Energético e álcool: uma mistura perigosa
O consumo de bebidas alcoólicas, como vodca e whisky, misturados com energético, é comum entre os jovens.
A combinação, à primeira vista, pode parecer boa, já que o energético, além de mascarar o sabor das outras bebidas, dá mais energia para curtir a festa. Mas não é bem isso o que acontece.
Recente pesquisa da Universidade de Victoria, no Canadá, aponta que essa combinação aumenta a possibilidade de acidentes e brigas, uma vez que a cafeína presente nos energéticos faz com que as pessoas se sintam mais despertos e propensos a beber mais.
Os cientistas responsáveis pelo estudo identificaram correlação entre consumo de álcool e energéticos e aumento nos riscos de acidentes e brigas em 10 das 13 pesquisas publicadas entre 1981 e 2016 que foram analisadas.
“A cafeína e a taurina, estimulantes presentes nos energéticos, disfarçam os efeitos do álcool, ou seja, ocultam a sensação depressiva do álcool. Esse efeito aumenta o risco de intoxicação e inclusive de morte por excesso de álcool, já que a pessoa não tem noção do quanto já bebeu”, alerta Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Núcleo de Álcool e Drogas do Hospital Sírio-Libanês, presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), além de psiquiatra e especialista em dependência química.
Para se ter uma ideia, uma lata de 250 ml de energético contém 80 mg de cafeína, quase três vezes mais que uma lata de coca-cola e o equivalente a uma caneca de café.
Dados do Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas, realizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas em 2010 com universitários das 27 capitais brasileiras, mostraram que 74% dos entrevistados relataram já ter consumido bebidas energéticas juntamente com álcool pelo menos uma vez na vida.
Entre aqueles que admitiram o uso combinado de energéticos e bebidas alcoólicas, 90% relataram o consumo nos últimos 30 dias, dos quais 5% consumiram esta combinação diariamente ou em uma frequência de 2 a 3 vezes por semana.
“Essa prática, mais frequente entre os jovens, vem sendo foco de pesquisas devido à sua associação com o aumento dos riscos à saúde e prejuízos acadêmicos”, afirma Andrade.
Inicialmente, o álcool causa euforia e desinibição. Com a ingestão de mais doses, a bebida atua como depressor do sistema nervoso central (SNC), e compromete funções vitais do corpo como: controle da temperatura, respiração e batimentos cardíacos.
O especialista destaca ainda que os jovens estão mais expostos aos riscos da combinação álcool e energéticos. Além disso, os riscos que essa mistura causa à saúde são potencializados em populações mais vulneráveis, como adolescentes, mulheres grávidas, idosos, pessoas com estado de saúde geral comprometido e pessoas com sensibilidade à cafeína.
O efeito depressor do álcool é mascarado pelo energético, podendo colocar a pessoa em risco.
“O indivíduo pode beber mais do que pretendia. Além de aumentar a probabilidade de intoxicação, ocorre um aumento do comportamento de risco, como dirigir embriagado, ter relação sexual sem preservativo ou consentimento, violência e utilização de outras drogas”, destaca o especialista.
Além da combinação não ser recomendada, o consumo consciente de bebidas alcoólicas é importante tanto para o bem-estar como para a saúde.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), não há níveis seguros para o consumo de álcool, podendo acarretar riscos à saúde se a pessoa beber mais de duas doses por dia e mais do que cinco vezes na semana.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo