Dieta low carb é segura, mas não para todos
Por Eli Pereira
A dieta low carb tem ganhado cada vez mais adeptos, atraídos pela perda de peso rápida. De fato, se bem feita, a dieta é segura e pode proporcionar um emagrecimento saudável, mas deslizes pequenos na condução dela podem colocar dois órgãos essenciais em risco: o fígado e os rins. O acompanhamento nutricional, portanto, se mostra fundamental para seguir corretamente a dieta, que prioriza alimentos in natura ou “comida de verdade”, como costuma ser ressaltado por seus adeptos.
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O especialista em Nutrição Clínica, Gilcélio Gonçalves de Almeida, explica que uma alimentação normal é dividida em carboidratos, proteínas e lipídios. Os carboidratos representam de 50% a 70% das calorias diárias, os lipídios ficam entre 25% e 30%, enquanto a proteína gira entre 12% e 15%. Na dieta low carb, a quantidade de carboidratos é reduzida e varia entre 15% e 30%, dependendo do objetivo da pessoa.
Diferentemente das dietas da proteína ou Atkins, a low carb bem-feita não retira totalmente os carboidratos e, por isso, não provoca tantos efeitos colaterais no início. A dieta da proteína, por exemplo, corta totalmente o carboidrato e faz o corpo entrar em cetose, o que, com o passar do tempo, é nocivo aos rins e pode, inclusive, provocar gordura no fígado. E é justamente esse erro que se deve evitar ao fazer a low carb, segundo nutricionistas.
Para entender melhor, Almeida explica que a principal fonte de energia do corpo é o carboidrato. Quando se tira completamente essa substância, o corpo começa a usar os lipídios (gorduras) ou proteínas para produzir energia, fazendo o organismo fabricar corpos cetônicos. “O problema é que isso é tóxico. Vai dar dor de cabeça, tontura, náuseas, insônia e deixar a pessoa irritada”, explica.
Ana Cláudia Mariano, professora do curso de nutrição do Centro Universitário Celso Lisboa, explica que qualquer dieta para perda de peso vai levar a um aumento de corpos cetônicos, mas que isso acontece em maior quantidade na low carb.
“Não é o ideal. É uma situação de estresse ao organismo, pois ele vai usar os corpos cetônicos como fonte de energia. Não é algo fisiológico”, destaca. “Para perder peso, porém, temos de usar lipídios como fonte de energia, e a low carb acaba usando essa gordura mais intensamente”, explica ela, sobre o emagrecimento mais rápido.
Almeida diz que é fundamental fazer a dieta com o acompanhamento de um profissional, seja ele nutricionista ou endocrinologista. Assim, a quantidade de carboidrato será dosada adequadamente de acordo com as necessidades diárias, evitando então a presenças de sintomas desagradáveis e perigosos em longo prazo.
“Se há privação por um longo tempo, o corpo se torna um especialista em absorção de carboidratos assim que voltamos a consumi-los, o que provoca um efeito sanfona”, alerta.
Para ter uma ideia, uma pessoa média com necessidade de duas mil calorias por dia pode ingerir diariamente uma quantidade de carboidratos equivalente a dois pães franceses, considerando o valor mínimo de 15% presente na dieta.
“Só que a gente distribui essa quantidade de carboidrato em todas as refeições do dia, para manter a massa magra, já que o carboidrato é um preservador da proteína muscular”, explica Almeida. A quantidade ideal de carboidrato para cada pessoa é avaliada pelo nutricionista, e pode variar de acordo com o metabolismo.
Quem não pode fazer
Crianças e adolescentes devem passar longe da low carb, alertam os especialistas. A proibição se dá por serem fases de crescimento, nas quais não deve haver nenhuma dieta restritiva, pois poderá prejudicar o crescimento. “Se o adolescente está acima do peso, vamos mudar seus hábitos alimentares. Conforme ele vai crescendo, vai mantendo o peso”, explica Ana Cláudia.
Se o adolescente tiver algum tipo específico de doença, como a epilepsia, aí sim essa dieta pode ser recomendada. “Sabemos que o carboidrato aumenta a frequência de convulsões, mas se não for por essa razão específica, não recomendamos a low carb, pois ele pode ter o crescimento e desenvolvimento hormonal comprometido”, detalha Almeida.
Grávidas também não devem recorrer a essa dieta, recomenda o especialista do CFN. “Não se pode fazer redução de peso em gestantes. Você controla o peso para não aumentar muito e não ter outros problemas de saúde, mas não se pode fazer grávida perder peso. As necessidades do corpo são todas alteradas, e são específicas”, orienta Almeida. “Depois do parto, pode voltar a fazer”, diz.
Idosos também fazem parte dos que devem tomar cuidado com a dieta que prioriza a baixa ingestão de carboidratos. A maior preocupação dos especialistas em nutrição é que, naturalmente, há uma perda de massa magra nessa fase, e se a dieta não for bem planejada e executada, pode agravar esse quadro.
“A perda de massa magra compromete a resposta do organismo a qualquer agente infeccioso, e aí uma pequena gripe ou um pequeno resfriado podem levar a uma pneumonia e até mesmo à morte”, alerta o especialista.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo