Cientistas estão próximos de provar ligação entre zika e microcefalia

10 de março - 2016
Por: Equipe Coração & Vida

Quando uma “nova” doença entra nos noticiários, normalmente vem acompanhada de alguma carga de especulações. Nem sempre por culpa da mídia ou dos órgãos de governo, como se costuma dizer, mas em muito porque a ciência precisa de seu tempo para entender a fundo todo um processo de causas e consequências.

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No caso do vírus zika, o foco científico finalmente vai conseguindo mostrar suas primeiras armas para ajudar a população. Esta semana, um time de pesquisadores estabeleceu o que parece ser um elo biológico significativo entre o zika e a microcefalia – e algo que, até agora, gerou dúvidas, suspeitas e acusações, vai finalmente encontrando um caminho de tratamento.

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

Trabalhando com células-tronco humanas cultivadas em laboratório, os cientistas descobriram que o vírus zika infecta seletivamente as células que formam o córtex do cérebro, a camada externa, tornando-as mais propensas a morrer e menos propensas a se dividir normalmente e formar novas células cerebrais. O estudo sugere ainda que essas células altamente suscetíveis podem ser usadas, no futuro, para gerar remédios que venham a proteger os bebês contra a malformação.

Os resultados das experiências, que foram conduzidas por pesquisadores da Johns Hopkins School of Medicine (uma das mais conceituadas universidades da área médica), da Florida State University e da Emory University, foram descritos na versão online da revista Cell Stem Cell.

“Estudos realizados em fetos e bebês nascidos com os cérebros reduzidos e microcefalia em áreas afetadas pelo zika encontraram anormalidades no córtex e vírus no tecido fetal”, diz Guo-li Ming, professor de Neurologia e Neurociência da Johns Hopkins. “O estudo não prova definitivamente que o zika provoca microcefalia, mas já é importante dizer que as células que formam o córtex são potencialmente suscetíveis ao vírus e seu crescimento pode ser interrompido por ele.”

O vírus zika começou a se espalhar pelo continente americano no ano passado – e um aumento correspondente nos casos de microcefalia fetal (bem como outras anormalidades neurológicas) levou especialistas em saúde pública a suspeitar da conexão. O grande número de ocorrências, particularmente no Brasil, levou a Organização Mundial de Saúde a declarar a epidemia por zika uma emergência internacional.

Uma ligação causal definitiva entre zika e microcefalia ainda não foi estabelecida, mas a nova pesquisa (conduzida em menos de um mês) é um passo nessa direção.

De acordo com Hengli Tang, virologista na Florida State University, três dias após a exposição ao vírus, 90% das células progenitoras neurais do córtex haviam sido infectadas, produzindo novas cópias do vírus.

Além disso, os mecanismos necessários para combater o vírus não tinham “se ligado”, o que é altamente incomum. Muitas das células infectadas morreram e outras mostraram ter interrompido a expressão de genes que controlam a divisão celular, o que indica que as novas células não poderiam se reproduzir de modo eficaz.

Há, no entanto, muitas perguntas ainda em aberto sobre a relação entre o zika e a ocorrência de microcefalia em bebês. “Talvez diferentes estirpes do vírus tenham efeitos diferentes – ou talvez pessoas em partes diversas do mundo tenham respostas diferentes ao mesmo zika”, lembra Zhexing Wen, coautor do estudo da Universidade Johns Hopkins.

Ele acredita, no entanto, que a técnica utilizada pela equipe poderá ajudar a fornecer essas respostas e várias outras sobre a epidemia que se alastra inclusive nos noticiários.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

 

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