Doenças odontológicas são mais perigosas para cardiopatas
Não é um exagero aquela máxima que diz “a saúde começa pela boca”. Começa de fato, pois uma infecção nessa região é um risco para qualquer tipo de pessoa – o que não é raro acontecer, já que a cavidade bucal é um ambiente ácido e potencialmente corrosivo, capaz de conter mais de duzentas espécies de bactérias (nocivas e não nocivas).
As bactérias nocivas que se alojam em áreas infectadas, em doenças periodontais, dentes quebrados ou nas pontas das raízes, podem se deslocar pela corrente sanguínea e se alojar em órgãos vitais como coração, pulmão, e até no cérebro. Esse pode parecer um quadro extremo – e de fato é – mas existe um grupo de pacientes que precisa mesmo estar sempre alerta para os cuidados bucais.
Pessoas com histórico de doença cardíaca, principalmente os que possuem válvulas e marca-passo, apresentam riscos maiores de sofrer todos esses efeitos das infecções. Isso acontece porque os cardiopatas podem ter, na área da boca, uma retenção natural para a proliferação de bactérias (e vir a complicar bastante seu estado de saúde geral).
É um quadro tão propício de acontecer que a organização norte-americana American Heart Association indica que pacientes com alto risco de doença aterosclerótica se submetam a um exame periodontal completo regularmente – além de acompanhamento multiprofissional desde sua condição bucal até a medicação utilizada.
Atendimento específico
No caso de uma pessoa portadora de doença cardíaca, antes de fazer qualquer planejamento, é preciso informar ao dentista sobre essa condição. Entre outras implicações, existem protocolos com antibióticos específicos com os quais esses pacientes precisam ser tratados.
São questões importantes a lidar no caso dos cardiopatas – como sobre a endocardite bacteriana, que pode ser causada por bactérias da cavidade oral que entram na circulação sanguínea após procedimentos odontológicos invasivos.
“Pacientes cardiopatas, inclusive, devem ser avaliados por um cardiologista antes de qualquer procedimento odontológico. É ele que fará o pedido de exames e autorizará uma possível cirurgia de acordo com o quadro clínico do paciente”, explica o cirurgião especialista Laércio Vasconcelos, de São Paulo.
Vasconcelos explica ainda que cada caso é específico e deve ser cercado dos cuidados necessários. “No acompanhamento médico dos cardiopatas, consideramos tudo, desde uma anestesista para sedação até monitoramento durante o procedimento, porque isso diminui muito os riscos para esses pacientes”, completa.
Mesmo os consultórios odontológicos precisam ser adequados a uma pessoa com histórico de doença cardíaca – envolvendo a presença de equipamentos e medicamentos de emergência para questões de segurança.
E existem ainda os pacientes de alto risco. Para esses, muitas vezes, os cardiologistas e dentistas optam por um atendimento em ambiente hospitalar – juntamente com um médico anestesista acompanhando, assim como uma estrutura hospitalar apropriada, garantindo resultado mais seguro a quem precisa de saúde bucal e coração preservado.
Cardiopata ou não, a saúde bucal é essencial, seja para evitar uma periodontite – ligada à aterosclerose – ou lesões em dentes e gengivas, que são portas de entradas naturais para bactérias (habituais e úteis na boca, mas que se tornam patogênicas em outros locais do corpo) na circulação sanguínea.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo