Coração & Vida alerta para cuidados com fogos de artifício
Por acidente, a pele ficou exposta ao sol extremo, ao forno e ao fogão ou, muito pior, aos fogos de artifício. E então, o que se deve fazer?
Nos finais de ano, todas as situações descritas acima ficam mesmo mais propensas a acontecer. Muito mais.
As festas natalinas e de Réveillon preveem, de fato, que todo mundo fique mais perto dos acidentes na cozinha, lidando com grandes formas de assados, por exemplo, ou acabe se atrapalhando com rojões ou esquecendo o protetor solar.
Tratar qualquer tipo de queimadura, no entanto, não deve se basear naqueles conselhos da vovó – e sim nos cuidados médicos.
Se for complicado evitar as queimaduras – já que, nos finais de ano, ou a cabeça está carregada de afazeres ou muito distraída nos detalhes –, o melhor é curar com eficiência. Primeiramente, é bom entender o que acontece com a pele.
As queimaduras acontecem quando os tecidos do corpo ficam expostos à ação de uma fonte de calor. Pode ser por radiação, no caso do sol, por meio de objetos quentes (como o ferro que passa o vestido de festa, por exemplo) ou substâncias quentes – bem comum na cozinha, onde água e todo tipo de comida estão fervendo nas panelas.
Conforme o grau da queimadura, ou a profundidade da ação, um tipo diferente de evolução vai acontecer na pele e nos tecidos, diferenciando aí as possíveis sequelas e, claro, os modos de tratamento.
As queimaduras chamadas de primeiro grau são aquelas em que o calor afeta a camada superficial da pele, a epiderme. Elas causam grande vasodilatação e, por isso, a área queimada fica com aquela cor característica, bem vermelha. Fica também a dor e, muitas vezes, a sensação ardida, que piora quando tocada. Mas a recuperação é até ligeira: o tecido lesionado se reconstitui ao longo das primeiras 24 a 48 horas, curando em cerca de 3 ou 4 dias e sem deixar quaisquer cicatrizes.
Nas queimaduras um pouco mais graves, de segundo grau, a lesão atinge as camadas mais profundas da pele, a derme. A característica desse tipo de queimadura é a presença de bolhas, inchaço e dor intensa. Acontece normalmente a perda da camada superficial da pele e pode ocorrer também perda de água e de sais minerais, causando um quadro de desidratação.
Essas queimaduras são dolorosas – e a evolução depende da profundidade da queimadura. O epitélio costuma se regenerar só depois de uma ou duas semanas e não deixar cicatrizes. Porém, se a queimadura for mais profunda, o tempo de cura será maior e é possível notar algumas marcas e manchas permanentes.
O pior acontece com as queimaduras de terceiro grau. Nelas, ocorre lesão de toda a pele, atingindo os tecidos mais profundos, os músculos ou até os ossos. Curiosamente, esse tipo pode não ser doloroso, já que as terminações nervosas que causam dor são destruídas junto com a pele.
A cura de uma queimadura de terceiro grau pode levar muito tempo – meses e até anos, podendo nem haver a regeneração completa de forma espontânea. A cicatrização é desorganizada e pode ser preciso fazer cirurgias de reparação com enxerto de pele retirada de outras regiões do corpo.
O que fazer em caso de acidente?
No geral, uma queimadura entre leve e mediana requer um primeiro passo emergencial: aplicar água fria em abundância na área queimada durante pelo menos 10 a 15 minutos e, se possível, também lavar com soro fisiológico.
Daí é secar a área com bastante cuidado, para evitar contatos com a queimadura, causando dor e mais lesões. Também é bom desinfetar a área com um antisséptico comum, de preferência sem cor ou cheiro. E certifique-se de que ele não contém álcool, porque isso pode agravar a queimadura.
Pomadas ou cremes só devem ser aplicados em queimaduras de primeiro grau – e se forem queimaduras provocadas por alimentos ou superfícies quentes ou exposição ao sol excessivo, por exemplo. Outros tipos de queimaduras precisam ser vistos por um profissional de saúde antes de usar qualquer remédio (queimaduras com produtos químicos, por exemplo, pedem cuidados especiais).
Numa queimadura grave, deve-se procurar um pronto atendimento médico com urgência. E adotar algumas medidas até conseguir ser atendido, como retirar a roupa sobre a área queimada com bastante cuidado (mas sem forçar a remoção, senão o tecido “colado” pode causar danos gravíssimos à pele).
Da beleza à dor
Os fogos de artifícios, no entanto, são um caso à parte. Um acidente com esse tipo de material traz muitas vezes laceração completa dos tecidos – e, inclusive, risco de queimaduras nos olhos, causando perda de visão.
Para utilizá-los sem riscos, é aconselhável amarrá-los em cabos de vassouras para manter a distância das mãos e do rosto, afastar as crianças e, em hipótese alguma, deixá-las manusear, além de isolar a área.
Segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), mais da metade dos casos de queimadura nas mãos acontecem em decorrência do uso de fogos de artifício. Cerca de 10% desses casos registram amputação de dedos ou da própria mão.
Um estudo realizado em 2015 pela SBOT apontou 8.500 acidentes e 122 mortes decorrentes de queima de fogos nos últimos cinco anos – sendo a maior causa de óbito as queimaduras graves que envolvem grandes partes do corpo.
O levantamento mostrou ainda que, apesar de ser proibido o manuseio de fogos de artifício por menores de 18 anos, 23% dos acidentes ocorrem com pessoas dessa faixa etária e 20% com crianças de 0 a 14 anos.
É um problema de saúde pública sério, especialmente nessa época – que deveria ser mais para comemorações do que para queimaduras.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo