Marca-passo: entenda como funciona e para quem é indicado
Por Thassio Borges
O marca-passo não é algo novo na medicina. O aparelho foi criado em 1930, mas o primeiro item totalmente implantável foi colocado em um paciente na Suécia em 1958. Sessenta anos depois, muitas dúvidas a respeito de seu uso ainda permanecem.
Martino Martinelli, diretor da Unidade Clínica de Estimulação Cardíaca Artificial do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), destaca que o marca-passo é indicado, na maior parte dos casos, para corrigir ritmos lentos do coração.
“São situações em que o coração bate muito devagar (abaixo de 50/60 batimentos por minutos), podendo causar desmaios e redução da quantidade de sangue na cabeça. Essa aplicação clássica persiste, pois as doenças ainda existem e os pacientes são vulneráveis nesse cenário”, explica o médico.
É possível também apontar as doenças que mais frequentemente causam a irregularidade cardíaca descrita. São elas: envelhecimento do coração, doenças isquêmicas (que levam ao enfarte) e a Doença de Chagas, sendo esta um dos exemplos de doenças adquiridas.
O médico também fala sobre os casos de insuficiência cardíaca, nos quais o coração registra musculatura fraca. Nessa situação, não se trata de fraqueza ligada a batimentos por minuto, e sim à própria debilidade do coração, que fica sem capacidade de contrair adequadamente.
“Esses pacientes recebem hoje um tipo de marca-passo mais sofisticado, chamado de ressincronizador. É um tipo de aparelho usado para melhorar a condição do músculo cardíaco. Isso é muito relevante, pois se não conseguimos êxito com o marca-passo ou com o remédio, é necessário encaminhar o paciente ao transplante cardíaco. O marca-passo, portanto, atua, nesses casos, em um estágio pré-transplante, pré-insuficiência cardíaca grave”, complementa.
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Cirurgia
Engana-se quem acredita que a cirurgia para implantar o aparelho seja considerada de alto risco. O implante em si é muito simples, de acordo com o médico. Se a cirurgia, no entanto, é feita em pacientes com quadro de saúde muito debilitado, naturalmente aumenta-se o risco relacionado ao procedimento.
“O risco é inerente à condição clínica do paciente”, afirma Martinelli, esclarecendo outro mito, desta vez relacionado à recuperação da cirurgia de implante do marca-passo. “É rápida [a recuperação]. Em 24 horas, o paciente está apto a sair do hospital. Recomenda-se, de forma geral, que o paciente não dirija nas primeiras quatro semanas, evitando também o esforço físico com os braços (levantar e sustentar pesos). Mas é possível voltar tranquilamente, aos poucos, às suas atividades normais. Em oito semanas, o paciente já pode realizar exercícios físicos sem restrições”, esclarece.
A partir de três meses da cirurgia, o paciente já não tem nenhuma restrição motivada pelo marca-passo.
A bateria do marca-passo deve ser substituída, em média, a cada cinco anos. O procedimento, no entanto, é até mais simples, pois o médico precisará mexer apenas no gerador do aparelho.
Hackear o marca-passo?
É possível considerar o marca-passo como um micro computador. Assim, surge a dúvida: é possível hackear o aparelho? De acordo o médico, é possível, e inclusive há casos relatados. Trata-se, no entanto, de uma ação criminosa, que não é habitual e que requer um verdadeiro ânimo para prejudicar o paciente. “O marca-passo tem um sistema de segurança muito forte. Somente em uma situação de crime é que isso poderia ocorrer”, completa.
Vale ressaltar também: quem é portador de marca-passo não tem restrições quanto à atividade sexual, nem sofrem com possíveis interferências eletromagnéticas. “O sistema é bem blindado. O marca-passo evoluiu muito, tanto na segurança quanto no cuidado com os pacientes”, afirma Martinelli.
“O Incor tem um sistema de conhecimento, de informações específicas, para auxiliar empregado e empregador, para que não ocorram injustiças sociais [em relação à contratação de um indivíduo portador de marca-passo].”, esclarece.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo