Comerciais de alimentos determinam e aceleram as escolhas infantis, aponta estudo

16 de agosto - 2016
Por: Equipe Coração & Vida

É um bombardeio diário de comerciais de refrigerantes coloridos, bolachas com carinhas desenhadas, achocolatados com personagens ultra animados. A indústria alimentícia que anuncia seus produtos na televisão é um setor multimilionário que movimenta, anualmente, cerca de 1,8 bilhões de dólares somente na América do Norte. Só para crianças e adolescentes, são cerca de 1.000 a 2.000 anúncios a cada ano nos países mais ricos. Se isso muda o modo como eles encaram a comida? Um estudo recente afirma que sim. E rápido.

Alguns estudos comportamentais isolados já vinham demonstrando, há anos, que existe uma relação entre a receptividade aos comerciais de alimentos e a quantidade e o tipo de alimento consumido pelas pessoas.

Foto: Shutterstock
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A nova pesquisa divulgada em The Journal of Pediatrics, por sua vez, foi prática: mediu a atividade cerebral dos mais jovens depois de assistir a comerciais de alimentos e a influência direta deles nas escolhas alimentares das crianças.

Crianças entre 8 a 14 anos avaliaram 60 itens alimentícios a respeito do quanto eles seriam saudáveis e saborosos. Em seguida, a médica Amanda Bruce e a equipe que reuniu pesquisadores da Universidade do Kansas e da Universidade de Missouri-Kansas City, nos Estados Unidos, analisaram com ressonância magnética funcional a atividade cerebral das crianças enquanto assistiam a propagandas alimentares e outras não-alimentares.

De acordo com a Dra. Bruce, o foco principal foi na região do cérebro mais ativa durante a avaliação de recompensa e tomada de decisões, o córtex pré-frontal ventromedial. Durante a varredura do cérebro, as crianças foram questionadas se queriam comer os alimentos que foram mostrados nos comerciais.

Os pesquisadores concluíram que, em geral, as decisões das crianças foram mais impulsionadas pelos alimentos parecerem saborosos do que pelo aspecto de serem saudáveis – o que já era esperado. No entanto, o sabor foi ainda mais importante para as crianças logo que elas acabavam de assistir aos comerciais de alimentos em comparação com comerciais não-alimentares.

Outro ponto curioso foi notar que a decisão pelo alimento saboroso acontecia muito mais rápido ao assistir aos comerciais de alimentos. O córtex pré-frontal ficou significativamente mais ativo vendo as propagandas que ofereciam alimentos atraentes e “gostosos”.

O marketing das indústrias de alimentos costuma ser citado como fator determinante para as escolhas alimentícias – e, na esteira, determinante também para o aumento do sobrepeso e da obesidade nos adultos e das doenças relacionadas.

O estudo mostrou que, no caso das crianças, as decisões impulsivas por alimentos menos nutritivos e mais processados são ainda mais fortes, implicando nos mesmos problemas de saúde dos adultos. No Brasil, o Ministério da Saúde registra que 10 milhões de pessoas são portadoras de diabetes, por exemplo – sendo 1 milhão de crianças.

A doutora Amanda Bruce vai ainda mais longe ao relacionar as propagandas de alimentos com a saúde infantil.

“A exposição sistemática aos comerciais que propagandeiam alimentos industrializados pode sim, segundo sugerem nossos dados, alterar a longo prazo os mecanismos psicológicos e neurológicos para as decisões das crianças sobre o que elas querem comer”, finaliza.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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