Dois tipos de droga, inúmeros efeitos
O uso de drogas ilícitas é sempre alvo de campanhas e muitos esforços, principalmente da classe médica e dos governos, para informar a população sobre riscos e consequências. Recentemente, estudos científicos fizeram soar alertas sobre duas situações em franco crescimento.
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Liderado por uma equipe de pesquisadores da Philadelphia, nos Estados Unidos, o primeiro deles colocou em dúvida o auxílio efetivo dos acompanhamentos psicológicos de drogados (especialmente viciados em heroína). Segundo o estudo, apesar de quase todas as instituições de apoio e tratamento recomendarem sessões de terapia para usuários de drogas, seu efeito parece ser muito discutível.
A pesquisa levou em conta outras pesquisas: de 22 estudos recentes, em diferentes partes do mundo, mais da metade indicam que tratamentos psicológicos têm impacto menor nos viciados em heroína, por exemplo. A “força” desse tipo de droga é tão avassaladora que as sessões de terapia se mostram pouco efetivas.
O problema com os opioides (substâncias derivadas do ópio) nunca foi tão grave. As taxas de uso desse tipo de droga, incluindo overdoses fatais, aumentaram muito na última década.
Um estudo de 2015 estimou que, só nos Estados Unidos, mais de 900 mil pessoas usaram heroína no ano anterior, enquanto 4,3 milhões de indivíduos usaram analgésicos à base de opioides para usos não-médicos.
Vale lembrar outro dado sobre os opióides: a taxa de mortalidade entre seus usuários é 14 vezes mais alta que a da população em geral.
Outros estudos relacionados às drogas que se mostraram muito preocupantes dizem respeito à maconha. Enquanto a legalização segue em discussão pela sociedade, a ciência dá sua participação para ser levada em conta nessa pauta.
O primeiro estudo foi organizado por duas universidades em Nova York (EUA), uma divisão da Columbia University e outra da CUNY, City University of New York. Os pesquisadores concluíram que adultos que usam maconha têm cinco vezes mais chance de desenvolver também o alcoolismo.
Quando o indivíduo já usa ambos, álcool e maconha, a tendência de o problema persistir ao longo da vida e dificultar qualquer tratamento também cresce. “Nossos resultados mostraram que o uso da cannabis, associada ao álcool, aumenta potencialmente a vulnerabilidade e o desenvolvimento do alcoolismo mesmo em quem nunca teve esse histórico”, diz Renne Goodwin, da equipe da Columbia University. O estudo observou mais de 27 mil adultos cadastrados em um programa de recuperação do governo norte-americano.
A maconha também teve seus efeitos observados pelo centro de saúde mental da Universidade do Texas. Um grupo de estudiosos afirmou que, após analisar 42 usuários recorrentes de maconha, a conclusão é que a idade em que se inicia o consumo pode dizer muito sobre os efeitos de longo prazo no cérebro.
A pesquisa mostrou que os participantes do estudo que começaram a usar maconha com a idade de 16 anos ou menos demonstraram variações que indicam perda de desenvolvimento no córtex pré-frontal, a parte do cérebro responsável pelo julgamento, o raciocínio e o pensamento complexo.
Já os indivíduos que começaram a usar maconha após os 16 anos de idade mostraram o contrário, sinais de acelerado envelhecimento cerebral.
“A ciência mostra que as mudanças causadas no cérebro durante a adolescência são complexas”, diz a médica Francesca Filbey, pesquisadora-chefe do estudo. “Não apenas a idade de início do uso tem grande impacto nas mudanças cerebrais, mas a quantidade utilizada também – podendo influenciar na maturação geral do cérebro”, finaliza.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo