parem de fumar, exercitem-se bastante e bebam bastante vinho.

Se vão evitar aquelas situações de embaraço, a senescência ou os incômodos da próstata, não garanto, mas certamente atravessarão os anos da maturidade tossindo menos, mais ágeis e… mais alegres.

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