Diabetes é principal fator de risco para morte por doença cardiovascular, aponta estudo

17 de outubro - 2022
Por: Juliana Fontoura

Por outro lado, queda no índice de tabagismo ajudou a prevenir mortes por essas doenças no Brasil entre 2005 e 2017

As doenças cardiovasculares (como infarto e Acidente Vascular Cerebral) representam a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Ainda que tenha havido queda no número de óbitos (de 21,42%) por essas doenças por aqui entre 2005 e 2017 – atrelada à redução do tabagismo –, o diabetes aparece como ponto de preocupação: esse parece ser o principal fator de risco para morte por doenças cardiovasculares no país. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores da USP e da Unifesp, publicado na revista PLOS One.

De acordo com a pesquisa, que avaliou a associação de fatores de risco com a mortalidade por doença cardiovascular no Brasil, o aumento de casos de diabetes levou a cerca de 5 mil óbitos por problemas no coração ou nos vasos sanguíneos entre 2005 e 2017. Já a redução no tabagismo foi responsável por prevenir ou adiar quase 20.000 mortes por essas doenças no mesmo período.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores avaliaram dados de 26 estados brasileiros, com números do Global Burden of Diseases (GBD) e de diferentes fontes oficiais do país – como o Ministério do Desenvolvimento Social, o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Direta ou indiretamente, todos os números têm como fonte o governo brasileiro. O objetivo foi analisar por modelos estatísticos como fatores de risco modificáveis impactam no número de mortes por doença cardiovascular no país.

Impacto do diabetes

Um dos principais achados foi justamente que o diabetes se mostrou mais associado às mortes por doença cardiovascular do que qualquer um dos outros fatores analisados (obesidade, tabagismo, pressão alta e dislipidemia/colesterol elevado). “A associação entre um estado ter mais hiperglicemia e ter mais mortes por doenças cardiovasculares foi cinco a dez vezes maior em comparação com os outros fatores de risco”, explica Renato Gaspar, pós-doutorando no Laboratório de Biologia Vascular do Instituto do Coração (InCor) e um dos autores do estudo.

Mesmo quando os pesquisadores colocaram fatores socioeconômicos na conta, a associação entre hiperglicemia e morte por doença cardiovascular se manteve, o que não ocorreu com outros fatores de risco. Isso significa que, mesmo no caso de populações com renda mais alta e maior acesso à saúde, o diabetes se manteve como um fator de risco importante para morte por doença cardiovascular.

O estudo também revelou que a associação se mostrou duradoura, sobretudo para mulheres. Segundo o pesquisador, as mortes por doença cardiovascular que acontecem hoje provavelmente têm relação com a prevalência de diabetes (possivelmente atrelada a outros fatores também) há dez anos no caso delas, contra oito para os homens.

Medidas de prevenção

Diante do que indica a pesquisa, Gaspar ressalta a importância da discussão e criação de estratégias para alertar sobre o consumo de açúcar e prevenir o diabetes. No longo prazo, ele cita ações de educação nutricional, sobretudo para crianças e adolescentes.

Já a curto prazo, a inclusão de avisos em alimentos com açúcar adicionado (em outubro deste ano, entram em vigor novas regras de rotulagem que incluem o destaque a esse tipo de informação) e, como possibilidade, a taxação desses produtos para desincentivar a indústria a adicionar açúcar. “Além disso, aumentar as questões básicas de saúde. Acesso à atenção primária, sobretudo”, ressalta Gaspar. “O Brasil é um país que, apesar de ser muito bem-sucedido em relação ao SUS e à Estratégia de Saúde da Família, ainda tem uma medicina que não é muito preventiva.”

(Imagem: Shutterstock)

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