Enxaqueca começa a ser compreendida
Uma pesquisadora da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, parece ter encontrado um motivo para explicar porque a enxaqueca é mais comum nas mulheres.
De acordo com o estudo liderado por Emily Galloway e apresentado durante o Encontro Anual de Biologia Experimental de San Diego, a alta taxa de enxaquecas entre as mulheres decorre da forma como as flutuações do hormônio estrogênio afetam as células do cérebro.
O estrogênio é relacionado ao controle da ovulação e ao desenvolvimento de características tidas como femininas. Seu desenvolvimento tem início na adolescência – e é sua ausência que costuma provocar sintomas de calor excessivo em mulheres durante a menopausa.
Resposta menor em mulheres
Talvez até pior do que a incidência seja o fato de as mulheres, na maior parte das vezes, não conseguirem tirar proveito dos tratamentos atuais contra a doença.
O estudo de Galloway analisou a quantidade de NHE1 (substância responsável pela troca de sódio entre as células cerebrais) em ratos machos e fêmeas. Já se sabia que quando o NHE1 não está presente em quantidade suficiente (ou tem problemas de funcionamento), ocorre maior incidência de dores de cabeça, evoluindo principalmente para casos de enxaquecas.
A cientista observou que o cérebro dos machos tinha quatro vezes mais NHE1 do que o das fêmeas. Além disso, verificou que, nas fêmeas, quanto maior o índice de estrogênio, menor era a quantidade de NHE1.
A conclusão foi que, no cenário observado, as fêmeas tinham chance muito maior de desenvolver enxaqueca e não responderiam aos tratamentos convencionais devido à alta taxa de estrogênio.
Os números no Brasil
De acordo com o último Protocolo Nacional divulgado pela Sociedade Brasileira de Cefaleia, cerca de 16% dos brasileiros têm enxaqueca. E a incidência entre os homens e mulheres é mesmo muito distinta: 22% na população feminina e 9% na população masculina. Nos Estados Unidos, três em cada quatro pacientes com enxaqueca são mulheres.
A doença, caracterizada como uma dor de cabeça pulsante (como se a cabeça latejasse), causa crises que duram de 4 a 72 horas. Um dos principais problemas da enxaqueca é ser altamente incapacitante, pois pode ser acompanhada de intolerância à luz ou ao som – e, em alguns casos, trazer também náuseas e vômitos.
A cada quatro pacientes, um costuma desenvolver um tipo mais agressivo de enxaqueca, que inclui a chamada aura, um distúrbio visual momentâneo que pode comprometer a visão do paciente.
Tratamentos possíveis
Como ainda não existe cura para a enxaqueca, o controle costuma ser paliativo, buscando aliviar a dor e o desconforto.
Como as mulheres sentem menor resposta à maioria dos medicamentos, a pesquisa de Emily Galloway – cujos testes serão estendidos em breve para humanos – é uma esperança de evolução nos tratamentos.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo