Artrite reumatoide: é possível viver bem com a doença
Por Daniela Spilotros
Sentir dor a ponto de não conseguir escovar os dentes ou ter dificuldade para subir escadas ou para abaixar e colocar os sapatos. Esses são desconfortos comuns de quem sofre de artrite reumatoide, doença autoimune que afeta 1% da população mundial – e caracterizada pelo ataque das células de defesa ao próprio organismo.
O alvo principal são as articulações – mãos, dedos, joelhos, tornozelos, e mais raramente, pode comprometer outros órgãos como pulmão, coração, rins e olhos. O reumatologista Thiago Bitar, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, fala sobre como prevenir as complicações e conviver em harmonia com esse distúrbio inflamatório (mais comum em mulheres entre 30 e 50 anos).
De olho nos sintomas
“O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento aumentam as chances de remissão da doença, ou seja, sintomas controlados e retorno às atividades normais”, explica o médico. Por isso, é importante ficar atento aos sinais: dor e inchaço nas articulações, principalmente de mãos, punhos e pés; e uma rigidez que impede os movimentos. “A pessoa acorda com a sensação de estar enferrujada, com dificuldade de andar e mexer os dedos”.
Tenha hábitos saudáveis
Embora seja uma doença de causas desconhecidas, a predisposição genética é determinante para desenvolvê-la. Outro fator de risco é o tabagismo. “Os fumantes, mesmo sem histórico familiar, estão mais propensos a manifestar esse distúrbio autoimune”, ressalta.
A obesidade também é um complicador. “Pacientes obesos demoram mais para responder ao tratamento, costumam ter mais dor e fadiga”, esclarece. Portanto, mantenha rotina saudável: exercite-se, fique de olho na balança e longe do cigarro. Não é preciso restringir nenhum tipo de alimento. “Tenha apenas uma dieta equilibrada para estar no peso ideal”, diz Bitar.
Mexa-se
Mesmo com inchaço ou dor, a atividade física é sempre indicada. “Melhora a inflamação articular e amplia os movimentos, aliviando a dor”. O reumatologista explica que a doença, quando bem controlada, não limita os pacientes. “Há pessoas com artrite reumatoide que fazem crossfit e correm maratonas”, conta. Vale qualquer modalidade: caminhada, ginástica funcional, natação, dança, musculação, ioga, pilates.
Doença controlada: vida normal
Existem diversas classes de medicamentos que impedem o progresso da artrite. Os mais comuns são conhecidos pela sigla DMARDs (drogas modificadoras do curso da doença), que anulam o processo inflamatório. Caso o paciente não responda ao tratamento, entram em cena os biológicos injetáveis.
Outra medicação mais recente – de custo elevado – é um comprimido que atua sobre uma proteína específica dentro das células. “O objetivo é bloquear a dor e outros sintomas, sem acarretar efeitos colaterais indesejáveis – que podem ser desde náuseas, vômitos e enxaqueca, até infecções de repetição”, explica. “Acertando o remédio e a dose, a pessoa retoma suas atividades normalmente”.
Jamais abandone o tratamento
Com a remissão da doença, é comum que o paciente queira interromper a medicação por conta própria. No entanto, por se tratar de um estado de inflamação sistêmica, existe o risco de comprometimento de vasos e artérias, podendo causar infarto ou derrame cerebral.
Além disso, a artrite mal controlada traz graves sequelas – como a deformação irreversível das articulações. O tratamento é algo para toda a vida, ainda que a doença esteja controlada. Converse com seu médico se é possível diminuir a dose, mas não tome essa decisão por si mesmo.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo