Acolhimento a quem perdeu alguém por suicídio é fundamental
Números da Organização Mundial da Saúde apontam uma morte por suicídio a cada 40 segundos no mundo. Dados mostram também que 17% dos brasileiros já pensaram em suicídio, mas, de acordo com a OMS, 90% dos suicídios podem ser evitados. Sim, há saída para quem está pensando em tirar a própria vida. A pessoa pode ligar gratuitamente para o Centro de Valorização da Vida (CVV), no número 141. O CVV promove apoio emocional e de prevenção ao suicídio.
E quem fica?
O sofrimento de quem teve algum familiar ou amigo que cometeu suicídio é grande. De acordo com Claudia Fischer e Maria Alice Fontes, psicólogas da Clínica Plenamente, a prática clínica indica que, para cada suicídio, em média, cinco ou seis pessoas próximas à vítima costumam sofrer intensas consequências emocionais, sociais e econômicas nos meses e até anos que sucedem o acontecimento.
Os números chamam a atenção para o fato de que, além de buscar formas para diminuir a taxa de suicídio do Brasil, é preciso também um olhar cuidadoso e atencioso para os mais próximos da pessoa que faleceu, sejam familiares ou amigos.
Preconceito que atrapalha
As psicólogas explicam que o suicídio ainda está carregado de preconceito e julgamento, tornando o processo de luto ligeiramente mais difícil do que aquele enfrentado por mortes causadas por outros meios/situações.
Elas alertam que, após o suicídio, familiares e amigos da vítima podem intensificar sentimentos de vergonha, raiva e culpa em seu processo natural de luto. As especialistas apontam cuidados que podem ser tomados por terceiros para evitar que a situação se torne ainda mais difícil por quem a enfrenta.
De acordo com as psicólogas, relembrar o enlutado do que ele fez ou significou na vida da pessoa que se suicidou é uma forma de ajudar a tratar o sentimento de culpa. Além disso, oferecer um ombro amigo para que a pessoa chore e expresse seus sentimentos mais profundos e doloridos é uma forma de confortar quem perdeu um ente querido.
Ouvir com atenção e não minimizar os sentimentos de luto é fundamental e é uma forma de respeitar e ajudar o outro a elaborar sua dor. E lembre-se, emitir opiniões próprias sobre o ocorrido ou falar sobre como as religiões enxergam o suicídio é inadequado para o momento.
Saber ouvir
As psicólogas ressaltam que, justamente em função do estigma social, há pouco suporte social ao enlutado. No processo de luto, ao tentar confortar alguém, mais importante do que falar é saber ouvir.
“Querer ajudar com clichês e tentar ocupar o silêncio com frases prontas e opiniões não vai ajudar. Muitas vezes, o sobrevivente se sente muito isolado porque as pessoas a sua volta se sentem constrangidas ao lado do enlutado ou fazem de conta que nada aconteceu. Isso só causará desconforto”, explicam.
“Por fim, evite dizer que você sabe o que o enlutado está sentindo, se você não passou por situação semelhante. É impossível dizer que consegue imaginar como é essa dor. Cada um enfrenta os sentimentos relacionados com a morte de diferente forma e existem vários tipos de elaboração psicológica”, completam.
Apoio profissional e voluntário
Falar sobre o suicídio após o acontecido pode evitar que familiares e amigos próximos sintam-se em situação semelhante. “É preciso deixar de ter medo de falar sobre suicídio e compartilhar informações apropriadas ligadas ao tema. Educação é um fator de prevenção”, sustentam.
“As intervenções realizadas após um acontecimento autodestrutivo têm como alvo os sobreviventes, os que sofreram de maneira muito próxima com o suicídio, o que também pode ser uma forma de prevenção para futuras gerações”, afirmam.
Se você passou por uma situação como essa, tente conversar com pessoas próximas, mas entenda que a ajuda profissional pode ser de grande valia. Um exemplo para quem deseja dar o primeiro passo é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e de prevenção do suicídio.
A instituição atende de forma voluntária e gratuita todos aqueles que precisam conversar e expor suas angústias. O serviço é sigiloso e pode ser feito por telefone (141), e-mail, chat e voip, em qualquer dia da semana, em qualquer horário. Mais informações sobre o atendimento podem ser obtidas através do telefone 188.
“Atualmente há psiquiatras e psicólogos especialistas em luto, além de grupos de apoio presenciais e virtuais, que podem ajudar na elaboração deste processo de forma mais saudável. O sofrimento é muito grande, mas um bom trabalho psicoterapêutico, de suporte ou aconselhamento pode ajudar a tornar esta dor mais tolerável”, finalizam as psicólogas.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo