Risco de obesidade infantil aumenta durante quarentena
Consumo exagerado de alimentos industrializados e redução da atividade física estão entre os principais fatores de risco. Veja como driblar o problema:
Ficar em casa durante o isolamento social aumenta a exposição das crianças a alimentos processados, e ao mesmo tempo, reduz a atividade física delas – e combinados, esses dois fatores elevam o risco de obesidade infantil.
“Além de as crianças estarem se movimentando menos, estão mais expostas à alimentação. Às vezes, isso é pior na criança obesa porque ela já tem uma tendência a acumular peso, ou um metabolismo mais lento”, explica a endocrinologista e coordenadora do núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do Hospital Sírio-Libanês.
Um estudo recente da Universidade Estadual da Louisiana, nos Estados Unidos, e da Universidade de Verona, na Itália, feito com 41 crianças e adolescentes em confinamento durante março e abril na cidade de Verona, chamou a atenção de pesquisadores. Durante o trabalho, ao comparar o comportamento do grupo em relação ao mesmo período do ano passado, os cientistas descobriram que elas comiam uma refeição a mais, dormiam meia hora a mais, passavam quase 5 horas a mais diante de uma tela (TV, computador ou celular), e reduziram a atividade física em mais de duas horas por semana.
“Sem dúvida, essa exposição maior à oferta de alimentos e o não sair de casa para atividades físicas têm ajudado adultos e crianças a ganharem peso”, complementa, Cláudia.
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Além disso, os pesquisadores constataram que as crianças e adolescentes também consumiram mais carne vermelha, bebidas açucaradas e guloseimas (mantendo inalterado o consumo de legumes e vegetais). O estudo foi publicado na revista científica internacional “Obesity”.
Cláudia destaca que, por questões como falta de tempo e até mesmo de segurança. crianças e adolescentes já estavam cada vez mais confinados em casa e sem atividades físicas — mesmo antes da pandemia do novo coronavírus. Além disso, ficar em casa também as expõe mais a propagandas de guloseimas calóricas nos meios de comunicação e ao hábito de fazer pedidos por aplicativos de entrega de comida.
Gestação e genética
A endocrinologista explica que fatores genéticos têm importância no aparecimento da obesidade infantil. “Quando os dois pais são obesos, a chance de a criança ficar obesa varia de 70% a 80%. Quando só um dos pais é obeso, essa chance cai para 40% ou 50%. Se os pais não são obesos, a chance cai para 20% ou 30%”, diz.
Mas não é só isso. “Crianças nascidas de mães que ganharam muito peso na gestação têm tendência maior a estocar calorias e gordura”. As que nasceram fora do tempo e abaixo do peso também têm essa tendência a ganhar peso. “Mas não está ligado à genética e, sim, ao ambiente no período gestacional.”
Solução na cozinha
Mas nem tudo está perdido durante a pandemia. A especialista ressalta que o isolamento social, no entanto, pode ser positivo. “Os pais agora obrigatoriamente estão em casa, então têm mais tempo para preparar e organizar as refeições, tornando-as mais saudáveis equilibradas”, observa.
A grande desculpa que a gente consegue eliminar com a pandemia é a da falta de tempo. “Estando em casa, acaba sobrando mais tempo para organizar a alimentação.”
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo