Alimentação infantil: vale premiar ou castigar?

20 de março - 2018
Por: Equipe Coração & Vida

Alguns pais desenvolveram o hábito de oferecer “prêmios” para que os filhos comam aquilo que está à mesa, ou então para que “raspem o prato”. O principal receio dos responsáveis é que a criança coma pouco ou de forma irregular.

A recomendação dos especialistas, no entanto, é justamente o contrário. De acordo com a nutricionista Simone Ferraz, especialista em Nutrição Pediátrica, o hábito de premiar ou punir a criança diante da refeição é comprovadamente prejudicial.

Respeitar a fome e a saciedade da criança previne transtornos alimentares futuros, além de obesidade. Foto: Shutterstock
Respeitar a fome e a saciedade da criança previne transtornos alimentares futuros, além de obesidade. Foto: Shutterstock

“A comida não é moeda de troca. Castigar também é errado. A criança que deve decidir o quanto vai comer. O papel dos pais é decidir que alimentos comprar, quando e onde será oferecida a comida”, explica a médica, que destaca ainda o fato de as crianças nascerem dotadas da capacidade de autoregulação do apetite.

A especialista explica que esse comportamento dos pais vem prejudicando os próprios filhos ao longo dos últimos anos. Premiar ou castigar o filho para que ele se alimente pode desregular o mecanismo de fome e saciedade, fazenda com que a criança deixe de reconhecer se está saciada ou não. O resultado poderá ser a ingestão excessiva de alimentos, o que levará ao ganho de peso também excessivo ao longo de seu crescimento.

Exemplo vem dos pais

Quando a criança apresenta resistência para comer (ou então a determinado alimento), é comum que alguns pais forcem a alimentação.

De acordo com Simone, no entanto, o hábito não tem nada de saudável para a formação do paladar e desenvolvimento nutricional infantil.

 

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“O papel dos pais é fazer com que o momento da refeição seja agradável e não estressante”, destaca. Ainda de acordo com ela, cabe aos próprios pais servir de modelos para os filhos, mostrando a eles que o consumo de verduras, legumes e alimentos saudáveis é algo natural em suas residências.

“Não adianta querer que a criança coma verduras se ele não vê o pai e a mãe comendo verduras”, salienta a nutricionista.

O que, afinal, é “comer pouco”?

Especialmente durante a criação do primeiro filho, falta aos pais, de maneira geral, a exata noção de quando os filhos estão comendo pouco ou muito. É natural, afinal, as próprias crianças podem ter certa dificuldade para expressar se estão satisfeitas ou não.

Simone explica que esta é uma das principais queixas que recebe em seu consultório: pais que garantem que seus filhos estão comendo pouco. Mas afinal, o que significa “comer pouco” para uma criança?

“As crianças por volta de dois anos diminuem o ritmo de crescimento e o apetite consequentemente diminui. Além disso, nessa fase a criança começa a desvendar o mundo a sua volta e outras coisas passam a ser mais interessantes que a comida. É normal. Os pais devem se preocupar quando a criança fica doente o tempo todo, inapetente ou estacionou na curva de crescimento e ganho de peso [determinada pela OMS]”, complementa.

Atente-se, portanto, aos hábitos alimentares de seu filho. A recusa em comer deve ser interpretada a partir de sua frequência, observando-se também os alimentos que são mais aceitos ou não pela criança.

 

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Premiar ou castigar pode aparecer como a “opção” mais fácil e rápida naquele momento, mas certamente trará hábitos nocivos à alimentação de seu próprio filho em um futuro próximo.

Por fim, vale destacar a recomendação do Ministério da Saúde a respeito da alimentação complementar às crianças a partir dos seis meses.

“A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança”, aponta a pasta, em publicação direcionada a familiares e profissionais de saúde.

 

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Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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