Amamentar, um ato de amor
Por Eli Pereira
A professora e consultora educacional, Lea Veras, 34, é mãe de Bianca há três meses e tinha um objetivo muito claro desde que decidiu engravidar: amamentar a filha. Mesmo sabendo da importância desse ato, o percurso que enfrentou tem suas dores, mas muita recompensa. A nova mamãe precisou, inclusive, recorrer à ajuda de uma consultora de amamentação e de redes sociais para continuar firme em seu propósito. E está dando certo.
Bianca foi amamentada pela primeira vez ainda no quarto de parto. “Eu tinha recebido a orientação de que era muito importante ela vir para o meu peito logo depois do parto, mesmo que não sugasse muito bem. Foi bom para ela sentir o cheiro da mãe, para depois entrar nessa rotina”, lembra Lea.
Depois que seu leite deixou de ser colostro, a bebê teve dificuldade para mamar, pois não conseguia encontrar a pega correta. Como não tinha certeza do que fazer, Lea pediu auxílio em um grupo pró-amamentação nas redes sociais e recebeu a indicação de uma consultora de amamentação. Essa ajuda foi rápida e tranquilizou Lea, que recebeu a orientação do que deveria fazer naquele momento.
“Dois dias depois chamamos novamente a mesma consultora, pois a bebê estava estressada e não conseguia mamar novamente, e ela mostrou como fazer para que a musculatura da bebê ficasse mais relaxada e ela conseguisse sugar. Tivemos esses momentos de dificuldade, e é claro que passa um monte de coisa na cabeça e também o receio de não conseguir mais amamentar, mas a Bianca continuou com um desenvolvimento normal e saudável”, comemora Lea.
E é nos grupos de Whatsapp ou Facebook que muitas mães encontram apoio nas horas de dificuldade. As redes sociais têm se tornado aliadas para mães temerosas de não conseguir amamentar, ou com dúvidas que podem ser resolvidas de forma simples, bem como a troca de experiências. “Essa rede de apoio virtual foi essencial para que eu me sentisse empoderada e buscasse ajuda.”
Amamentando Bianca em livre demanda, isto é, oferecendo o peito sempre que a bebê tem vontade de mamar, Lea conta que é uma rotina cansativa, mas recompensadora.
“Apesar de todo o amor e carinho, nos cansamos e até pensamos: ‘Será que vou aguentar esse ritmo?’. Às vezes, por uma febre ou algo do tipo, Bianca mama durante muito tempo – o que é natural – mas é cansativo e exaustivo. Mas quando você vê a recuperação da sua filha, você esquece o cansaço”, diz, com ternura.
Lea se sente grata por toda rede de apoio que tem, além do mundo virtual. “Tenho apoio de médicos, da minha família, do meu esposo e de amigos. Todo mundo é pró-amamentação”, comemora.
Imunidade, amor, carinho e proteção
Nem todas as mães contam com o mesmo apoio de Lea. Era comum, não muito tempo atrás, parar de amamentar por encontrar dificuldades que poderiam ser resolvidas de forma simples – e não eram, por falta de informação – ou até mesmo deixar de oferecer o leite ao filho por questões estéticas, por medo de os seios jamais retornarem à forma antiga.
O esforço das mães para continuarem amamentando, no entanto, é chancelado por médicos. O pediatra e neonatologista Nelson Ejzenbaum explica que a criança que é amamentada pela mãe desenvolve um sistema imune melhor, ou seja, consegue se defender de vírus e bactérias oportunistas e fica menos doente.
“A amamentação deve ir até dois anos de idade ou mais, porque, além do quesito de defesa do corpo, a mãe também passa carinho, amor e proteção pelo contato e faz com que a criança se sinta protegida e amada”, ressalta.
Ejzenbaum também não acredita em leite fraco. “Algumas não conseguem amamentar por terem passado por algum procedimento cirúrgico, mas 90% das mães têm capacidade de amamentar”, conta. “Existem medicações que podem ser dadas e até manobras a serem feitas para estimular o leite, para aquelas com dificuldade.”
O leite materno, segundo o especialista, que também é membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, é incomparavelmente melhor do que fórmulas infantis, por várias razões.
“Não tem custo, já que vem da mãe. Tem imunoglobulinas, que aumentam as defesas do corpo da criança, e foi feito geneticamente para o filho, com proteínas e gorduras que se encaixam exatamente nas necessidades do bebê. As fórmulas são parecidas, mas ninguém consegue reproduzir exatamente o leite materno”, explica.
Ser a fornecedora desse fluido vital para a vida dos bebês não deve ser a causa de restrição alimentar das mães, segundo o pediatra.
“Ela pode comer de tudo, mas não demais. Pode tomar café na quantidade permitida e até comer chocolate, mas não mais do que 250 gramas por dia. Se gostar de feijão, pode comer. O bebê vai ter cólica de qualquer jeito, comendo ou não comendo”, conta.
Há alguns casos, porém, que a mãe deve restringir a alimentação caso a criança tenha alguma alergia, mas são casos específicos e sempre orientados por um pediatra.
Amamentar, portanto, é um ato de amor que deve ser mantido até o máximo de tempo que a mãe conseguir.
“É possível manter a amamentação mesmo trabalhando. A mãe pode começar a retirar o leite dos seios até 15 dias antes de voltar ao trabalho, e congelar”, conta o médico, explicando que o leite será oferecido nos momentos em que a mãe não está em casa para amamentar.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo