Cigarro eletrônico: alternativa ou potencial risco de tabagismo?

03 de junho - 2019
Por: Equipe Coração & Vida
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Juul (pronuncia-se djul), lançado em 2015, nos Estados Unidos: febre entre os adolescentes Foto: shutterstock

Fumar traz inúmeros males à saúde e todo mundo sabe. Entre as principais complicações estão o aumento no índice de acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardiovasculares, infarto e diversos tipos de câncer. Mas, ainda assim, 18 milhões de brasileiros são fumantes — destes, apenas 9% afirma ser dependente, de acordo com o Ministério da Saúde. “A cada 10 pessoas que entram em contato com a nicotina, composto do cigarro, 9 adquirem o vício. É grave”, afirma a diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (InCor) e doutora em cardiologia, Jaqueline Scholz.

Em busca de uma solução que fosse menos prejudicial para os fumantes, em 2003 surgiu o cigarro eletrônico (também chamado de e-cigarette, vaper, ou caneta a vapor), inventado por um farmacêutico chinês. A conclusão foi que o produto, não comburente, sem monóxido de carbono ou alcatrão, pudesse exercer importante papel na redução do impacto na saúde pública associado ao consumo de cigarros e, claro, pudesse ser uma transição mais fácil para quem deseja parar de fumar. O cigarro eletrônico vaporiza um líquido que contém nicotina, misturada a essências que imitam sabores de frutas, chocolate etc.  De lá para cá, o dispositivo eletrônico já está em sua quarta geração, cujo design moderno é ainda mais atrativo.

Mas, afinal, quais são os riscos à saúde destes, aparentemente, inofensivos “brinquedos”? “O que se sabe de estudos é que cigarros eletrônicos que satisfazem os fumantes são os que contêm alta concentração de nicotina, assim como estes últimos dispositivos lançados”, explica o cardiologista e diretor da área no Hospital Sírio-Libanês, Roberto Kalil Filho. O consumo de nicotina pelo cigarro eletrônico pode ser igual ou até maior do que no comum, aumentando riscos de dependência química. “A nicotina causa estreitamento das artérias. O sangue fica mais grosso e isso possibilita maior chance de obstrução das artérias, o que favorece para que ocorra infarto”, complementa.

Um exemplo mais recente de  dispositivo com alta dose de nicotina é o Juul (pronuncia-se djul), lançado em 2015, nos Estados Unidos, e febre entre os adolescentes.


Comercialização no Brasil
Desde 2009, os cigarros eletrônicos têm sua comercialização proibida no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O motivo? Falta de estudos que comprovem benefícios. Ainda que haja a medida, o acesso ao produtos é bastante fácil, uma vez que podem ser facilmente encomendados em sites brasileiros e internacionais, a preços que podem chegar à 400 reais.

Dispositivos sem nicotina, apenas com refis de sabores, também podem ser encontrados, mas causa preocupação. Seria uma porta de entrada ao vício? Não fumantes podem se sentir inclinados a experimentar e, assim, ser um passo perigoso em direção aos líquidos com nicotina, uma potencial porta de entrada para o tabagismo.  “Quem fuma está, praticamente, escolhendo o caminho mais rápido para morrer. Seja por câncer, derrame cerebral ou infarto”, diz Kalil.  “Pensar nessa morte precoce, por uma dessas causas, é um bom motivo para qualquer pessoa abandonar de vez o cigarro”.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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