Câncer hereditário: entenda quando é necessário se preocupar
Por Eli Pereira
O avô teve câncer. O pai e o tio também. Será que o filho também está fadado a sofrer com a doença? Nem sempre. Hoje se sabe que no máximo 10% dos cânceres são hereditários. Nesses casos, as mutações genéticas já herdadas dos pais predispõem a um tipo de câncer ligado a essa mutação, e a melhor forma de prevenção é fazer exames periódicos no intuito de diagnosticar a doença precocemente, já que o tratamento costuma ter melhores resultados quando o câncer está em estágio inicial.
No entanto, mesmo que alguém tenha herdado uma mutação, ela pode ficar quietinha lá e não se manifestar durante a vida. Nunca é certeza de quem tem mutações vai desenvolver efetivamente um câncer.
Para entender melhor, é preciso saber que existem genes responsáveis por propiciar o câncer, enquanto há outros genes protetores, os chamados supressores tumorais. No caso das mutações nos genes BRCA-1 e BRCA-2, o geneticista Ciro Martinhago explica que, quando há alteração neles, as chances de ter câncer de mama e de ovário são muito altas.
“Se o teste genético for positivo para a mutação do BRCA1 e 2, o risco vai ser de até 80% de ter câncer. No entanto, se o exame genético não encontrar mutação, não significa que o risco é zero, já que todos têm 10% de risco de ter câncer ao longo da vida”, explica o médico.
Câncer só é hereditário quando se trata do mesmo tipo
Se o avô teve câncer no intestino e o pai teve na próstata, não significa necessariamente que o filho herdou alguma mutação que vai levar ao câncer. Normalmente, quando é genético, é o mesmo tipo de câncer que se manifesta nas gerações.
No entanto, quando há uma mutação em um gene, o fatídico P53, a pessoa pode ter câncer em qualquer parte do corpo. Vale lembrar, porém, que apesar de hereditária, essa é uma mutação rara.
Próstata, mama, ovários e intestino
No caso da mutação genética nos genes BRCA-1 e BRCA-2, quem teve um pai com câncer de próstata deve se preocupar mais do que os demais. Se for homem, precisa fazer exames de próstata. No caso das mulheres, é preciso investigar com mais frequência como estão as mamas e ovários, já que essa mutação também predispõe a esses tipos de câncer.
O ginecologista e membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) Alessandro Scapinelli explica que, se a mulher teve mãe com câncer de mama ou ovário acima dos 50 anos, a chance de ser hereditário é mínima. Agora, se algum deles se manifestou antes dos 40 anos, por exemplo, é importante investigar se não há mutações genéticas envolvidas. Confirmando, é preciso fazer rastreamento 10 anos antes da idade que a mãe teve a doença. O diagnóstico precoce é a chave para o sucesso do tratamento.
É a mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 que pode predispor a esses tipos de câncer. “São mutações de alta penetrância, que traz um risco alto de desenvolver o câncer”, explica o ginecologista.
O câncer de intestino, com pólipos intestinais, é outro ponto de atenção. “É hereditário em quase 100% dos casos, e tem alta tendência de se tornar maligno. Tem de ficar de olho”, alerta Martinhago.
Teste genético para direcionar quimioterapia
Um dos avanços da medicina genética é justamente identificar o tipo de tumor para poder direcionar a quimioterapia. Mesmo se tratando de um mesmo tipo de câncer, eles têm particularidades entre si e alguns vão responder melhor a um medicamento, enquanto o outro será melhor combatido se usar outro tipo de quimioterapia. Um teste genético consegue distinguir qual será a melhor droga para exterminar a doença, direcionando com eficácia a decisão dos oncologistas.
Maior risco ainda decorre do estilo de vida
Independentemente da genética, Scapinelli conta que estudos mostram que mulheres menopausadas obesas e sedentárias têm 99% mais risco de ter câncer de mama do que aquelas da mesma idade que não são obesas ou sedentárias.
“Se a mulher perde 10 quilos, o risco já diminui para 57%. Apesar de o maior medo das mulheres ser a hereditariedade, é o bom estilo de vida que deve ser aconselhado”, explica ele, ressaltando que a porcentagem de câncer causado por mutações genéticas é muito baixa em relação aos provocados por maus hábitos de vida, como tabagismo, obesidade e sedentarismo.
Martinhago conta que hábitos ruins de vida também costumam “acordar” aquele gene que já estava mutado. Já quem faz atividade física, se alimenta bem e controla o estresse pode, inclusive, mudar o curso da genética e evitar o câncer, por mais que esteja escrito no próprio DNA.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo