BLW para crianças
Aliada à segurança, a alimentação é um dos temas que mais geram dúvidas para os pais, sejam aqueles “de primeira viagem” ou não. Curiosos (e muitas vezes aflitos) para encontrar métodos de alimentação cada vez mais saudáveis e naturais às crianças, os pais têm se deparado com o chamado BLW. Mas, afinal, o que a sigla representa?
“Baby-Led Weaning [Desmame Guiado pelo Bebê] consiste em oferecer a comida em pedaços e permite que o bebê tenha o contato direto com alimento, estimulando a autonomia alimentar. Os pais oferecem os alimentos prontos e cortados ao alcance e eles escolhem quando e como levar os pedaços à boca”, explica a nutricionista Simone Ferraz.
Entre os principais benefícios do método, destacam-se o fato de ele respeitar a fome e a saciedade do bebê, além de estimular a parte motora e a autonomia da criança em relação à comida.
Conforme explica a nutricionista, se houver orientação adequada à família, não há prejuízos ao bebê.
“Se os pais disponibilizarem comida caseira e não industrializada, respeitando tanto o apetite quanto a saciedade do filho, e na consistência adequada, não há riscos […] Papinhas industrializadas não são recomendadas”, sustenta a especialista, que explica ainda que a prática não é nova.
“Imagine que antigamente as famílias tinham muitos filhos e as mães muito provavelmente não davam conta de fazer papinha para todos. Acredito que o BLW é um resgate com um novo nome. Mas mesmo com esse ‘novo nome’ vem sendo praticado há alguns anos já”, completa.
Atenta à popularização do método, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou, no último mês de maio, a atualização de seu documento referente à alimentação complementar (acesse aqui).
O método BLW se enquadra nesta categoria e pode ser aplicado junto aos bebês geralmente aos seis meses de vida, quando as crianças já apresentam capacidade para sentar sem apoio, sustentar a cabeça e o tronco, segurar objetos com as mãos e explorar estímulos ambientais.
No documento, a SBP explica que o BLW teve seu conceito definido e estudado pela britânica Gill Rapley. A pesquisadora não entende o BLW como método específico, e sim como uma abordagem que encoraja os pais a confiarem na capacidade nata que o bebê possui de autoalimentar-se.
Rapley defende que a oferta de alimentos complementares seja feita em pedaços, tiras ou bastões. “Sua abordagem não inclui alimentação com a colher e nenhum método de adaptação de consistência para preparar a refeição do lactente, como amassar, triturar ou desafiar”, explica a SBP, no documento.
Os questionamentos recentes surgiram de profissionais de saúde e sociedades médicas da Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos. Os críticos levantaram pontos como a viabilidade do método para os pais, a segurança promovida pelo BLW (com risco de engasgo e asfixia, por exemplo), e o impacto deste modelo de alimentação no crescimento e desenvolvimento das crianças.
Os neozelandeses sugeriram então uma nova versão para o BLW, chamada de BLISS (Baby-Led Introduction to Solids), ou Introdução aos Sólidos Guiada pelo Bebê. As orientações deste novo modelo consistem, principalmente, no oferecimento de alimentos cortados em pedaços grandes, na oferta de um alimento rico em ferro e de outro rico em calorias em cada refeição, na garantia de que o bebê esteja sempre sentado, ereto e sob supervisão contínua de um adulto, entre outros pontos.
Para a SBP, o BLW tem ganhado popularidade frente a outros métodos porque enfatiza a individualidade de cada criança e também seu ritmo, destacando suas habilidades natas e o empoderamento dos pais em reconhecer em seus filhos seus próprios sinais.
No entanto, a entidade brasileira não restringe o uso de apenas um método e frisa que essas questões comportamentais também podem ser trabalhadas na alimentação complementar tradicional, que utiliza uma colher.
“Reconhece-se que, no momento da alimentação complementar, o lactente pode receber os alimentos amassados oferecidos na colher, mas também deve experimentar com as mãos e explorar as diferentes texturas dos alimentos como parte natural de seu aprendizado sensório motor. Deve-se estimular a interação com a comida, evoluindo de acordo com seu tempo de desenvolvimento. Não há evidências e trabalhos publicados em quantidade e qualidade suficientes para afirmar que os métodos BLW ou BLISS sejam as únicas formas corretas de introdução alimentar”, complementa.
Para os pais que desejam introduzir o BLW como método de alimentação complementar, a recomendação da nutricionista é que se busque orientação profissional quanto à consistência dos alimentos e tipos de corte, para evitar engasgos.
“Temos a introdução alimentar participativa que acaba sendo a mistura de métodos. Você também dá autonomia, oferta alimentos de uma forma que a criança possa pegar e levar a boca, mas também, em outros momentos, oferta a papa na consistência para a idade”, explica.
Considerando todos os métodos de alimentação complementar citados na matéria (tradicional, BLW e BLISS), confira a seguir as recomendações* das sociedades médicas do Brasil e de outros países para seu bebê:
– Continue com o leite materno ou a fórmula infantil;
– Posicione o bebê sempre sentado para alimentar;
– Ofereça uma variedade de alimentos, evitando a monotonia;
– Interaja com o bebê quando ele estiver comendo junto, durante as refeições;
– Dê o tempo necessário para a refeição, sem pressionar;
– Experimente o alimento antes de oferecer à criança, para verificar se não forma um “bolo” dentro da cavidade oral;
– Evite alimentos redondos ou em formato de moedas;
– Garanta que o bebê esteja sob supervisão contínua de um adulto;
– Evite alimentos listados como alto risco de aspiração.
*As recomendações sobre alimentação complementar variam de acordo com a idade do bebê. Até os seis meses, recomenda-se apenas o aleitamento materno. Dos seis aos 12 meses, tem início a alimentação complementar junto ao leite materno. A partir de um ano, o aleitamento pode seguir com a alimentação da própria família. Toda e qualquer dúvida deve ser dividida com o médico responsável pela criança.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo