Em busca de saúde, brasileiro fuma cada vez menos

10 de julho - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Paula Rosa

O cigarro já não mais é tão atrativo para os brasileiros como era há uma década. A nova realidade é perceptível no dia-a-dia e foi traduzida em números por um estudo Vigitel, divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde.

Nos últimos nove anos, observa-se uma queda de 30,7% no percentual de pessoas que se declaram fumantes no país. O número absoluto é maior entre os homens: 12,8% dizem ter o hábito de fumar contra 9% das mulheres.

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A redução no consumo do cigarro é resultado de um conjunto de medidas adotadas, ainda na década de 90, para inibir o uso do tabaco no país, como a proibição da propaganda de cigarros; alerta sobre riscos à saúde nas embalagens do produto; aumento frequente do preço do cigarro; a lei antifumo, que proíbe o consumo de cigarros em ambientes coletivos, públicos ou privados; e, por fim, a oferta crescente de tratamento para quem quer deixar de fumar.

A ação enérgica contra o cigarro tem um motivo: o tabagismo é um fator importante para o desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) – como câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares.

O uso do tabaco ainda continua sendo a principal causa de mortes evitáveis no país. Jaqueline Scholz Issa, coordenadora da área de cardiologia do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) explica que, além de câncer, a presença do cigarro, aliada à situação de risco a que somos expostos diariamente, aumenta as chances do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

“O uso do cigarro está relacionado com mais de 40 doenças e tipos de câncer. Além disso, aliado ao próprio envelhecimento natural, potencializa o aparecimento de diabetes, pressão alta e outras doenças cardiovasculares”, afirma a especialista.

O estudo do Ministério da Saúde também aponta diminuição do uso de cigarro entre os adolescentes. O ato de fumar se mantém maior na faixa etária de 45 a 54 anos (13,2%) e menor entre os jovens de 18 a 24 anos (7,8%).

Apesar da visível queda da iniciação ao cigarro na adolescência, Jaqueline Issa alerta para o aumento do uso de propostas mais sedutoras entre esse público, como o arguile e o cigarro eletrônico.

“São duas formas mascaradas de iniciação à nicotina e ao vício, que fazem tanto mal à saúde quanto o cigarro. Embora o cigarro eletrônico não produza monóxido de carbono, libera mais nicotina que o normal. Já o arguile, como não tem filtro, é capaz de aumentar de dez a trinta vezes a concentração do monóxido de carbono. Inibir essa iniciação é o desafio atual”, alertou.

Com tantos incentivos e proibições, imagina-se que parar de fumar seja uma decisão fácil de ser tomada. Mas, na prática, não é tão simples. Fumante desde a adolescência, o analista de inteligência de marketing João Paulo Kuramoto, hoje com 29 anos, conta que já tentou parar de fumar várias vezes, mas nunca conseguiu largar completamente o vício.

“Já usei medicamento, hipnose e, desde junho, venho adotando uma tabela onde anoto quantos cigarros fumei durante o dia e o que me fez fumar. Essa consciência tem me ajudado. Eu entrava no carro, por exemplo, e já acendia um cigarro e hoje em dia já não faço mais isso, fecho o vidro, coloco uma balinha na boca. No trabalho, parei com as fumadas durante o expediente. Fumava 20 cigarros por dia e, hoje, só fumo 8”, comemora João Paulo.

Para a servidora pública Giovana Kotlinski Giulianis, de 39 anos, que começou a fumar com 15 anos e parou com o vício há quase um ano, nem as campanhas publicitárias e nem o aumento do preço do cigarro impactaram na sua decisão.

“Eu vi que não estava me fazendo bem e decidi parar. Foi uma decisão estritamente pessoal. No início foi bem difícil, mas adotei hábitos saudáveis, entrei na academia, e, com o tempo, fui percebendo mudanças valiosas na minha pele, ânimo, fôlego. Isso vai estimulando”, relata Giovana.

Para quem não tem essa força de vontade, a coordenadora da área de cardiologia do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor, Jaqueline Scholz Issa, enfatiza que atualmente existem várias alternativas, métodos e programas que apoiam quem está lutando contra o vício.

“Não é todo mundo que consegue parar de fumar apenas com a força de vontade, porque existem graus diversos de dependência. Daí o acompanhamento médico é importante. Assim como vacinar contra doenças infecciosas, não começar a fumar é a coisa mais valiosa e importante que alguém pode fazer pela sua própria saúde”, finaliza a especialista.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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