Consumo de bebida alcoólica aumenta a vontade de comer, indica estudo
Sabe aquela vontade de comer um tira-gosto junto com a cerveja? Mais do que um desejo, é uma resposta do cérebro ao consumo de bebidas alcoólicas.
Um recente estudo publicado pela Nature Communications, publicação especializada em divulgações de pesquisas científicas, revelou que o álcool atua na ativação dos mesmos neurônios da fome, o que, em tese, não deveria ocorrer, uma vez que as bebidas alcoólicas costumam ser ricas em calorias.
O estudo, conduzido por cientistas do Instituto Francis Crick, do Reino Unido, com base em experimentos com ratos, mostrou que o álcool ativa os sinais emitidos pelo cérebro ao organismo para a ingestão de mais comida.
“Alguns estudos demonstram que o consumo habitual, em pequenas ou moderadas doses de álcool, relaciona-se ao aumento do apetite, isso porque interfere no sistema neuroquímico e relaciona-se à liberação de cortisol, hormônio que aumenta o consumo de energia e a busca por alimentos”, explica Cintya Bassi, nutricionista do Hospital e Maternidade São Cristóvão, em São Paulo.
Porém, segundo ela, em dependentes graves, a relação é inversa, pois o álcool, muitas vezes, substitui o alimento e, apesar de ser calórico, fornecendo 7,1 kcal/g, não possui nutrientes importantes para a manutenção adequada do organismo, favorecendo a desnutrição.
Para o experimento, os ratos receberam, por três dias seguidos, doses de bebidas equivalentes a uma garrafa e meia de vinho para um ser humano.
Os pesquisadores puderam observar que o álcool causou uma maior atividade nos neurônios chamados AGRP, que são responsáveis por alertar o corpo sobre a necessidade de comer e que dão a sensação de fome.
No experimento, isso fez com que os ratos comessem mais do que o normal. Os cientistas responsáveis pelo estudo acreditam que o mesmo padrão deve se aplicar aos humanos.
A pesquisa é um alerta também para os perigos associados ao consumo de bebidas alcoólicas. Os óbitos relacionados ao álcool configuram a quarta principal causa de mortes evitáveis anualmente nos Estados Unidos.
O álcool e a obesidade são ainda a causa de 90% das mortes por doenças no fígado.
“O consumo de álcool, quando fora dos padrões, pode acarretar diversos problemas, que vão desde os sociais, interferindo no trabalho e convívio familiar, até ao comprometimento da saúde, como desidratação e desnutrição, falta de memória e déficit cognitivo, risco aumentado de câncer, especialmente de boca, laringe e esôfago, comprometimento do sistema digestório (que podem acarretar em gastrite, hepatite e cirrose), carência de nutrientes como vitamina B1 e pancreatite”, destaca a nutricionista.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), não existe um nível seguro para consumo de bebida alcóolica.
Para quem está planejando perder peso, a descoberta pode ainda ser um lembrete de que beber e comer em excesso costumam caminhar lado a lado e reduzir o consumo de álcool, ou mesmo evitá-lo completamente, pode ser um primeiro passo, não só para o resultado na balança, mas também à saúde.
“O álcool é uma bebida calórica e possui substâncias tóxicas e, por isso, o organismo prioriza sua eliminação. Com essa prioridade na metabolização, outras substâncias passam a ser secundárias no processo, inclusive o lipídeo, que, em segundo plano, passa a ser estocado, favorecendo o acúmulo de gorduras, principalmente na região abdominal”, alerta a especialista.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo