Dengue: com surto, especialista ensina como evitar o contágio

12 de maio - 2015
Por: Equipe Coração & Vida
Em todo país, já foram registrados ao menos 745 mil casos da doença
Em todo país, já foram registrados ao menos 745 mil casos da doença

Paula Rosa

Apesar de velha conhecida dos brasileiros, a dengue tem assustado mais neste ano. Isso porque, na comparação com 2014, o número de casos nos primeiros quatro meses mais que dobrou. Em todo país, já foram registrados ao menos 745 mil casos da doença, e em sete estados brasileiros, a incidência já indica quadro de epidemia. Mas o que é uma epidemia? E como essa qualificação interfere nas ações de combate à dengue no país?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), caracteriza-se quadro de epidemia quando existem no local mais de 300 casos da doença para cada 100 mil habitantes. Estão com esse cenário os estados do Acre, com 1.064,8 casos a cada 100 mil habitantes; seguido do Goiás, com 968,9; São Paulo, com 911,9; Mato Grosso do Sul, com 462,8; Tocantins, com 439,9; Rio Grande do Norte, com 363,6 e no Paraná, com 362,8 registros da doença.

[yop_poll id=”1″]

 

A infectologista Tânia Strabelli, diretora da Unidade de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP, explica que, confirmado o quadro epidêmico, é necessário aumentar ações governamentais para garantir atendimento aos infectados e intensificar o combate aos focos de mosquito.

“Além de realizar força tarefa para extinguir focos de mosquitos, entrando nas casas da população, procurando possíveis locais com ovos e aplicar inseticidas, o governo deve garantir atendimento adequado para um número muito grande de pessoas. O perigo é que, com o aumento de infectados, se deixe passar potenciais casos graves da doença e, desta forma, aumentar o número de mortes”, alerta a médica.

O problema não foi gerado por falta de recursos, já que estados e municípios tiveram à disposição verba federal adicional de R$ 150 milhões para realizar ações de vigilância, prevenção e controle da dengue. Para o governo, a queda de casos em 2014, em relação a 2013, as mudanças climáticas e a crise hídrica podem ter interferido na mobilização da população e atrasado ações de prevenção à doença.

“Lidamos com um problema muito complexo e jamais colocaria a responsabilidade sobre a população. Não poderia me desresponsabilizar como autoridade sanitária máxima e quero compartilhar, com todos, o desafio de controlar a dengue este ano e diminuir os casos no ano que vem”, afirmou o Ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante evento em São Paulo.

Tânia Strabelli relata que a forma mais eficaz de combater a dengue será por meio de vacina, já que ela protege diretamente contra o agente infector, não dependendo da colaboração da população para exterminar o mosquito. “Ainda não temos nenhuma disponível no Brasil, mas já existem duas opções em estudo, uma no Instituto Butantã e outra por uma empresa comercial. A expectativa é que até o final do ano uma delas esteja disponível”, afirma.

Infográfico: Zoio
Infográfico: Zoio

Prevenção o ano todo

Considerada um dos maiores problemas de saúde pública do mundo, a dengue é uma doença infecciosa transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que põe seus ovos em água parada e limpa, e aproveita a época das chuvas para se reproduzir. Com a chegada do inverno e o fim do período das chuvas, a expectativa é que os casos da doença diminuam. Ainda assim, não se pode deixar de lado o combate ao mosquito, como alerta a infectologista. “Esse mosquito infectado pode ter colocado ovos que, aderidos em algum local, duram por até um ano. Se não houver uma limpeza adequada de vasos, caixa de água ou possíveis focos, quando entrarmos novamente na fase de chuva, esses ovos eclodirão e se transformarão em larvas e mosquitos contaminados”, enfatiza Tânia.

Para evitar as temidas picadas dos mosquitos, a população pode tomar atitudes simples, usando repelentes e evitando horários de pico de mosquitos. “As velas de citronela e os repelentes de passar na pele são excelentes opções para desviar das picadas. Também é uma boa opção utilizar blusa de manga comprida e calça no final da tarde, horário de pico dos mosquitos”, recomenda a infectologista.

A grande ação de prevenção à dengue, entretanto, é a eliminação do foco do mosquito nas casas. “Não deixar água parada, sempre limpar caixas de água, pratinhos de vasos, tampar recipientes. São pequenas ações de limpeza que devem se tornar constantes por todo o ano”, recomenda a infectologista.

A dengue pode provocar infecções mais leves, com febre, dores de cabeça, musculares, náuseas e vômitos, e até evoluir para situações mais graves, quando a pessoa apresenta sangramentos, queda de pressão arterial e insuficiência respiratória, podendo levar à morte.

“Se a pessoa apresentar por dois dias febre, dor muscular e sensação de cansaço, deve ir ao médico e, caso confirmada a dengue, tomar imediatamente medidas para evitar o agravamento da doença”, enfatiza a médica, complementando que idosos e pessoas que já possuem alguma doença grave devem ter o cuidado redobrado.

Não existe remédio específico para tratar a dengue. Quem for infectado pelo mosquito deve evitar a desidratação, tomando muito líquido e se alimentando de forma saudável. Para minimizar os sintomas provocados pela doença, é possível recorrer a alguns medicamentos, como paracetamol e antitérmico. “Os que foram à base de ácido acetilsalicílico, as conhecidas aspirinas e AAS, devem ser evitados”, finaliza Tânia Strabelli.

Infográfico: Zoio
Infográfico: Zoio

 

Relato de sofrimento

As dores sentidas após o término de uma maratona em 2014 ou de uma picada de escorpião, na infância, soam leves para Virgínia Laura Bernardi, de 38 anos, quando se lembra dos últimos dias, quando engrossou a estatística dos pacientes com dengue. “Pensei que ia morrer, nunca senti algo assim, é muito pior do que imaginava”, diz a moradora da Zona Oeste de São Paulo. Fortíssimas dores de cabeça e no corpo, vômitos e fraqueza extrema foram alguns dos sintomas.

Ainda em recuperação, a paciente relata o que sentiu e ressalta a necessidade de prevenção contra a doença. “Quando fui buscar os filhos na escola, de repente comecei a sentir fortes dores nas pernas e nas costas. Em seguida, tive febre alta e desconfiei que era dengue. Deitei no sofá e, com forte mal estar, não consegui levantar mais. Fui levada para o hospital, onde o diagnóstico se confirmou”, afirma Virgínia, que falou também sobre como é a recuperação.

“Tive de ficar em repouso, não posso tomar vários remédios, porque dificulta a recuperação. As dores são muito fortes e, mesmo com os analgésicos permitidos, não passam. Além de beber muito líquido, [é preciso] prestar atenção para ver se não há nenhum sintoma da dengue hemorrágica, como sangramentos”, completa.

Compartilhe:

Dúvidas?
Envie sua pergunta para o

RESPONDE

acesse

Notícias Relacionadas: