Cadeirantes também precisam se exercitar
Todas as pessoas devem se exercitar, inclusive os usuários de cadeiras de rodas. Pode parecer difícil, principalmente se o deficiente tiver uma lesão mais grave, mas com uma boa orientação profissional é possível sair do sedentarismo e diminuir a incidência de complicações circulatórias e obesidade.
No Brasil, 10 mil casos novos de lesão medular aparecem a cada ano, a maior parte causada pela violência no país. O uso de armas de fogo é responsável por 46% desses casos, segundo dados da Rede de Reabilitação Lucy Montoro, do Hospital das Clínicas de São Paulo (IMREA).
O administrador Alessandro Fernandes, 41, conta que, depois de sofrer uma lesão medular e passar a usar cadeira de rodas, percebeu que a circulação ficou bem prejudicada ficando na posição sentada o tempo todo. Foi então que foi orientado a colocar as pernas para cima, mesmo no trabalho, e a praticar atividades físicas.
Durante o expediente, Alessandro usa um banquinho feito sob medida para colocar as pernas esticadas embaixo da mesa. “Melhora a circulação e diminui a dor”, diz. Em casa, ele comprou um sofá com chaise para não precisar ficar o tempo todo na cama e não perder o convívio com a família e amigos.
“Eu também faço hidroterapia para ajudar. Na água, fazemos movimentos de pedal para estimular mais a circulação”, conta o administrador.
De acordo com o médico fisiatra André Sugawara, do IMREA, a maior parte das pessoas com deficiência está sedentária e apenas 15% são ativas. Das pessoas que começam uma atividade, 75% abandonam no primeiro ano.
Sugawara diz que os principais motivos do abandono são medo de cair; desconhecimento de que deve e precisa fazer atividade física; falta de acessibilidade; e barreiras impostas por outras pessoas, que passam a encarar o cadeirante como doente e não como um cidadão habitual.
“Com certeza, o fator atitudinal é maior que o fator físico. Se o cadeirante vai a um clube e as pessoas que estão lá têm preconceito, ele não vai conseguir desempenhar sua função de uma forma satisfatória e acaba desistindo”, afirma.
O médico recomenda que o paciente impulsione a cadeira de rodas no seu dia a dia, que faça uma natação ou um esporte adaptado às suas condições. “É importante que ele esteja ativo no seu cotidiano”, enfatiza.
O cadeirante pode começar do básico, que é ir “tocando” a cadeira de rodas e mantendo a atividade dos membros superiores, segundo a indicação do médico do IMREA.
“Ele pode, depois, executar uma série de exercícios domiciliares como flexão de braço, abdominais, exercícios de tronco. Recomendamos que substitua o lazer passivo pelo lazer ativo, brincar com filhos e amigos. Frequentar museus e praças é melhor do que só ver televisão.”
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo