Doação de leite materno: um ato que salva vidas
Paula Rosa
O Ministério da Saúde lançou na quarta-feira, 20 de maio, uma campanha para estimular a doação de leite materno em todo país. Com o tema “Seja doadora de leite materno e faça a diferença na vida de muitas crianças”, a ação pretende sensibilizar novas doadoras e aumentar em 15% o volume de leite materno coletado e distribuído para recém-nascidos, especialmente os prematuros.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e prolongado até os dois anos. Isso porque o leite materno tem 150 substâncias diferentes e já vem com todas as vitaminas e proteínas necessárias para que a criança não fique doente. O alimento protege o bebê de infecções, diarreias e alergias, e há evidências que reduz a chance de mortalidade infantil e evita a obesidade, diabetes e hipertensão ao longo da vida.
“Grande parte da defesa do bebê se desenvolve após o nascimento e muito da defesa imunológica passa da mãe para a criança”, afirma Estela Azeka, cardiopediatra do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Além de incontáveis benefícios para o bebê, amamentar também impacta diretamente na saúde da mulher no pós-parto, pois ajuda a recuperar o tamanho original do útero, reduzindo os riscos de hemorragia e anemia. Há evidências de que as chances de adquirir diabetes ou de desenvolver câncer de mama e de ovário ainda diminuem com a amamentação. Também ajuda a perder os quilos ganhos durante a gestação.
Apesar da consciência do valor do leite materno, nem todas as mães brasileiras possuem o hábito de doar. Dados do Ministério da Saúde indicam que, de janeiro a dezembro de 2014, foram coletados em todo o Brasil 184 mil litros de leite materno, beneficiando 178 mil recém-nascidos. Mas esse volume de cerca de 1 litro, em média, para cada recém-nascido só atende de 55% a 60% da real demanda no país. Daí a importância da nova campanha, que pretende sensibilizar a doação para salvar a vida de bebês que não podem ser amamentados pelas próprias mães.
“Queremos aumentar em 15% o volume da amamentação. Doar leite e ajudar a alimentar outros bebês é um ato de amor ainda maior, que ajuda a salvar vidas”, enfatizou a ministra interina da Saúde, Ana Paula Soter, no lançamento da campanha.
O Brasil tem hoje a maior e mais completa rede de leite materno do mundo. São 215 bancos de leite e 98 postos de doação espalhados em todos os Estados brasileiros. Toda mulher que esteja amamentando pode doar leite materno e, quanto mais doar, mais leite será produzido, como ressalta a cardiopediatra do InCor, Estela Azeka.
“Se a mãe faz a sucção e consegue retirar o leite de forma correta, estimula a produção e, como diz na linguagem popular, ajuda a não secar”, observa a médica.
Toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite humano, basta estar saudável e não estar tomando nenhum medicamento que interfira na amamentação. Antes da coleta de leite materno, a doadora deve fazer uma higiene pessoal com água, cobrindo os cabelos com lenço ou touca, e limpando as mamas com uma toalha limpa.
“Quando a mulher amamenta, ela cumpre um papel social e precisa de todo apoio da sociedade”, disse a atriz Maria Paula, Embaixadora da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, que estava presente no lançamento da campanha.
O leite materno deve ser coletado em local limpo e tranquilo e pode ficar em um frasco de vidro no freezer ou no congelador da geladeira por até 10 dias. Nesse período, deverá ser transportado ao banco de leite humano mais próximo da sua casa.
Se você está amamentado e quer doar, procure o banco de leite humano mais próximo. Confira aqui a lista completa de todos os bancos de leite.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo