Sim, é mesmo uma situação constrangedora perceber que os pequenos floquinhos brancos estão espalhados pela roupa bem na hora daquela reunião de trabalho ou do encontro com amigos. Mas, apesar de causar incômodos, a caspa é algo muito recorrente: acredita-se que ela chegue a atingir quase metade da população mundial – e que, como a calvície, por exemplo, em algum ponto da vida pode ocorrer a todo mundo.

Seus sintomas, os tais flocos secos e brancos que surgem no couro cabeludo e no cabelo, são muito fáceis de identificar. A causa exata, porém, varia muito; diversos fatores podem contribuir para o surgimento do problema.

Com a ajuda do doutor Marcelo Arnone, dermatologista do Hospital das Clínicas, falamos abaixo sobre essa condição – e como controlá-la.

Afinal, o que é a caspa?

“A dermatite seborreica, também conhecida por caspa (a manifestação mais comum), é uma condição da pele que afeta principalmente o couro cabeludo – e, agravada, também pode atingir as áreas ao redor dos cabelos, como rosto, pescoço e até o peito e as costas”, explica Arnone. Esse problema deixa as áreas afetadas, que são mais ricas em glândulas sebáceas, mais gordurosas, inflamadas e cobertas com flocos de pele seca. A dermatite seborreica é uma condição que pede tratamentos recorrentes para desaparecer, daí a necessidade de consultar um dermatologista e entender as particularidades de cada caso para ter o enfoque mais correto.

Como ela se forma? Questões emocionais podem desencadeá-la? E a alimentação?

Existe uma pré-disposição a ter pele oleosa e, portanto, a ter caspa. Nem todos que têm essa predisposição manifestam o problema, mas a pele e o couro cabeludo oleosos com certeza criam ambiente para a dermatite seborreica.

“A interferência do estresse acontece, sim. É um fator de piora, apesar de os estudos na área não serem claros sobre o motivo – mas acredita-se que as alterações imunológicas do estresse podem desencadear essa condição inflamatória, por exemplo”, explica o dermatologista.

Já a alimentação não parece, até o momento, segundo as pesquisas, interferir na questão da caspa. Não há conclusões de que uma dieta de comidas mais gordurosas ou a retirada de certos alimentos, como o chocolate, tenham papel significativo no controle do problema.

Mas um fator com certeza influi: a oclusão do couro cabeludo. Usar muito chapéu ou boné, por exemplo, bloqueando a ventilação e o contato do sol com a cabeça. Pessoas com muito cabelo, em cortes “armados”, tendem a sofrer mais com a possibilidade de caspa, enquanto usar o cabelo mais solto e mais curto ajuda na prevenção e no controle.

Homens e mulheres têm caspa nos mesmos níveis?

“São afetados igualmente, sim. O que acontece é que as mulheres costumam dedicar mais cuidados com os cabelos – então, quando o problema aparece, elas procuram mais imediatamente o tratamento em consultório”, diz Arnone. A influência hormonal, que pode acontecer, também afeta mais as mulheres e as fazem buscar logo um dermatologista.

Qual o tratamento inicial?

O tratamento inicial é, na verdade, procurar um médico e identificar os fatores de piora – saber quais produtos o paciente utiliza regularmente, se existe a oclusão, a frequência de lavagem. Muitas mulheres que fazem tratamentos estéticos nos cabelos, por exemplo, tendem a lavar menos os fios; lavar com maior frequência já pode ajudar.

Os xampus anticaspa resolvem?

Os xampus entram em cena quando as lavagens e outras mudanças de hábito não resolvem. Existem os comerciais, que já funcionam em parte dos casos, e os clínicos, vendidos com receita e que são um pouco mais caros. Tudo depende da linha de prescrição que o médico precisará adotar. Pode-se começar experimentando os de mercado, mais em conta, e só partir para os demais se não houver melhora. Não há problema em usar sempre esses xampus, mas como eles podem ressecar os fios (uma reclamação constante das mulheres), o uso pode ser intercalado com produtos sem ação anticaspa. “Adotar os condicionadores nas pontas também pode ajudar – mas eles não devem ser aplicados desde o couro cabeludo, e sim ao longo dos fios”, lembra o médico.

Outros tratamentos caseiros são indicados?

É muito difícil conseguir um tratamento caseiro que tenha a mesma eficácia de um xampu, por meio do qual os princípios penetram de fato no couro cabeludo e provocam a ação desejada. O acesso, hoje, também é mais simples a esses produtos, o que facilita muito.

Qual a periodicidade ideal de lavagem dos cabelos?

Vai de caso a caso: as pessoas com oleosidade excessiva precisam de mais lavagens, claro. Tem gente que lava o cabelo pela manhã e à tarde o cabelo já está oleoso – necessitando lavagem diária. Outros casos podem espaçar mais. No consultório, o dermatologista examina e fricciona o couro cabeludo para entender o que seria melhor indicado para cada pessoa.

Ela tem uma cura definitiva?

Não tem. “A dermatite seborreica é uma inflamação crônica que tem períodos de melhora e piora conforme a rotina do paciente. Ela sempre pode voltar – e o mais comum é que volte. Mas os tratamentos podem sempre ajudar e a condição fica bastante controlada”, finaliza Marcelo Arnone.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo