Carnaval, só em 2023

06 de dezembro - 2021
Por: Emanuel Naba

Chegamos em dezembro de 2021 após 22 meses de Covid-19 no Brasil com um número de aproximadamente 22 milhões de pessoas infectadas pelo vírus e 615 mil mortos pela doença. Acumulamos inúmeras consequências da pandemia, chamando a atenção o aumento da fome e do desemprego, o disparo da desigualdade social, o impacto negativo sobre o sistema de saúde e as diversas sequelas mentais e físicas.

Os últimos meses no Brasil foram marcados por avanços significativos na vacinação contra a Covid, com 63% da população brasileira tendo tomado as duas doses recomendadas e 90% recebendo pelo menos a primeira. Isso resultou em redução expressiva do número de novos casos, mortes e no controle da doença no Brasil, abrindo espaço no sistema de saúde para o atendimento de outros problemas da população, como as doenças cardíacas e o câncer e retomando as cirurgias, canceladas ou adiadas pela falta de recursos.

Como resultado do controle da Covid no Brasil e na maioria dos continentes, muitos países adotaram a flexibilização, liberando a população do uso obrigatório de máscaras e autorizando a retomada da agenda social, com eventos, festas e shows voltando a fazer parte da vida.

Entretanto, infelizmente, uma pandemia, por definição, é uma doença que afeta todos os continentes, e uma afecção viral não é barrada por fronteiras ou restrições em portos, rodoviárias e aeroportos. Além disso, vírus são agentes que podem ser altamente mutagênicos, ou seja, capazes de sofrer modificações em sua estrutura para enganar o sistema de defesa da pessoa infectada. E, assim, o esperado ocorreu.

Enquanto alguns países gozam do controle epidemiológico da doença, o continente africano, mergulhado em pobreza e desigualdade, tem apenas 6,6% de sua população vacinada contra a Covid. Nos últimos dias, surge, na África do Sul e Botsuana, a variante Ômicron, que chama atenção por sua alta capacidade de mutação (mais de 30), o que pode resultar em maior transmissibilidade e até mesmo em maior resistência a vacinas.

O mundo está em alerta, a Organização Mundial de Saúde denomina a variante como de preocupação, e instalam-se protocolos para detecção da Ômicron, isolamento dos suspeitos, notificação e discussão do fechamento de fronteiras e revisão das políticas de controle da doença. O mundo agora se lembra da África, a variante já está em 20 países, a China fala em doar 1 bilhão de vacinas, alguns países se interessam em doar tecnologia para produção in loco de vacinas, etc. Mas, de imediato, já temos consequências: países como o Brasil fecharam suas fronteiras para países africanos, e volta à discussão como serão as festas de fim de ano, o Carnaval, a decisão sobre liberar ou não o uso de máscaras e a intensificação da política de vacinas.

Lembremos que semanas antes da nova variante, a Europa voltou a registrar considerável aumento do número de casos especialmente por ter liberado a população de medidas restritivas, pelos números heterogêneos na vacinação e possivelmente pela chegada do inverno.

Como seria possível, diante do momento que vivemos, pensarmos em festas, aglomerações, Réveillon e Carnaval? O Carnaval é uma belíssima festa brasileira, expressão inconteste da nossa cultura que mobiliza o mundo, movimenta 10 bilhões de reais para o Brasil. Mas, infelizmente, pode ser a porta de entrada de uma nova onda da doença com graves consequências. Sabemos que uma pandemia é dinâmica, os números rapidamente mudam, mas algumas certezas que temos hoje nos remetem a pensar apenas no Carnaval de 2023.

O mundo ainda sofre pela pandemia, a vacinação, que é a maior arma contra doença, não conseguiu alcançar o mundo como necessitamos, nossa estratégia de testes em massa e isolamento de contatos não funciona adequadamente, o vírus, enquanto o mundo não estiver vacinado, continuará escapando do nosso controle, e o Brasil não tem como passar por mais uma onda de mortes, internações e miséria.

Vamos nos unir, vacinar não só os brasileiros, mas todo o mundo, implementar políticas de saúde definitivas para proteger a população, e, quem sabe, em 2023 fazer o maior Carnaval da História do Brasil, com segurança e paz.

Artigo
Dr. Roberto Kalil Filho

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