Como a paixão pelo ciclismo ajudou na superação de um câncer

10 de outubro - 2016
Por: Equipe Coração & Vida

Descobrir um câncer não é fácil. Mesmo hoje com os avanços da medicina, a doença ainda assunta muito quem recebe o diagnóstico.

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Com a artista plástica Nuria Casadevall, de 52 anos, tia da atriz Maria Casadevall, não foi diferente. Em 2013, após um tratamento sem sucesso para uma anemia, ela foi diagnosticada com mieloma múltiplo, um tipo de câncer que afeta a medula óssea.

O esporte e a paixão pelo ciclismo foram fundamentais para enfrentar o tratamento e seguir a vida após a doença, além de serem a base do recém-lançado site “Bike&Saúde”, que conta a história de Nuria e suas aventuras de bicicleta.

Com a superação da doença, o amor pelo esporte ficou ainda mais forte e hoje envolve planos de uma viagem internacional passando por países europeus sobre duas rodas.

Conheça abaixo um pouco mais da emocionante trajetória de Nuria, sua luta e superação do mieloma múltiplo e os seus planos para o futuro.

Coração & Vida – Como a bicicleta entrou na sua vida? Você já tinha o hábito de pedalar?
Nuria Casadevall – Aprendi a pedalar com o meu pai segurando o selim da minha bicicleta. Ele levava minha irmã e eu na marquise do Parque Ibirapuera nos finais de semana. Nunca deixou colocar rodinhas de apoio, pois acreditava que não podemos ser dependentes de nada nesta vida. Depois de algumas tentativas e quedas, saí pedalando sozinha! Eu tinha por volta de 4 ou 5 anos.
A bicicleta entrou pela segunda vez na minha vida em 2005. Uma grande amiga ganhou uma bicicleta mountain bike (tipo de bicicleta para terrenos mais difíceis) de ferro de um fornecedor e não tinha onde guardar. Ofereci o depósito da minha casa e assim começou a minha paixão pela magrela. Depois que você sente o vento no rosto e a sensação de liberdade que a bicicleta te oferece, é paixão na certa!

C&V – Você recebeu um diagnóstico de câncer em 2013, qual foi o impacto dessa notícia na sua vida?
NC – Fui doar sangue na fundação Pró-Sangue no final de 2013 e apareceu uma anemia. Fiz o meu check-up em janeiro de 2104 e comecei a tratar da anemia. Ao mesmo tempo, fui perdendo a minha perfomance na bike, o que me chamou muito a atenção e me fez pesquisar mais profundamente.
Em junho de 2014, meu médico de família desconfiou dos índices no meu hemograma e pediu uma biópsia de medula óssea. Veio o diagnóstico: mieloma múltiplo. Doença crônica e sem cura. Quatro meses de quimioterapia e, com sorte, um transplante autólogo de medula. Fiquei paralisada.
Minha única irmã teve um linfoma em 1978 e se curou. Eu sabia bem o que vinha pela frente, mas não me deixei abater. Eu tinha duas saídas e uma não era muito boa.
Encontrei dois anjos em minha vida: Dr. Paulo Silveira e Dr. Nelson Hamerschlak. Sem eles nada disso teria sido possível.

C&V – Qual foi o momento mais difícil nessa luta contra a doença?
NC – O mais difícil foi quando fiquei internada sem sistema imunológico, aguardando minha medula voltar a funcionar. Foram 10 dias de incertezas, angústias, mas sempre com muita esperança. Minha irmã viveu todos os momentos sempre ao meu lado, me confortando e não deixando que eu ficasse baixo astral. Meus amigos da bike foram muito importantes neste momento. Apesar de eu estar isolada no hospital, eram muitas mensagens diariamente me dando muita força para não deixar a peteca cair.

C&V – O esporte te ajudou nessa fase?
NC
– Se eu não tivesse o preparo físico que a bicicleta me dá, eu tenho certeza de que todo o processo do tratamento teria sido imensamente mais difícil. Por causa da bicicleta, eu parei de fumar há dez anos. Isso também foi extremamente importante na recuperação.

C&V – Como surgiu a ideia do “Bike&Saúde”? Qual a importância de dividir suas histórias nesse espaço?
NC – O blog surgiu depois da minha recuperação. Meus amigos me diziam que eu tinha que compartilhar a minha experiência com o câncer e mostrar para as pessoas que estivessem passando por um momento difícil que existe luz no fim do túnel. É possível se recuperar de uma doença grave.

C&V – Você tem alguma meta ou sonho que gostaria de realizar pedalando?
NC – Quero fazer uma cicloviagem, começando na cidade de Porto (Portugal), atravessando a Espanha, a França e a Itália, e terminando na Sardenha. Registar trilhas e caminhos que qualquer pessoa possa fazer, desde que tenha um mínimo de preparo e treino. A bicicleta te dá uma grande autonomia, proporcionando grandes distâncias percorridas por um dia.
Em 2017 farei Londres/Paris com a Associação Internacional de Mieloma Múltiplo do Reino Unido, que organiza este passeio para arrecadar fundos para a pesquisa da doença. Vai ser uma experiência nova, já que a viagem é toda feita em asfalto. Serão 420 km em quatro dias.

C&V – Praticar um esporte, que a pessoa goste, é mais prazeroso? Muda a relação com o exercício?
NC – Muda completamente! O ato de pedalar para mim funciona como a meditação, proporcionando um contato com a natureza e comigo mesma que eu nunca tive em outro esporte. E para ter um bom desempenho, cuido muito da alimentação e treino frequentemente em uma academia.
Ter prazer na atividade física é fundamental para você manter a periodicidade. E funciona como cano de escape para o estresse que a gente vive na rotina diária dos grandes centros, como São Paulo.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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