Associação de Pediatria recomenda que bebês durmam no quarto dos pais

07 de novembro - 2016
Por: Equipe Coração & Vida

Na última semana, a AAP (Associação Americana de Pediatria) recomendou que os bebês fiquem perto da cama dos pais por no mínimo seis meses e idealmente durante o primeiro ano de vida para evitar a síndrome da morte súbita.

Ela ocorre quando um bebê, durante o sono, tem algum tipo de surto respiratório, não consegue acordar e acaba morrendo.

Em relatório, a AAP afirma que o compartilhamento de quarto diminui o risco da síndrome em cerca de 50%. O novo manual da associação indica ainda que a cama dos pais não seja compartilhada.

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

O site Coração & Vida conversou sobre o assunto com a presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) e médica da Unidade Clínica de Arritmias Cardíacas do Instituto do Coração (InCor), Denise Tessariol Hachul.

Em 2007, a Sobrac criou o Dia Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e Morte Súbita, comemorado anualmente em 12 de novembro, com a missão de divulgar e alertar a população sobre os principais sintomas de uma arritmia cardíaca, doença que acomete mais de 20 milhões de brasileiros e é responsável pela morte súbita de mais de 320 mil pessoas todos os anos.

Na data, a Sobrac realiza a campanha “Coração na Batida Certa”, cujo objetivo é mobilizar profissionais médicos e da área da saúde para a captação de dados estatísticos e epidemiológicos, fundamentais para subsidiar órgãos competentes para a tomada de decisões que reduzam o impacto das doenças cardiovasculares e mortes no país. Veja aqui vídeos da campanha.

A seguir, a entrevista com Denise Hachul:

C&V – Você concorda com a recomendação da AAP?
Denise HachulConcordo incondicionalmente! Aliás, não só concordo, como assim agi com meus 3 filhos, atualmente adultos e saudáveis. Fico satisfeita com essa grande mudança de paradigma, pois, naquela época, embora os pediatras não recomendassem, resolvi seguir meus instintos maternais,  apoiada  por um médico clínico de família  bastante experiente e que costumava pensar e agir à frente de seu tempo. Um de seus argumentos era a observação do comportamento dos animais com seus filhotes e dos seres humanos menos “aculturados”, cujo cuidado com seus bebês era determinado por seus impulsos e funções biológicas.

C&V – O que é a síndrome da morte súbita dos bebês?
Denise HachulÉ uma morte inesperada, que ocorre geralmente durante um período de sono, numa situação não testemunhada, em bebês que, em geral, são aparentemente normais.
Várias são as causas, sendo mais frequentes as sufocações, asfixias, doenças metabólicas, aprisionamentos em panos e lençóis, engasgos por ingesta de objetos, arritmias geneticamente determinadas, traumas não intencionais (ou acidentais).
No caso da existência de certas arritmias hereditárias e doenças metabólicas, a determinação da causa nem sempre é possível, mesmo após a autópsia.

C&V – Qual a idade de maior risco para a morte súbita?
Denise HachulOcorre especialmente no primeiro ano de vida.

C&V – Quais os principais fatores de risco?
Denise HachulMuitos dos fatores de risco são semelhantes aos riscos da asfixia e de sufocação, quando não há doenças de base.
Para reduzir o risco, as crianças devem ser colocadas para dormir em posição supina (ou seja, deitadas, de barriga para cima), idealmente até que atinjam 1 ano de idade.

C&V – Dormir de barriga para cima aumenta o risco de engasgo se o bebê vomitar?
Denise HachulSegundo estudos, essa posição não aumenta o risco de engasgo e aspiração em lactentes, mesmo que tenham refluxo gastroesofágico ou vômitos, porque a maior parte das crianças tem anatomia das vias aéreas e mecanismos que protegem contra a aspiração.

C&V – E dormir de lado, pode?
Denise HachulHá controversas sobre dormir de lado, mas não é o mais aconselhado. Já dormir de bruços não é seguro, especialmente até um ano de idade. Exceção pode ser feita em casos especiais, nos quais as crianças tenham defeitos anatômicos das vias aéreas ou refluxos gastroesofágicos muito severos. Mas esses casos devem ser individualizados. Elevar a cabeceira do berço do bebê é ineficaz na redução do refluxo gastroesofágico e não é recomendado, pois pode resultar na criança deslizar para o pé do berço em uma posição que comprometa a respiração.
Uma vez que a criança comece a rolar e mudar de posição espontaneamente, pode ser permitido que permaneça na posição de sono que ele ou ela assumir ou escolher.

C&V – Há fatores de proteção?
Denise HachulA superfície da cama ou do berço deve ser firme. Travesseiros altos e macios não são recomendados. Uma superfície firme mantém a sua forma e não vai afundar ou se adaptar à forma da cabeça do bebé, quando está dormindo.
O enrolamento e aprisionamento em lençóis e panos é um fator de risco importante em bebês com mais de 3 meses de idade, portanto, devem ser mantidos em ambiente livre de roupas macias ou soltas e também de objetos que possam ingerir e engasgar.
A amamentação protege contra a síndrome da morte súbita infantil, especialmente se a amamentação for exclusiva, sem que se ofereça qualquer fórmula ou outros suplementos à base de leite não humano por 6 meses.

C&V – Pode-se colocar o bebê para dormir na cama com os pais?
Denise HachulRecomenda-se que as crianças durmam no quarto dos pais, perto da cama, mas em uma superfície separada e projetada especialmente para bebês: num berço portátil. Essa prática deve ser feita idealmente no primeiro ano de vida, pelo menos nos primeiros 6 meses.
Há evidências de que dormir no quarto dos pais, em uma superfície separada dos mesmos, diminui o risco de morte súbita em até 50%. Deixar o bebê dormindo na cama dos pais não é tão eficiente para reduzir o sufocamento, estrangulamento e aprisionamento em lençóis, especialmente em menores de 1 ano de idade.
As taxas de mortes relacionadas ao sono, particularmente aquelas que ocorrem em situações de compartilhamento de cama com os pais, são mais altas nos primeiros 6 meses.
Colocar o berço perto da cama dos pais para que o bebê esteja à vista e ao alcance pode facilitar a alimentação, o conforto e o monitoramento do bebê e diminuir o risco em todos os sentidos.

C&V – Os primeiros meses são importantes para o contato dos pais com o bebê?
Denise HachulNão somente importantes, mas fundamentais. Tanto para os pais como para as crianças.
Além dos cuidados mencionados acima, visando a segurança da criança e a diminuição do risco da síndrome da morte súbita infantil, esse contato com os pais é fundamental para sensação de bem-estar da criança e sua tranquilidade. E também para o conforto dos pais.
Os primeiros meses constituem a fase de adaptação dos pais para a nova realidade de suas vidas; a conscientização da presença desse ser totalmente dependente, o qual transformará suas visões e relações com o mundo para sempre.
É nessa fase em que a criança começará a estabelecer seus vínculos afetivos, ao receber os cuidados intensivos do dia a dia, como a amamentação, o conforto do colo num momento de choro, e passará a experimentar a sensação de segurança, acolhimento e proteção, que a tornarão, sem dúvida, uma criança mais feliz.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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