Como vai seu coração? Veja quando começar o check-up
Por Thássio Borges
Terrorismo, desastres naturais, acidentes de trânsito. Todos exigem atenção especial, mas são as doenças cardiovasculares a principal causa de mortes em todo o mundo. A cada 10 óbitos registrados no âmbito global, cerca de três ocorrem devido a enfermidades desse tipo – 85% destas correspondem apenas a ataques cardíacos e infartos.
Não à toa, a data de 29 de setembro foi definida como o Dia Mundial do Coração, e o Brasil adere à causa da Organização Mundial da Saúde (OMS) ciente de que os esforços por aqui também devem ser reforçados.
“As doenças cardiovasculares (DCV) representam a primeira causa de morte no Brasil e no mundo. Apesar da tendência de redução dos riscos de mortalidade por DCV no país e no mundo, algumas projeções indicam o aumento de sua importância na população de baixa e média renda”, explica Gabriela Ramalho, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês.
Essa incidência maior entre pessoas de baixa e média renda está diretamente relacionada às drásticas mudanças de hábitos vivenciadas nas últimas décadas. Se, por um lado, a modernidade ampliou o leque de alimentos, atividades e tecnologias disponíveis, houve alta também na exposição aos fatores de risco das DCV.
Conscientização precária
Um dos principais problemas deste cenário é que os números, muitas vezes, não são suficientes para conscientizar as pessoas dos riscos dessas doenças ligadas ao coração. Para o cardiologista Roberto Kalil Filho, diretor das áreas de Cardiologia do Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e do Hospital Sírio-Libanês, a negligência somente agrava a situação.
“Há uma forte cultura, tanto no Brasil quanto no mundo, de que o infarto, a doença do coração, atinge sempre o outro. Nunca acontece conosco, é sempre com o vizinho, o amigo. Com isso, as pessoas desconsideram seu estado clínico, a incidência de fatores de risco e somente compreendem o perigo que corriam quando o pior evento (muitas vezes fatal) ocorre”, explica.
Ramalho destaca também que boa parte da mortalidade relacionada às DCV são evitáveis, desde que exista assistência ou prevenção oportuna. Além disso, é muito importante atentar-se ao fato de que a exposição aos fatores de risco cardiovasculares geralmente começa na infância e se consolida na juventude. Ou seja, os comportamentos nessas faixas etárias podem ser determinantes na incidência de DCV na fase adulta jovem.
“Outra questão é o caráter assintomático (sem sintomas) da maioria das DCV, guiados pela ideia de que os problemas de saúde são sentidos em idades mais avançadas, o que propicia o diagnóstico tardio e o desencadear de complicações”, complementa Ramalho.
Atualmente, fatores como sedentarismo e sobrepeso, associados à hipertensão arterial e ao depósito de gorduras nas artérias, são muito perigosos. Como os fatores de risco cardiovascular tendem a se agregar, tal associação amplia de forma significativa a probabilidade de eventos ligados às DCV, pois um tende a “reforçar” o outro.
Como evitar?
“Muitos fatores são passíveis de mudança. Colesterol alto, cigarro, sedentarismo e obesidade são condições que pioram sensivelmente a possibilidade de ocorrerem doenças cardíacas”, afirma Kalil Filho, destacando também hipertensão e diabetes como fatores que, quando não tratados adequadamente, contribuem para a incidência de DCV.
Além disso, é preciso reforçar a ideia de que as DCV não são tratáveis apenas com remédios e intervenções cirúrgicas. Os check-ups e avaliações médicas frequentes são essenciais para detectar, por exemplo, uma obstrução que, por enquanto, não desperta sintomas.
“Por isso é importante as pessoas se prevenirem, não só em relação aos fatores de risco, mas realizando avaliações clínicas rotineiras com orientação médica”, completa Kalil Filho.
E, afinal, quando é preciso começar o check-up cardiovascular?
“A idade para início depende do risco cardiovascular de cada pessoa. Conforme os fatores de risco, pode ser necessário iniciar o rastreio já a partir dos 20 anos ou somente a partir dos 35 em homens e 45 em mulheres. [Assim] é possível estimar a probabilidade de evento cardiovascular no futuro e conforme essa avaliação determinar o inicio e a periodicidade do monitoramento”, complementa Ramalho.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo